«(…) O romance, o conto, a crónica, a hagiografia, a narrativa de viagens, a polémica e o ensaio foram os principais géneros cultivados por um escritor que contribuiu decisivamente para mudar o panorama literário português, na segunda metade do século xix.
(…) Os Maias, sendo aquilo a que é usual chamar-se um "romance-fresco", ilustram, em registo ficcional, os movimentos e contradições de uma sociedade historicamente bem caracterizada. A política, a vida financeira, a literatura, o jornalismo, a diplomacia e a administração pública representam-se em jantares, saraus, serões e corridas de cavalos; assim se configura uma vasta crónica social (…).
Enquanto cultor do romance, Eça de Queirós constitui decerto, na literatura portuguesa, um caso absolutamente invulgar de agilidade técnica e de capacidade de ajustamento de uma linguagem – a lingugem do romance – a temas e a motivos que dela careciam.»
Carlos Reis em Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas
de Língua Portuguesa
OPINIÃO: Dizem alguns autores que a nossa ideia do século XIX vem de Eça, e que é uma ideia errada. Isto, porque o escritor não refere (por exemplo em Os Maias) os progressos que iam alterando a sociedade de então.
Julgo, no entanto, que o feito verdadeiramente notável de Eça, nesse plano, foi ter encontrado a justa encarnação romanesca de figuras que atravessaram, incólumes, Lisboa, o Chiado e os séculos. Elas (e as suas frases, os seus tiques, os seus lugares, as suas pequeninas circunstâncias) eram o cerne lisboeta do século XIX português, de tal modo que continuaram a sê-lo, mais progresso menos progresso, pelo século XX dentro. E continuam, hoje, vivas e de saúde.