Anos 70 - Atravessar Fronteiras
Fundação Calouste Gulbenkian/
Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
de 9 de Outubro de 2009 a 3 de Janeiro de 2010
«Nesta exposição mostra-se a produção artística portuguesa da década de 70, uma época particularmente fecunda para a história da cultura e das artes visuais em Portugal, marcada por uma fortíssima carga política inspirada pela Revolução do 25 de Abril de 1974 e pela vivência dos primeiros anos de democracia. São apresentadas obras de cerca de 90 artistas portugueses que traduzem a assunção de uma ideologia de experimentação (estética, plástica, formal), uma enorme variedade de orientações (materiais e plásticas) e linguagens, desde as tradicionais pintura e escultura, até à performance, à instalação, bem como à consagração da fotografia e da imagem em movimento».
Documentação, fotografias, correspondência: provas da estreita relação que Alberto de Lacerda manteve com Vieira da Silva e Arpad Szenes.
Até 5 de Julho na Fundação Arpad Szenes/ Vieira da Silva, em Lisboa.
Alberto de Lacerda, perto e longe
Descobri a poesia de Alberto de Lacerda, e depois o próprio poeta, pela mão de Maria de Lourdes Cortez, sua amiga e cúmplice da memória moçambicana. Alberto de Lacerda tinha sido um dos membros do grupo que, em 1950, fundara a revista Távola Redonda, doqual se viria a afastar posteriormente, indo para Londres, onde passou a viver permanentemente (mais tarde, a partir de 1972, repartiria a sua vida entre a capital inglesa e Boston, onde ensinou na respectiva universidade, depois de ter leccionado em Austin e na Columbia University, em Nova Iorque).
A primeira fase da sua produção poética concretizou-se em livro a partir de 1955, com 77 Poems, e estendeu-se aos primeiros anos da década de 60 com a publicação de Palácio (1961) e Exílio (1963). Os poemas de Tauromagia, embora publicados nos anos 80, datam daquela mesma época, como muitos outros que permaneceram inéditos durante muito tempo. As Elegias de Londres (1987) foram escritas entre 1971 e 1985 e são já a uma manifestação diversa do seu universo poético.
A distância física, acrescida de tudo o que o separava do meio literário português, bem como o ritmo de publicação das suas obras, contribuiu para um certo desconhecimento da poesia de Alberto de Lacerda, que, entretanto, muitos percebiam ser das mais significativas da poesia portuguesa, na sua «intensidade imagética de poesia pura» (Fernando J. B. Martinho). E foi essa qualidade, ou essa aspiração, que desde o início me aproximou da obra de um dos poetas portugueses mais genuinamente líricos da língua portuguesa (disse-o também Eugénio Lisboa), justamente se integrando na tradição de um Camões, de cuja língua foi sempre fidelíssimo cultor.
De facto, em Alberto de Lacerda a matéria do poema (palavras, imagens, metáforas) constitui o meio expressivo de realizar uma osmose do sentido que, captado pela mente, permanece inexprimível: «Não há palavras que digam o mistério/ Das trevas e da luz em diagonal». Nessa medida, nas imagens da poesia de Alberto de Lacerda deparamos com o paradoxo de uma linguagem que não fala, é. Existência essa que se funda numa natureza translinguística – «Não há linguagem; há estátuas/ Que se movem simultâneas» – e cujo modo de se exprimir se situa mais no plano da pura presença do que no da representação – «Palavras são silêncios de dois gumes».
Recorde-se, a propósito, o que disse Pound sobre o imagismo: «The point of Imagisme is that it does not use images as ornaments. The image itself is the speech. The image is the word beyond formulated language».
Se, por um lado, a intensidade das imagens da poesia de Alberto de Lacerda nos abre a porta de uma certa ideia de poesia pura – que de certo modo se aproxima do carácter metafísico da experiência musical (Steiner) –, por outro lado, o rigor da construção e o papel que nela desempenha a luz, diurna e solar, abre caminho a uma relação com a pintura. Neste contexto, não é dispiciendo recordar que Alberto de Lacerda escreveu sobre pintura, foi amigo de muitos pintores (Vieira da Silva, Arpad Szenes, Menez, Júlio Pomar, Jorge Martins, Paula Rego, por exemplo) e também coleccionador.
