«Uma visita ao Paço Patriarcal de S. Vicente de Fora, empreendida no início da década de 1880 por um pequeno grupo de personalidades da cultura, proporcionou uma surpresa destinada a intrigar, deleitar e apaixonar a sociedade portuguesa. Num recanto do paço, se bem que mal articuladas e obscurecidas pela falta de conservação, algumas tábuas de pintura antiga cativaram de imediato a atenção dos visitantes. A impressão causada pelas dezenas de rostos pintados naquelas tábuas, entre os quais se reconhecia o do infante D. Henrique, foi indelével.
(...)
Críticos de arte, historiadores, heraldistas, homens de letras e pintores sentiram-se atraídos para a arena de um debate que foi tomando foros de questão nacional, cativando especialmente a atenção do público educado, na segunda metade da década de 1920, quando os "egos" exacerbados de alguns dos contendores levaram a variados episódios de cunho rocambolesco e mesmo trágico.
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Entretanto, para além do mundo da erudição, o potencial de interesse da opinião pública no assunto mantém-se. Certamente, a individualidade dos retratados, aliada à mestria que é aparente em todo o conjunto pictórico, estão na origem do fascínio que os painéis exercem sobre nós.
Os portugueses dos mais variados graus de instrução sentem intuitivamente a grandeza desta pintura e reconhecem, emocionados e intrigados, nas personagens representadas os rostos graves dos seus antepassados que os contemplam no silêncio de um tempo que já passou há mais de cinco séculos.»
Jorge Filipe de Almeida
Maria Manuela Barroso de Albuquerque,
Os Painéis de Nuno Gonçalves,
Editorial Verbo, Lisboa 2003 (2ª edição aumentada)
Este livro sobre os Painéis de Nuno Gonçalves apresenta, na defesa da tese «fernandina», interessantíssimas soluções claramente seduzidas pela ideia de explicação «total», risco sério. Mas parte da sua plausibilidade assenta na razão pela qual teria entrado tão extraordinária pintura — uma das obras maiores da pintura europeia quatrocentista —, no negro buraco do tempo: inconveniência política. Depois do episódio infeliz de Alfarrobeira, D. Afonso V — o jovem do Painel do Infante — ou algum pressuroso e anónimo apaniguado por ele, não terá podido suportar a exposição pública da representação do regente D. Pedro (segundo o autor, a figura da esquerda, em primeiro plano, no Painel do Arcebispo) e terá remetido os painéis para a sombra esconsa do esquecimento. É, sem dúvida, uma funda tradição nacional. Jorge Colaço
A cronologia da Guerra Civil de Espanha inicia-se a 17 de Julho de 1937, data do pronunciamento militar em Melilla contra o governo da República.
Estudos sobre a Guerra Civil de Espanha aqui.
A Terceira Mãe, de Julieta Monginho, editado pela Campo das Letras, venceu o Grande Prémio de Romance e Novela APE/Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas. Ver notícia no Público.
Julieta Monginho nasceu em Lisboa, em 1958. É Licenciada em Direito. Em 1996 publicou o primeiro romance, Juízo Perfeito (D. Quixote). Seguiram-se: A Paixão Segundo os Infiéis (D. Quixote, 1998), À Tua Espera (D. Quixote, 2000, Prémio Máxima de Literatura), Dicionário dos Livros Sensíveis (Campo das Letras, 2000), Onde está J.? (Campo das Letras, 2002), Dez Contos Com Livro Dentro (co-autoria, Campo das Letras, 2004) e A Construção da Noite (Dom Quixote, 2005). Colabora regularmente em revistas literárias e jurídicas, bem como no blogue Arte dos Dias.
TEMPO PRESENTE, UMA REVISTA CONTRA-CORRENTE *
por António Leite da Costa
Já se encontra disponível o regulamento de participação na Feira EncontrArtes 2009, que se realiza no Parque de Feiras de Estremoz de 31 de Outubro a 2 de Novembro. Este evento, que decorre desde 2007, junta num mesmo espaço artes plásticas, artesanato, artes decorativas, alfarrabistas, livreiros, velharias e antiguidades, galerias, escolas e associações ligadas à cultura.
