Segunda-feira, 31 de Agosto de 2009

Do Minho ao Algarve

 
    clique sobre o logótipo

publicado por annualia às 13:35
link | comentar
Terça-feira, 28 de Julho de 2009

Painéis de Nuno Gonçalves

 
«Uma visita ao Paço Patriarcal de S. Vicente de Fora, empreendida no início da década de 1880 por um pequeno grupo de personalidades da cultura, proporcionou uma surpresa destinada a intrigar, deleitar e apaixonar a sociedade portuguesa. Num recanto do paço, se bem que mal articuladas e obscurecidas pela falta de conservação, algumas tábuas de pintura antiga cativaram de imediato a atenção dos visitantes. A impressão causada pelas dezenas de rostos pintados naquelas tábuas, entre os quais se reconhecia o do infante D. Henrique, foi indelével.

(...)

Críticos de arte, historiadores, heraldistas, homens de letras e pintores sentiram-se atraídos para a arena de um debate que foi tomando foros de questão nacional, cativando especialmente a atenção do público educado, na segunda metade da década de 1920, quando os "egos" exacerbados de alguns dos contendores levaram a variados episódios de cunho rocambolesco e mesmo trágico.

(...)

Entretanto, para além do mundo da erudição, o potencial de interesse da opinião pública no assunto mantém-se. Certamente, a individualidade dos retratados, aliada à mestria que é aparente em todo o conjunto pictórico, estão na origem do fascínio que os painéis exercem sobre nós.

Os portugueses dos mais variados graus de instrução sentem intuitivamente a grandeza desta pintura e reconhecem, emocionados e intrigados, nas personagens representadas os rostos graves dos seus antepassados que os contemplam no silêncio de um tempo que já passou há mais de cinco séculos.»

 

Jorge Filipe de Almeida

Maria Manuela Barroso de Albuquerque,
Os Painéis de Nuno Gonçalves,
Editorial Verbo, Lisboa 2003 (2ª edição aumentada) 

 

Este livro sobre os Painéis de Nuno Gonçalves apresenta, na defesa da tese «fernandina», interessantíssimas soluções claramente seduzidas pela ideia de explicação «total», risco sério. Mas parte da sua plausibilidade assenta na razão pela qual teria entrado tão extraordinária pintura — uma das obras maiores da pintura europeia quatrocentista —, no negro buraco do tempo: inconveniência política. Depois do episódio infeliz de Alfarrobeira, D. Afonso V — o jovem do Painel do Infante — ou algum pressuroso e anónimo apaniguado por ele, não terá podido suportar a exposição pública da representação do regente D. Pedro (segundo o autor, a figura da esquerda, em primeiro plano, no Painel do Arcebispo) e terá remetido os painéis para a sombra esconsa do esquecimento. É, sem dúvida, uma funda tradição nacional. Jorge Colaço

publicado por annualia às 15:00
link | comentar
Segunda-feira, 20 de Julho de 2009

Verbo Clássicos: vinte e um títulos publicados

 


Ver o blog aqui.

Versão YouTube

 

 

 

publicado por annualia às 17:28
link | comentar
Sexta-feira, 17 de Julho de 2009

17 de Julho: início da Guerra Civil de Espanha

A cronologia da Guerra Civil de Espanha inicia-se a 17 de Julho de 1937, data do pronunciamento militar em Melilla contra o governo da República.

 

Estudos sobre a Guerra Civil de Espanha aqui.

publicado por annualia às 16:53
link | comentar
Terça-feira, 14 de Julho de 2009

Fernando Pessoa na colecção Verbo Clássicos

 

publicado por annualia às 15:55
link | comentar
Sexta-feira, 10 de Julho de 2009

Grande Prémio de Romance e Novela/ Julieta Monginho

A Terceira Mãe, de Julieta Monginho, editado pela Campo das Letras, venceu o Grande Prémio de Romance e Novela APE/Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas. Ver notícia no Público.

Julieta Monginho nasceu em Lisboa, em 1958. É Licenciada em Direito. Em 1996 publicou o primeiro romance, Juízo Perfeito (D. Quixote). Seguiram-se: A Paixão Segundo os Infiéis (D. Quixote, 1998), À Tua Espera (D. Quixote, 2000, Prémio Máxima de Literatura), Dicionário dos Livros Sensíveis (Campo das Letras, 2000), Onde está J.? (Campo das Letras, 2002), Dez Contos Com Livro Dentro (co-autoria, Campo das Letras, 2004) e A Construção da Noite (Dom Quixote, 2005). Colabora regularmente em revistas literárias e jurídicas, bem como no blogue Arte dos Dias.

