A 16 de Janeiro de 1969, Jan Palach, jovem estudante de Filosofia (n. 1948), imolou-se pelo fogo na Praça Venceslau, em Praga, vindo a falecer três dias depois, em acção de protesto contra a ocupação soviética. O seu funeral transformar-se-ia em enorme manifestação política. A 25 de Fevereiro do mesmo ano, outro jovem, Jan Jazíc, seguiria os passos de Palach.
REQUIEM POR JAN PALACH
Arde o coração de Praga.
Arde o corpo de Jan Palach.
Podemos dizer que o Rei Venceslau,
montado em seu cavalo,
também viu crescer o fogo
em que arde o coração de Praga.
João Huss, queimando o seu corpo,
também arde na Praça de Praga.
E os cavaleiros da Boémia,
o povo e os grão-Senhores,
os operários de Pilsen,
os poetas e cantores da Eslovóquia,
todos ardem nessa tarde e nessa praça.
Queimamos a coragem e o heroísmo,
queimamos a nossa infinita resistência.
Não é verdade, Soldado Schweik?
Eles vieram das estepes e disseram:
É proibido morrer pela Pátria,
é proibido resistir à opressão,
é proibido combater a ocupação.
É proibido amar os campos verdes do seu país.
É proibido amar o verde da esperança.
É proibido amar a Esperança
Estás proibido, Jan Palach!
És proibido, Jan Palach!
Estás proibido de existir, Jan Palach!
Estás proibido de morrer!
Eles vieram das estepes a disseram
todas estas palavras.
Mas também é verdade que disse um dia o Rei Venceslau,
montado em seu cavalo:
«Esta nossa terra será livre,
e nela crescerão livres
as virgens, as mães e os filhos.
E nela crescerão livres as flores.»
E das flores virão rosas,
rosas brancas, para cobrir a campa
de Jan Palach.
Arde o Coração de Praga,
arde o corpo de Jan Palach,
arde o corpo do Futuro.
E já cresce a Primavera!
José Valle de Figueiredo