Para mais informações contactar:
«Foi em Praga, República Checa, na Primavera do ano de 2003, que me encontrei pela primeira vez com Hyok. Este rapazinho inteligente e tímido tinha sido convidado para este país de Leste por uma organização de defesa dos direitos humanos, a fim de dar testemunho sobre a sua vida na Coreia do Norte. Dois outros desertores, com uns quarenta e tal anos, tinham sido igualmente convidados. Eles evocaram longamente as suas dolorosas experiências no gulag norte-coreano. O jovem Hyok, pelo seu lado, sem dúvida devido ao seu carácter reservado, não se arriscou a pegar no microfone. Em contrapartida, o essencial daquilo por que tinha passado encontrava-se exposto nos pontos mais altos da sala alugada para essa ocasião, sob a forma de desenhos de traços umas vezes precisos, outras vezes desajeitados, mas sempre marcados por aquela sinceridade espontânea tão própria das crianças. O que ele tinha tanta dificuldade em exprimir por palavras desenhava-o às mil maravilhas, com uma excelente memória de pormenores.
Depois de ter fugido da Coreia do Norte em 1998, Hyok tinha vivido quatro anos na China e podia assim exprimir-se um pouco em chinês, língua que eu próprio falava. Tirando partido dessa ponte comum, convidei-o para se sentar à mesa comigo num restaurante de Praga. O adolescente contou-me como tinha sobrevivido à fome na Coreia do Norte: as sopas de casca de árvore, a caça aos ratos que fazia com os seus companheiros, as horas passadas a arrancar carvão nas galerias da mina, os roubos nocturnos nas herdades do Estado; o enfraquecimento, e depois a morte, de muitos dos seus camaradas de escola... Hyok relatava-me esses episódios com um ar indiferente, como se me falasse de um dia igual aos outros. Aquilo pelo qual tinha passado com olhos infantis alguns anos antes, milhões de outros norte-coreanos tinham-no igualmente vivido no seu quotidiano - e continuavam a vivê-lo no momento presente.
(...)
Três meses depois da minha entrevista em Praga com Hyok, fui ao seu encontro na Coreia do Sul, e foi em Seul, na sequência de duas semanas de colaboração e de troca de impressões, que este livro começou a tomar forma (...).
"Quando conto como é a vida na Coreia do Norte aos miúdos da minha idade na Coreia do Sul, na maior parte do tempo eles não acreditam em mim", confiou-me Hyok. O que é que isso tem de espantoso? Como descrever esses país das inverosimilhanças? A Coreia do Norte abriga um dos mais detestáveis totalitarismos do planeta. Caracteriza-se por um culto da personalidade extravagante, uma economia destruída, um império da mentira e da propaganda e um gulag de pelo menos duzentos mil prisioneiros. Este «Jurassic Park» do comunismo distila um ambiente paranóico de guerra fria onde a denúncia de qualquer forma de dissidência é erigida como virtude. A sua população está repartida em diversas dezenas de «castas» sociais hierarquizadas pela burocracia segundo o seu grau de lealdade real ou suposta em relação ao «Querido Líder» Kim Jong-Il (filho do falecido «Grande Líder» Kim Il-Sung, que morreu em 1994). A fome que ali grassa desde 1993-1994 saldou-se por dois ou três milhões de mortos entre as categorias mais vulneráveis, apesar de uma ajuda internacional maciça: esta foi, em grande parte, desviada pelo regime em proveito do seu aparelho militar. (...)
A Coreia do Norte é também o Estado mais fechado do mundo. Todos os receptores hertzianos, de rádio ou de televisão, são bloqueados pelas frequências oficiais e nenhum jornal estrangeiro se encontra disponível. Apesar disso, os desertores que conseguem fugir desse país, fechado a sete chaves, de vinte e três milhões de habitantes são cada vez mais numerosos. Cerca de trezentos mil norte-coreanos conseguiram refugiar-se na China desde meados dos anos 90. Desses, vários milhares chegaram à Coreia do Sul, arriscando a vida. Contudo (...) raros são os editores e jornalistas que se interessam pelos seus relatos surpreendentes. Aqui temos um desses testemunhos excepcionais, o de uma criança, e por isso mesmo único.»
Phillipe Grangereau, «Prólogo» a Hyok Kang/Phillipe Grangereau, «Aqui É o Paraíso!», Uma infância na Coreia do Norte, Editora Ulisseia, colecção «Os Afluentes da Memória», tradução de António Carlos Carvalho, desenhos de Hyok Kang, Lisboa, 2007.
ISBN 978-972-568-568-6