 

publicado por annualia às 10:24
link | comentar
Quinta-feira, 9 de Julho de 2009

Os 50 anos da revista «tempo presente»

TEMPO PRESENTE, UMA REVISTA CONTRA-CORRENTE *
por António Leite da Costa 

  

O aparecimento, em 1959, da revista tempo presente, que tinha como director Fernando Guedes, um conselho de redacção formado por António José de Brito, António Manuel Couto Viana, Caetano de Melo Beirão e Goulart Nogueira e secretário, João Manuel Pedra Soares – e, a partir do segundo ano, número 13, também Artur Anselmo, único secretário no último ano – e, como editor e proprietário José Maria Alves, veio contribuir para um debate que, não sendo novo entre nós, ganhava, então como hoje, uma premente actualidade. O debate era amplo e versava várias questões. Logo à partida, o que se entende por cultura e cultura portuguesa, pois de uma revista portuguesa de cultura se tratava. Uma segunda nota é que a cultura é sempre uma cultura viva, que alia o pensamento e acção ou transforma o pensamento em acção. Daqui resultou, como consequência lógica, a intervenção, no meio cultural português, de um grupo de intelectuais nacionalistas e monárquicos seduzidos também eles por propostas modernas e vanguardistas de artistas e de escritores, nacionais e estrangeiros, o que naturalmente punha em causa a visão largamente difundida pelos intelectuais de esquerda, que a si mesmos se consideravam os únicos capazes de compreender os sinais dos tempos e as correntes do futuro, de modo a entrar, definitivamente, nas páginas da História.
É que, embora a revista se chamasse tempo presente, ela continha em si mesma as páginas do futuro, sem deitar fora as lições do passado. Significativamente, citava, logo no primeiro número (p. 3), três textos – um do Ecclesiastes, outro de Santo Agostinho e o último do poeta e dramaturgo anglo-americano T. S. Eliot – que reforçavam esta ideia que animou e deu corpo a este projecto cultural. A citação de T. S. Eliot é verdadeiramente paradigmática e, por isso, vale a pena recordá-la:

O tempo presente e o tempo passado
São ambos presentes talvez no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado.

