Quarta-feira, 8 de Julho de 2009

Vasily Aksyonov (1932-2009)

 Vasily Aksyonov, Russian dissident writer
Escritor russo (Kazan, 1932 – Moscovo, 6.7.2009) que alcançou proeminência no breve período de abrandamento do regime soviético que se seguiu à morte de Estaline. Os pais tinham sido vítimas das purgas estalinistas de 1937 e Aksyonov passou parte da infância no gulag. Em 1956 licenciou-se em Medicina, que exerceu enquanto florescia a sua vocação de escritor. Inicialmente, o escritor conseguiu sobreviver no interior do regime soviético, alcançando mesmo alguma notoriedade, sobretudo pela suas capacidade estilística, mas tanto a sua atitude pessoal como a sua escrita conduziram-no a uma progressiva dissidência. No romance «A ilha de Crimeia» imagina o que teria sido a vida naquela península do mar Negro se os russos brancos tivessem vencido os bolcheviques. Em 1980, após a publicação em Itália do romance «A queimadura», Aksyonov foi forçado ao exílio nos EUA, onde foi professor e continuou a escrever obras como In Search of Melancholy Baby, onde fala da sua experiência de emigração, The Negative of The Positive Character, uma colectânea de contos, ou o épico Generations of Winter, no qual narra o impacto do estalinismo numa família moscovita ao longo de três gerações e que foi transposto para televisão, na Rússia, em 2004.

 


 

publicado por annualia às 10:05
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Terça-feira, 30 de Junho de 2009

Coreia do Norte: um testemunho imperdível


«Foi em Praga, República Checa, na Primavera do ano de 2003, que me encontrei pela primeira vez com Hyok. Este rapazinho inteligente e tímido tinha sido convidado para este país de Leste por uma organização de defesa dos direitos humanos, a fim de dar testemunho sobre a sua vida na Coreia do Norte. Dois outros desertores, com uns quarenta e tal anos, tinham sido igualmente convidados. Eles evocaram longamente as suas dolorosas experiências no gulag norte-coreano. O jovem Hyok, pelo seu lado, sem dúvida devido ao seu carácter reservado, não se arriscou a pegar no microfone. Em contrapartida, o essencial daquilo por que tinha passado encontrava-se exposto nos pontos mais altos da sala alugada para essa ocasião, sob a forma de desenhos de traços umas vezes precisos, outras vezes desajeitados, mas sempre marcados por aquela sinceridade espontânea tão própria das crianças. O que ele tinha tanta dificuldade em exprimir por palavras desenhava-o às mil maravilhas, com uma excelente memória de pormenores.

Depois de ter fugido da Coreia do Norte em 1998, Hyok tinha vivido quatro anos na China e podia assim exprimir-se um pouco em chinês, língua que eu próprio falava. Tirando partido dessa ponte comum, convidei-o para se sentar à mesa comigo num restaurante de Praga. O adolescente contou-me como tinha sobrevivido à fome na Coreia do Norte: as sopas de casca de árvore, a caça aos ratos que fazia com os seus companheiros, as horas passadas a arrancar carvão nas galerias da mina, os roubos nocturnos nas herdades do Estado; o enfraquecimento, e depois a morte, de muitos dos seus camaradas de escola... Hyok relatava-me esses episódios com um ar indiferente, como se me falasse de um dia igual aos outros. Aquilo pelo qual tinha passado com olhos infantis alguns anos antes, milhões de outros norte-coreanos tinham-no igualmente vivido no seu quotidiano - e continuavam a vivê-lo no momento presente.

(...)

Três meses depois da minha entrevista em Praga com Hyok, fui ao seu encontro na Coreia do Sul, e foi em Seul, na sequência de duas semanas de colaboração e de troca de impressões, que este livro começou a tomar forma (...).

"Quando conto como é a vida na Coreia do Norte aos miúdos da minha idade na Coreia do Sul, na maior parte do tempo eles não acreditam em mim", confiou-me Hyok. O que é que isso tem de espantoso? Como descrever esses país das inverosimilhanças? A Coreia do Norte abriga um dos mais detestáveis totalitarismos do planeta. Caracteriza-se por um culto da personalidade extravagante, uma economia destruída, um império da mentira e da propaganda e um gulag de pelo menos duzentos mil prisioneiros. Este «Jurassic Park» do comunismo distila um ambiente paranóico de guerra fria onde a denúncia de qualquer forma de dissidência é erigida como virtude. A sua população está repartida em diversas dezenas de «castas» sociais hierarquizadas pela burocracia segundo o seu grau de lealdade real ou suposta em relação ao «Querido Líder» Kim Jong-Il (filho do falecido «Grande Líder» Kim Il-Sung, que morreu em 1994). A fome que ali grassa desde 1993-1994 saldou-se por dois ou três milhões de mortos entre as categorias mais vulneráveis, apesar de uma ajuda internacional maciça: esta foi, em grande parte, desviada pelo regime em proveito do seu aparelho militar. (...)

A Coreia do Norte é também o Estado mais fechado do mundo. Todos os receptores hertzianos, de rádio ou de televisão, são bloqueados pelas frequências oficiais e nenhum jornal estrangeiro se encontra disponível. Apesar disso, os desertores que conseguem fugir desse país, fechado a sete chaves, de vinte e três milhões de habitantes são cada vez mais numerosos. Cerca de trezentos mil norte-coreanos conseguiram refugiar-se na China desde meados dos anos 90. Desses, vários milhares chegaram à Coreia do Sul, arriscando a vida. Contudo (...) raros são os editores e jornalistas que se interessam pelos seus relatos surpreendentes. Aqui temos um desses testemunhos excepcionais, o de uma criança, e por isso mesmo único.»

Phillipe Grangereau, «Prólogo» a Hyok Kang/Phillipe Grangereau, «Aqui É o Paraíso!», Uma infância na Coreia do Norte, Editora Ulisseia, colecção «Os Afluentes da Memória», tradução de António Carlos Carvalho, desenhos de Hyok Kang, Lisboa, 2007.
ISBN 978-972-568-568-6


publicado por annualia às 10:26
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Quinta-feira, 12 de Março de 2009

Dia Mundial contra a Cibercensura

(PNG)


A organização Reporters sans frontières declarou este dia 12 de Março como jornada de alerta contra os países (Arábia Saudita, Birmânia/Myanmar, China, Coreia do Norte, Cuba, Egipto, Irão, Uzbequistão, Síria, Tunísia, Turquemenistão, Vietname) «que transformaram a rede em intranet, impedindo os internautas de acederem às informações julgadas "indesejáveis". Todos estes países se salientam não só pela sua capacidade de censurar a informação em linha, mas também pela repressão quase sistemática dos internautas incómodos».

 

Relatório sobre os inimigos da internet aqui.
Lista de internautas dissidentes presos aqui.

publicado por annualia às 09:41
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