
«A diversidade das interpretações dos Painéis decorrem das diferentes identidades atribuídas à figura representada nos dois painéis centrais. A primeira identificação, desde o início sustentada por José de Figueiredo e secundada entre outros por Reinaldo dos Santos, foi com o mártir S. Vicente, padroeiro de Lisboa. Assentava ela, sobretudo, no culto prestado ao santo e no facto de a figura estar representada de dalmática, veste própria da dignidade eclesiástica (diácono) de S. Vicente. Esta filiação interpretativa terá larga fortuna durante o século xx, tendo sido seguida por muitos historiadores nacionais e estrangeiros. Mas não faltou quem a contestasse. Alfredo Leal fê-lo logo em 1917, propondo uma leitura que identificava a figura central com Sta. Catarina, padroeira de D. Afonso V. Em 1925 surgiria outra tese, de José Saraiva, que defendeu a identificação com D. Fernando, o Infante Santo.
Inicialmente dispostos como dois trípticos, foi só depois de 1926 que a sua disposição actual foi estabelecida (embora só exibida em 1940) por Almada Negreiros e José de Bragança, com base na observação da perspectiva dos ladrilhos do chão representado na pintura.
Outras teses surgiriam ainda, como a de Belard da Fonseca que pretendeu ver na enigmática figura o Cardeal D. Jaime, sepultado na basílica florentina de S. Miniato, para onde se destinariam os painéis. Foram, porém, as teses vicentina e fernandina que mais distintamente emergiram das diversas análises e da polémica que se instaurou.
(…)
Depois de anos de relativa acalmia da veemência discordante, que não diminuíram o interesse pelos Painéis, unanimemente reconhecidos como uma das obras maiores da pintura europeia quatrocentista, surgiu no ano 2000 uma novo estudo favorável à hipótese fernandina. Jorge Filipe de Almeida não só identifica a figura central dos Painéis com o Infante Santo (justificando o uso da dalmática com uma «vontade de dignificação»), como interpreta, com larga argumentação, todo o conjunto como uma representação simbólica das suas exéquias, nelas comparecendo a «Ínclita Geração». Neste contexto, não é desprezível a observação do esquife vazio do Painel da Relíquia (o mais à direita), onde também é exibido o escalpe de Sto. António, que o infante D. Pedro — regente do Reino e, segundo o mesmo autor, a figura da esquerda, em primeiro plano, do Painel do Arcebispo, na diagonal do jovem D. Afonso V, no Painel do Infante — teria oferecido à Confraria do Bem Aventurado Santo Antoninho a cuja casa se teriam destinado os Painéis e onde também funcionava o Senado da Câmara».
Excertos da entrada «Questão dos Painéis» na Enciclopédia Verbo-Edição Século XXI, vol. 24, Lx., Setembro de 2002.
Emissão (RTP1) de 14 de Junho de 2009 (minuto 21:24)
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Poeta cabo-verdiano de seu nome completo Arménio Adroaldo Vieira e Silva (n. Praia, 29.1.1941). Estudante liceal até ao 6.º ano em São Vicente, a actividade de meteorologista fixou-o na ilha natal de Santiago, onde também fez jornalismo e foi professor de Português. Quando, em 1964, tem de sair de Cabo Verde para servir militar em Portugal, já o seu nome figura entre a «novíssima» geração de poetas que, através de uma página literária de vida efémera -- «Seló» (duas edições em 1962) -- do jornal Notícias de Cabo Verde, se propunha como um movimento renovador que, sem ruptura com as coordenadas estéticas e socioculturais dos movimentos da Claridade e da Certeza, convocasse a consciência colectiva pela «necessidade de protestar e dar alarme» perante as crises típicas dos «flagelados do vento leste».
Arménio Vieira assume vigorosamente a «sua» consciência, opondo (ou substituindo) à tópica anterior do evasionismo e da resignação o «poema/ que se há-de escrever/ na hora exacta/ em que os homens despertarão/ para uma vida plena/ de consciência da terra». Esta «consciência» trasmuda-se para um cosmopolitismo europeizante no seu único romance, No Inferno, o qual, «marimbando na lógica e no encadeamento natural dos acontecimentos, umas vezes com base em ocorrências de natureza autobiográfica e outras vezes a partir de ideias e motivos tomados de empréstimo a uma vasta literatura pretérita», se definiria como um anti-romance. Está incluído em várias antologias e revistas, designadamente em Cabo Verde (1962 e 1978), Mákua (1963), Vértice (1971), no Reino de Caliban (Manuel Ferreira, 1975), Raízes (Cabo Verde, 1978), Contratempo (Luís Romano, 1982), África (1986) e 50 Poetas Portugueses (Manuel Ferreira, 1989). Prefaciou, em 1987, o livro de Baltazar Lopes, Os Trabalhos e os Dias, e publicou em livro: Cabo Verde (1979), Cântico Geral (1981), Poemas (1981), O Eleito do Sol (1989, 1992), No Inferno (2001), MITOgrafias (2006).
Leonel Cosme
em Biblos - Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa (volume 5, cols. 846-847, Lisboa, 2005)
Ver notícia no Público
O Museu Hergé, que abre ao público na terça-feira, dia 2 de Junho, visa dar a conhecer as "múltiplas facetas" do artista belga, mas ao longo das diversas salas de exposição Georges Remi tem sempre a "concorrência" da sua mais notável criação, Tintim. Ver texto integral da notícia do Público.
OS FILHOS DE D. JOÃO I
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Brochura com o texto de José Vicente Moura, publicado na Annualia 2008-2009, que será apresentada, hoje, no arranque das comemorações do centenário do Comité Olímpico de Portugal.