Mas foi ao longo de várias páginas da rubrica tempo presente que número após número se nos foi dando conta não só das claras e límpidas intenções da revista mas também da reacção, por vezes intempestiva e nem sempre inteligente – isto é, capaz de saber ler o que de facto estava escrito –, de críticos e opositores. Quase sempre assinados por Goulart Nogueira, constituíram estes textos uma forma de elucidar o leitor mais distraído daquilo que, na velha linguagem camoneana, se via claramente visto, mas que alguns teimosamente não queriam acreditar, talvez pelo carácter inovador e arrojado da própria revista.
Daí que, no número 12 (Abril de 1960), ao encerrar-se o primeiro ano de vida, numa nota assinada pela redacção e intitulada também tempo presente (pp. 3-5), se fizesse o ponto da situação e se esclarecessem assinantes e leitores: " Qual foi o nosso intuito? Fazer uma revista que tivesse acção reactiva, revolucionária e formativa, que despertasse energias, que desencadeasse forças, que evidenciasse os valores, que gerasse uma consciência." E, por isso, esta revista combatente, como também se proclama, não entrou, "comodamente, na corrente: fizemos contra-corrente, lutámos." Para logo acrescentar: " Pretendeu-se, nesta revista, dar um testemunho de presença ao supremo valor, ao que é totalmente humano, um testemunho actual." E continua: " Nas artes, no pensamento, em todas as manifestações espirituais e humanas, qual foi a nossa posição e o nosso cuidado? Aceitar que todas as posições eram possíveis e legítimas, digamos até necessárias, desde que não tornassem parcelares o homem e a vida. O todo e o universal tinham de integrar o modo e as parcelas, o humano tinha de justificar as obras, o espírito tinha de explicá-las e inspirá-las, elas tinham de situar-se nele." Para logo acrescentar: "Por isso, nunca nos fechámos em uma escola. Se alguém nos considerou neo-futuristas, concretistas ou qualquer coisa semelhante, teve, a breve trecho, de desenganar-se."
A ligação entre o passado e o presente, o clássico e o moderno foi constante e permanente. " A quem tenha estado atento, não haverá escapado que, desde o primeiro número, declaramos aceitar a obra clássica e a moderna, a realista e a romântica, a documental e a imaginativa, etc., etc." Daí que tenham apresentado " ao público português autores, obras e tendências modernas, de modo a torná-lo conhecedor do que se vai processando no mundo – esta é uma tarefa sobretudo informativa." Mas também " apresentámos ao público os autores, as obras e tendências que, nesta época negativista, perplexa, materialista, fragmentária, cerebralista ou sentimentalista, comunicam a fé e a afirmação, o espiritualismo e a unidade, a integridade humana e a dedicação, a claridade e a naturalidade sábia, a virilidade e a luta." E, mais adiante, esclarece: " A nossa revista pretendeu, pois, dar testemunho de interesse pelos vários sectores da cultura" e que mostra, desde o início, " insubmissão à lei das maiorias ou ao insulto desta conturbada época. Eis uma tarefa que nos compete e que temos procurado cumprir". E cumpriram.
No início do terceiro ano de publicação ( nº21-1961), e de novo em tempo presente (pp. 3-5) – e da responsabilidade da redacção – se faz um balanço da influência da revista no meio cultural português, afirmando acertada e justamente: " Trouxemos ao panorama cultural português um revigoramento inesperado, uma inesperada voz – dizemo-lo com simplicidade, sem vaidade pavoneante, mas com justo orgulho." Pois, " com tempo presente começou o processo de desmistificação, como se diz em linguagem da moda." Mas se " houve emocionados sobressaltos de adesão, houve um frémito de juvenilidade; e, por outro lado, houve o surdo rancor, a raiva impotente, a campanha do silêncio, tentando abafar o som deste clarim rejubilante, vivo." Em suma, como quase sempre sucede a quem fica irremediavelmente preso ao comodismo, houve não só a incompreensão da novidade como o medo da ousadia, de ir mais além, de tentar compreender o futuro gerado continuamente no presente.
A perfeita ligação entre tradição e modernidade, reflectiu-se, desde logo, na qualidade gráfica da revista, com capas de Fernando Lanhas, nos temas e artistas estudados, na riqueza literária das colaborações, no cuidado da organização de cada número, na selecção dos textos antologiados, na divulgação da correspondência inédita publicada, nos poetas traduzidos com sensibilidade e rigor. Mas também nos temas versados que iam desde o direito à política, passando pela música e o teatro, a filosofia e a história, o cinema e a rádio, a sociologia e a antropologia, a literatura e as artes plásticas, que naturalmente abundavam, sem esquecer a crítica literária e a polémica, plena de ironia da rubrica A besta esfolada, título tomado de empréstimo a José Agostinho de Macedo, e, embora não assinada, da autoria de Goulart Nogueira.
O número duplo de tempo presente de Set./Out. de 1960 (17/18) é dedicado ao V Império. Nele colaboraram Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, António Manuel Couto Viana, Artur Anselmo – responsável pela organização deste volume - , Duarte de Montalegre ( J. V. de Pina Martins), Fernando Guedes, Fernando Luso Soares, Goulart Nogueira, Rafael Monteiro, Raul Leal e Raymond Cantel. Contém igualmente uma antologia sobre o mesmo tema, feita pelo secretário da revista e organizador deste número. Este número duplo teve larga projecção, tendo sido adquirido por alguns leitores seduzidos apenas por esta matéria e que não compravam habitualmente a revista, existindo mesmo em duplicado em algumas bibliotecas, antevendo os respectivos bibliotecários o natural interesse das futuras gerações por este assunto e o modo como era aqui exposto, quer literária, quer graficamente.
Nos 27 números publicados, de Maio de 1959 a 1961, deram-se a conhecer autores e correntes estéticas pouco divulgadas entre nós, como Ezra Pound, T. S. Eliot, Stefan George, Hilda Doolitle, W. B. Yeats ou o vorticismo, o dadaísmo, a pintura abstracta, o concretismo (na música e na poesia), os Angry Young Men, a Beat Generation. Ou ainda, na sétima arte, cineastas como Eisenstein, Fritz Lang e Truffaut, para além de artistas plásticos como Graham Sutherland, Paul Nash, Henry Moore, Rouault. Nas suas páginas "reencontrou-se" o grupo do Orpheu com textos de Fernando Pessoa, Almada negreiros, Mário de Sá-Carneiro e Raul Leal, colaboraram Manuel Bandeira, Murillo Araújo, Lygia Fagundes Teles, os concretistas brasileiros Décio Pignatari e Haroldo e Augusto de Campos, foram reveladas peças até aí inéditas de Almada Negreiros, Alfredo Cortez, Tomaz de Figueiredo, Raul Leal, saíram antologias de Robert Brasillach, Drieu la Rochelle e Giovanni Papini.
A lista de colaboradores e de autores de textos inéditos ou reproduzidos atinge praticamente a centena e meia. Muitos deles já consagrados, outros que se tornaram conhecidos no jornal Mensagem, editado em Coimbra (1948), ou nas folhas de poesia Tavola Redonda (1950) ou na revista Graal (1956), ambas de Lisboa. Outros ainda que colaboraram no 57(Lisboa, 1957) ou fundaram a revista Cidadela (Coimbra,1959) ou escreviam regularmente nos Estudos do velho C.A.D.C. de Coimbra e que buscaram neste tempo presente um local de convívio e encontro cultural. Finalmente, aqueles que aqui encontraram o seu espaço de debate e de afirmação: Agostinho da Silva, Agustina Bessa-Luís, Amândio César, António Botelho, António Quadros, António Correia de Oliveira, António Salvado, Ana Hatherly, Álvaro Ribeiro, Armando Cortês Rodrigues, Artur Anselmo, Carlos Eduardo de Soveral, Domingos Mascarenhas, Duarte de Montalegre, Eduíno de Jesus, Esther de Lemos, Fausto José, Fernando Paços, Francisco da Cunha Leão, Francisco Rendeiro, O. P., J. Beckert d’Assumpção, J. Monteiro-Grilo, João Bigotte Chorão, José Blanc de Portugal, José Enes, José Valle de Figueiredo, Luís Cajão, Luís Forjaz Trigueiros, Manuel de Seabra, Manuel Gama, Manuel Moutinho, Manuel Múrias, Manuel Vieira, Maria Manuela Couto Viana, Matilde Rosa Araújo, Mário Saa, Miranda Barbosa, Natércia Freire, Nuno de Sampayo, Ruy Alvim, Ruy Belo, Sellés Paes, Soares Martins, Tomás Kim, Tomás Ribas e tantos outros.
Mas toda a concepção, organização e realização da revista é obra sobretudo do seu director – Fernando Guedes -, do conselho de redacção – António José de Brito, António Manuel Couto Viana, Caetano de Melo Beirão e Goulart Nogueira – e dos secretários, inicialmente João Manuel Pedra Soares e, a partir do segundo ano, Artur Anselmo. Todos eles se desdobraram na redacção de ensaios, crítica literária, pequenas notas ou crónicas, em traduções de autores estrangeiros, ou em antologias de escritores de referência que marcaram cada número da revista e o seu conjunto de forma indelével e duradoura, merecendo muitos desses textos figurar, também eles, numa antologia do que de melhor se escreveu em revistas portuguesas, pois estão, ainda hoje, prenhes de actualidade e de rigor.
Como G. K. Chesterton, também esta revista quis ser contra-corrente. E é, por isso, que como este genial e admirável escritor inglês ela é também, ainda agora, cinquenta anos passados, tempo presente.
 
*Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009.


 

publicado por annualia às 14:32
link | comentar
Segunda-feira, 6 de Julho de 2009

B:MAG - revista do sector editorial profissional

  BOOKTAILORS

  PUBLISHING

  MAGAZINE

 

   Download gratuito aqui.

publicado por annualia às 16:36
link | comentar

Verbo Clássicos nas livrarias


 

publicado por annualia às 12:21
link | comentar
Quinta-feira, 2 de Julho de 2009

Exposição de Manuela Madureira em Estremoz

 

A Editorial Verbo publicou em álbum uma visão de conjunto da obra de Manuela Madureira.


 

publicado por annualia às 11:00
link | comentar

EncontrArtes 2009

Já se encontra disponível o regulamento de participação na Feira EncontrArtes 2009, que se realiza no Parque de Feiras de Estremoz de 31 de Outubro a 2 de Novembro. Este evento, que decorre desde 2007, junta num mesmo espaço artes plásticas, artesanato, artes decorativas, alfarrabistas, livreiros, velharias e antiguidades, galerias, escolas e associações ligadas à cultura.
Para mais informações contactar:

Director do Museu Municipal de Estremoz
Largo Dom Dinis, 7100 Estremoz
939192233 / 268333604


 

publicado por annualia às 10:32
link | comentar
Terça-feira, 30 de Junho de 2009

Coreia do Norte: um testemunho imperdível


«Foi em Praga, República Checa, na Primavera do ano de 2003, que me encontrei pela primeira vez com Hyok. Este rapazinho inteligente e tímido tinha sido convidado para este país de Leste por uma organização de defesa dos direitos humanos, a fim de dar testemunho sobre a sua vida na Coreia do Norte. Dois outros desertores, com uns quarenta e tal anos, tinham sido igualmente convidados. Eles evocaram longamente as suas dolorosas experiências no gulag norte-coreano. O jovem Hyok, pelo seu lado, sem dúvida devido ao seu carácter reservado, não se arriscou a pegar no microfone. Em contrapartida, o essencial daquilo por que tinha passado encontrava-se exposto nos pontos mais altos da sala alugada para essa ocasião, sob a forma de desenhos de traços umas vezes precisos, outras vezes desajeitados, mas sempre marcados por aquela sinceridade espontânea tão própria das crianças. O que ele tinha tanta dificuldade em exprimir por palavras desenhava-o às mil maravilhas, com uma excelente memória de pormenores.

