Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009

... o homem é simultaneamente um lobo ou um deus para o outro homem...

«A passividade e a servidão não vêm apenas do funcionamento dos nossos afectos mas da nossa relação com as demais realidades da natureza, particularmente com as que, por nos estarem mais perto e serem mais semelhantes, são simultaneamente as mais úteis ou as mais ameaçadoras: os outros homens. Como Hobbes (Carta dedicatória do Citoyen), Espinosa poderia dizer que o homem é simultaneamente um lobo ou um deus para o outro homem [Lagrée, 1995]. Se prefere pôr o acento na segunda formulação, não é por ignorar os malefícios de que os homens são capazes relativamente a seus semelhantes, é porque toda a sua filosofia é orientada para o dinamismo positivo da vida. Cada um de nós tem evidente necessidade dos outros para fazer face às necessidades elementares da vida [Espinosa, TTP, V], mas, mesmo satisfeitas estas, o outro homem, e mais particularmente o homem livre, é um auxiliar insubstituível para bem viver. A vida comum garante num quadro colectivo a utilidade comum e a segurança, mas mais ainda, ao favorecer a permutação de toda a espécie: troca de bens, de serviços, de pensamentos — a sociedade, e particularmente a sociedade democrática, dilata o campo perceptivo de cada um, estimula a imaginação, abre um campo mais vasto e mais livre aos avanços da razão e contrabalança as tendências obsessivas dos afectos passivos. Contra os aristocratas do pensamento, os defensores de um saber elitista e reservado, Espinosa defende a tese segundo a qual é levando em conta muitas ideias que se chega a ter posições razoáveis, que é confrontando livremente as opiniões, no respeito das leis e da segurança do Estado, que as opiniões extremas se anulam e que uma posição sensata emerge do debate. Assim, «nada é mais útil ao homem do que um homem a viver sob a conduta da razão» [E, IV, 35, sc. 1], mas também é na cidade que o homem livre tem maior possibilidade de se encontrar.»

Jacqueline Lagrée, «Espinosa (1632-1677): o caminho da liberdade e da bem-aventurança», História Crítica da Filosofia Moral e Política.

 
publicado por annualia às 15:23
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Quarta-feira, 23 de Setembro de 2009

A exaltação da liberdade

 

A exaltação da liberdade e de muitas virtudes republicanas ligadas a esta mesma liberdade tem origem naquilo a que chamamos a crise e a transição do século XIV para o século XV. Contudo, será falso pensar que, uma vez atingidos os seus objectivos (a defesa da liberdade contra a tirania dos Visconti, senhores de Milão), ela se esgotara. Este movimento produziu efeitos sobre toda a vida espiritual da cidade e do humanismo em geral, promovendo uma filosofia activa e social que encontramos tanto nos escritos políticos como nos escritos éticos e pedagógicos. Tal filosofia tem as suas raízes profundas na concepção romana da virtude. Esta não era já uma disposição inata da alma, mas um ponto de chegada para todos os que se comprometiam a um trabalho perseverante. Mas, mais importante ainda, ela não se considera apenas como um bem individual, mas como um degrau da acção social. Esta alta avaliação da virtude, nunca dissociada da posse dos studia humanitatis, encontra na pedagogia humanista um dos seus pontos culminantes, com Pier Paolo Vergerio (1370-1444). Esta exaltava o valor da cultura e, no interior desta, o da filosofia. Com efeito, as outras disciplinas são chamadas liberais, porque convêm aos homens livres, «mas a filosofia é liberal no sentido em que o seu estudo liberta os homens» [Garin, 1971, p. 94]. A sua conexão com a eloquência e a arte da persuasão confirma, por conseguinte, a dimensão sociopolítica em que é concebida.


Domenico Taranto, «O desabrochar do Humanismo italiano: vida activa ou vida contemplativa?», em História Crítica da Filosofia Moral e Política

publicado por annualia às 10:08
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Quarta-feira, 22 de Julho de 2009

Os hermeneutas do presidente

O poeta egípcio Mounir Saied Hanna foi preso em Maio e posteriormente multado em mais de 12 500 euros e condenado a três anos de prisão por ter escrito poemas interpretados como insultuosos para o presidente egípcio. O irmão de Mounir e a acção de uma ONG, The Arabic Network for Human Rights Information, fizeram com que a sentença fosse agora revista e reduzido para três meses o período de prisão.

Um dos poemas citados em tribunal é mais ou menos assim:

Brilha, brilha tu que nos iluminas a todos

Brilha, brilha tu que iluminas

Nada brilha como tu brilhas

Fazes o povo sentir-se confuso e perdido

Fazes o povo sentir-se feliz e perdido.

publicado por annualia às 15:43
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Sexta-feira, 3 de Julho de 2009

Prémio póstumo para José Afonso

O prémio Memorial LiberPress é atribuído desde o ano passado pela Asociacion LiberPress, com sede em Girona, Espanha, distinguindo a título póstumo uma personalidade que tenha lutado pela dignidade e os direitos humanos, e cujo percurso de vida possa servir de exemplo à sociedade. Ver notícia no Público.

 

publicado por annualia às 10:43
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Quinta-feira, 12 de Março de 2009

Dia Mundial contra a Cibercensura

(PNG)


A organização Reporters sans frontières declarou este dia 12 de Março como jornada de alerta contra os países (Arábia Saudita, Birmânia/Myanmar, China, Coreia do Norte, Cuba, Egipto, Irão, Uzbequistão, Síria, Tunísia, Turquemenistão, Vietname) «que transformaram a rede em intranet, impedindo os internautas de acederem às informações julgadas "indesejáveis". Todos estes países se salientam não só pela sua capacidade de censurar a informação em linha, mas também pela repressão quase sistemática dos internautas incómodos».

 

Relatório sobre os inimigos da internet aqui.
Lista de internautas dissidentes presos aqui.

publicado por annualia às 09:41
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