Gostaria hoje de pôr em destaque a importância e a utilidade das antologias. Antologia significa, etimologicamente, «colecção de flores» e aplicou-se, por extensão, a colecções de textos seleccionados de uma época, de um género, de um autor e até de uma só obra. Entre nós existe o termo «florilégio», hoje praticamente caído em desuso, e os espanhóis usaram e usam a expressão «flores» (de poesia, por exemplo) com o mesmo significado. Também já se usou o termo «crestomatia», igualmente de origem grega, para designar o que hoje é mais comum designar por ou colectânea. Aos volumes em que se recolhem textos seleccionados com fins didácticos já se chamou «selectas». Em língua inglesa, vingou a tradição dos volumes de textos «selected» ou «collected». Em francês, existe a expressão «textes choisis», que tem sido também traduzida e adoptada entre nós.
Interessa salientar que em qualquer dos casos estes volumes têm um valor de «selecção» ou «escolha», constituindo por isso uma «amostragem» e adquirindo um sentido iniciático, espécie de pórtico (estaria mais na moda se dissesse portal) de entrada num determinado universo textual mais extenso.
Sendo uma selecção ou escolha, as antologias são organizadas por alguém, a quem o editor confiou esse trabalho e em quem o público deverá reconhecer capacidade, que usa determinados critérios, de preferência bem explicitados, de gosto e/ou de representatividade. Embora este último seja o critério geralmente predominante, alguns antologiadores deixam marcas muito pessoais nas suas escolhas ou adoptam perspectivas diferenciadoras. O caso mais flagrante é «antologia das vozes comunicantes da moderna poesia portuguesa», que Herberto Hélder organizou em tempos para a Assírio e Alvim com o título Edoi Lelia Doura.
Jorge Colaço