Depois de ter fugido da Coreia do Norte em 1998, Hyok tinha vivido quatro anos na China e podia assim exprimir-se um pouco em chinês, língua que eu próprio falava. Tirando partido dessa ponte comum, convidei-o para se sentar à mesa comigo num restaurante de Praga. O adolescente contou-me como tinha sobrevivido à fome na Coreia do Norte: as sopas de casca de árvore, a caça aos ratos que fazia com os seus companheiros, as horas passadas a arrancar carvão nas galerias da mina, os roubos nocturnos nas herdades do Estado; o enfraquecimento, e depois a morte, de muitos dos seus camaradas de escola... Hyok relatava-me esses episódios com um ar indiferente, como se me falasse de um dia igual aos outros. Aquilo pelo qual tinha passado com olhos infantis alguns anos antes, milhões de outros norte-coreanos tinham-no igualmente vivido no seu quotidiano - e continuavam a vivê-lo no momento presente.

(...)

Três meses depois da minha entrevista em Praga com Hyok, fui ao seu encontro na Coreia do Sul, e foi em Seul, na sequência de duas semanas de colaboração e de troca de impressões, que este livro começou a tomar forma (...).

"Quando conto como é a vida na Coreia do Norte aos miúdos da minha idade na Coreia do Sul, na maior parte do tempo eles não acreditam em mim", confiou-me Hyok. O que é que isso tem de espantoso? Como descrever esses país das inverosimilhanças? A Coreia do Norte abriga um dos mais detestáveis totalitarismos do planeta. Caracteriza-se por um culto da personalidade extravagante, uma economia destruída, um império da mentira e da propaganda e um gulag de pelo menos duzentos mil prisioneiros. Este «Jurassic Park» do comunismo distila um ambiente paranóico de guerra fria onde a denúncia de qualquer forma de dissidência é erigida como virtude. A sua população está repartida em diversas dezenas de «castas» sociais hierarquizadas pela burocracia segundo o seu grau de lealdade real ou suposta em relação ao «Querido Líder» Kim Jong-Il (filho do falecido «Grande Líder» Kim Il-Sung, que morreu em 1994). A fome que ali grassa desde 1993-1994 saldou-se por dois ou três milhões de mortos entre as categorias mais vulneráveis, apesar de uma ajuda internacional maciça: esta foi, em grande parte, desviada pelo regime em proveito do seu aparelho militar. (...)

A Coreia do Norte é também o Estado mais fechado do mundo. Todos os receptores hertzianos, de rádio ou de televisão, são bloqueados pelas frequências oficiais e nenhum jornal estrangeiro se encontra disponível. Apesar disso, os desertores que conseguem fugir desse país, fechado a sete chaves, de vinte e três milhões de habitantes são cada vez mais numerosos. Cerca de trezentos mil norte-coreanos conseguiram refugiar-se na China desde meados dos anos 90. Desses, vários milhares chegaram à Coreia do Sul, arriscando a vida. Contudo (...) raros são os editores e jornalistas que se interessam pelos seus relatos surpreendentes. Aqui temos um desses testemunhos excepcionais, o de uma criança, e por isso mesmo único.»

Phillipe Grangereau, «Prólogo» a Hyok Kang/Phillipe Grangereau, «Aqui É o Paraíso!», Uma infância na Coreia do Norte, Editora Ulisseia, colecção «Os Afluentes da Memória», tradução de António Carlos Carvalho, desenhos de Hyok Kang, Lisboa, 2007.
ISBN 978-972-568-568-6


publicado por annualia às 10:26
link | comentar
ANNUALIA
annualia@sapo.pt

TWITTER de Annualia

Artigos Recentes

O Homem da Capa Verde

O problema da política nã...

Viagem no tempo

... na verdadeira generos...

... o homem é simultaneam...

«A melhor influência que ...

... as causas da união, p...

A exaltação da liberdade

Antecipação: uma edição d...

... a partir de que momen...

Arquivo

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

tags

todas as tags

pesquisar

 

Subscrever feeds

blogs SAPO