Actualizado, como prometido, o texto relativo ao poeta e filósofo M. S. Lourenço. Aqui.
Morreu o poeta e filósofo M. S. Lourenço. Ver notícia no Público.
Excerto do artigo de Miguel Tamen no segundo volume de Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa.
Poeta, prosador, filósofo, de seu nome Manuel dos Santos Lourenço (Sintra, 13.5.1936 - ibid., 1.8.2009). «A carreira de M. S. Lourenço como escritor é inseparável da sua carreira como filósofo profissional. De facto, não apenas uma relativa indistinção de géneros é típica daquilo que escreveu (especialmente da prosa) como aos seus livros declaradamente de filosofia (Espontaneidade da Razão, 1986; Teoria Clássica da Dedução, 1991; A Cultura da Subtileza, 1995), à tradução das duas obras principais de Ludwig Wittgenstein e a artigos sobre teoria da literatura não são de todo estranhas preocupações literárias. (…)
Numa primeira fase da sua carreira, M. S. Lourenço publicou três livros (O Desequilibrista, 1960; O Doge, 1962; Ode a Upsala, 1964, [os dois últimos pretensamente escritos pelo arquiduque Alexis Christian von Gribskov]) fortemente marcados por uma indistinção de géneros e pela importância dada ao método da associação livre tal como teorizado pela primeira geração surrealista (…).
Numa segunda fase, M. S. Lourenço publicou três livros declaradamente de poesia (Arte Combinatória, 1971; Wytham Abbey, 1974; Pássaro Paradípsico, 1979) que, sobretudo os dois primeiros, reflectem a sua passagem por Oxford e a asua familiarização com tradições poéticas de língua inglesa (…). Processos literários como a colagem, a alusão, a tradução e a citação, frequentemente desfiguradas por transformações de natureza irónica, são típicos desta segunda fase.
Numa terceira fase, a produção literária de M. S. Lourenço é marcada pela redescoberta da poesia romântica tardia e simbolista (a partir de Baudelaire) e ainda pela presença, cada vez mais insistente, de um cânone retirado da literatura portuguesa, em que ocupam papel de destaque Cesário Verde e Eça de Queirós. Com esta redescoberta assiste-se progressivamente à emergência de preocupações com aquilo a que se poderia chamar uma versão acerca da origem do significado, inseparável, em M. S. Lourenço, de uma teoria acerca do substrato musical e, de facto, sonoro de todos os conteúdos semânticos. Desta terceira fase são característicos o livro de poesia Nada Brahma (1991) e, sobretudo, a colectânea de ensaios curtos em prosa Os Degraus do Parnaso (1991), que retoma, a par da tradição ensaística curta de língua alemã, uma forma em última análise derivada dos «petits poèmes en prose» baudelairianos. Os Degraus do Parnaso (Prémio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus) é a este respeito um extraordinário marco da prosa contemporânea em Portugal (…).»