por Josué Montello*
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Em 1854, casa-se pela segunda vez o pai de Machado de Assis. Já este andava pelos 15 anos: era tempo de o pássaro franzino ir tratando de emplumar seu voo. A madrasta, Maria Inês da Silva, chegava naturalmente tarde para impor-se ao enteado. Daí, com certeza, não se terem entendido.
Há-de ter sido por esse tempo que Joaquim Maria fez a sua experiência no comércio, como caixeiro de uma loja de papel, e ali só permaneceu três dias. Sinal de que, no adolescente, já a natureza afirmativa do homem vinham dando de si. Outros eram os seus pendores; para horizontes mais amplos já ele então se voltava, com essa força teimosa que traz em si a vocação verdadeira. E não tardaria a encontrar, andando o tempo, seu ambiente adequado, na loja de Francisco de Paula Brito, impressor da Casa Imperial, editor de um jornal de modas e variedades, a quem se ligaria por vários laços de afinidade: de cor, de humildade, de espírito associativo, de vocação literária.
Paula Brito, poeta, livreiro e editor, soubera fazer de sua loja do Largo do Rocio ponto de encontro de figuras ilustres, umas ainda moças, outras já consagradas, entre políticos, jornalistas e escritores de nomeada. Em 1849, começara a publicar a «Marmota na Corte», que em Maio de 1852 mudaria de nome, passando a chamar-se «Marmota Fluminense», a qual, por sua vez, se denominaria apenas «A Marmota», a partir de 1857.
Na «Marmota Fluminense», a que foi admitido como revisor, Machado de Assis se elevaria a colaborador, e aí estrearia como poeta, a 12 de Janeiro de 11855. Também como editor, publicaria Paula Brito dois trabalhos de Machado de Assis: uma fantasia dramática, «Desencantos», vinda a lume em 1861, e uma tradução, «Queda que as Mulheres têm para os Tolos», do mesmo ano.
Menino e moço, iniciou-se Machado de Assis como tipógrafo na Imprensa Nacional. E foi ali, precisamente por ser mau operário, mais interessado nas suas leituras que na composição dos textos alheios, que fez amizade com o director da repartição, o romancista Manuel António de Almeida.
Machado de Assis ia assim, aos poucos, com o seu talento e a sua finura de maneiras, alargando círculo de bons amigos que lhe permitiriam gradativamente a ascensão social a que tinha direito. Em breve, o aprendiz de tipógrafo se viu transformado em revisor de provas do «Correio Mercantil», então dirigido por Francisco Otaviano e Pedro Luís.
Outra roda de amigos integrou também Machado de Assis por esse tempo: a que se reunia no escritório do Dr. Caetano Filgueiras, e o qual faziam parte, além do dono da casa e do futuro autor das «Crisálidas», os poetas Casimiro de Abreu, Macedo Júnior e Gonçalves Braga. (continua)
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* Publicado em Gigantes da Literatura Universal, vol. 26, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1972.