A luz, a luz do meio-dia que tomba cara abaixo «como um grande pranto branco», instante anterior à cor, é espaço de confiança, perdão da noite, promessa de aventura, dimensão exterior à ignomínia, valor tão puro e primordial, por vezes perdido, pois «Filhos cegos dos gregos,/ a noite do seu Dia é que nos vê», e «nem sempre o amor restitui à luz»
A luz constitui também a génese do olhar e da sua duração, espaço de construção do desejo («O meu olhar descia como um íman/ Ao centro mais ardente do teu corpo») e de enunciação do corpo (ritmos, gestos, vozes, o canto, a nudez, os rostos e o silêncio: «Rostos são fugas/ do paraíso./ Silêncios são corpos/ desnudados lentamente/ pelas lágrimas»), mas também da revelação do olhar do Outro: «Os olhos são a minha obsessão», ou «Nos teus olhos se reflectem as montanhas/Onde as crianças costumavam brincar». E tudo é lugar de confluência da memória e das ressonâncias do tempo.
Imagem, luz, olhar, corpo (ou corpos: «Há sempre imensa gente nos meus versos») são constantes da poesia única de Alberto de Lacerda, a que se foi juntando um sentido de transgressão a que também a pintura não é alheia. Conservou, sempre, porém a sedução do instante, traduzida na tensão irresolúvel entre móvel e imóvel, equilíbrio e desequilíbrio, ordem e desordem, escrita e gesto, palavra e silêncio, finito e infinito, exacto e impreciso, sólido e volátil, ficando o Poeta («A única utilidade do poeta/ é existir […]»), sempre, simultaneamente perto e longe.
A obra de Alberto de Lacerda está reunida nos volumes Oferenda I (1984) e II (1994), editados pela Imprensa Nacional, tendo ainda sido publicados os volumes Sonetos (1991), Átrio (1997) e Horizonte (2000). Da exposição «O mundo de um poeta», realizada na Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1987, reunindo a colecção de arte de Alberto de Lacerda, existe um interessante e significativo catálogo.
Jorge Colaço
(texto publicado em Annualia 2008-2009)
O Programa Território Artes, da Direcção-Geral das Artes, assinala as Comemorações do Dia Mundial do Teatro através de uma Acção de Grande Envolvimento Nacional, no âmbito da qual, sob o tema "Teatro para Todos / Todos os Teatros" 246 Municípios inauguram em simultâneo a Exposição "O que é o Teatro?" e promovem a realização de milhares de actividades complementares.
246 Municípios, em parceria com o Ministério da Cultura, inauguram simultaneamente a Exposição "O que é Teatro?", a qual poderá ser vista a partir de hoje, até 6 de Abril, em 2000 locais de todo o Território Continental, Açores e Madeira.
Esta Acção, promovida pela Direcção-Geral das Artes, é a iniciativa de difusão das artes que até à data conseguiu maior número de participações autárquicas e maior cobertura territorial. Destaca-se ainda a participação da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (10 Estabelecimentos Prisionais), do Instituto Português da Juventude (41 lojas JA), da Casa Pia de Lisboa (Centro Cultural e 5 Colégios) e do Metropolitano de Lisboa. Realizadas no âmbito do Programa Território Artes, as Acções de Grande Envolvimento Nacional (AGEN) permitem a participação activa, criativa e simultânea de todos os Municípios, de todos os agentes públicos e privados localizados em todo o território nacional.
Imagem: "Cavalleria Rusticana", de Pietro Mascagni. Nova Produção do Teatro Nacional de São Carlos. Cenografia de Fausto Dappié. Março de 2005. Fotografia: Alfredo Rocha
Ver outras informações aqui.
O Museu Nacional de Arqueologia tem patente ao público, desde 4 de Dezembro, nas suas instalações, a exposição "O Ouro Tradicional de Viana do Castelo. Da Pré-História à Actualidade". Sobre este museu poderá encontrar todo um capítulo do volume Annualia 2007-2008, no qual o seu director, Dr. Luís Raposo, nos guia pela sua história e pelas suas colecções, numa viagem ilustrada por belas fotografias que cobrem variadíssimos aspectos da actividade do museu.
O mesmo Autor assina neste volume um outro texto sobre a figura tutelar da criação deste museu e figura ímpar de investigador, José Leite de Vasconcelos.