Em 22 de Janeiro de 1901 morria a Rainha Vitória de Inglaterra.
«Neta de Jorge III e filha de Eduardo, duque de Kent, e de Maria Luísa Vitória de Saxe-Coburgo Gotha, Alexandrina Vitória (n. 1819) ascendeu ao trono em 1837, na sequência de seus tios Jorge IV e Guilherme IV. Órfã de pai aos oito meses, foi educada pela mãe longe da corte, com alguma austeridade, que terá contribuído para certo puritanismo de atitude de que foi representante e inspiradora simultaneamente. Coroada em 1838, veio a casar, em 1840, com seu primo, Alberto de Saxe-Coburgo Gotha, dando início a um período de vida familiar feliz, com numerosa descendência, e a uma fase de aprendizagem política como rainha, que se prolongou até à morte do príncipe consorte, em 1861. Recusando uma função meramente passiva, Vitória insistiu em fazer-se ouvir, sobretudo na política externa, influindo em decisões fundamentais e conseguindo fazer aceitar a sua intervenção para além dos limites estritamente constitucionais, graças à sua persistência e gradual prestígio. (…)
No decurso do mais longo reinado que o Reino Unido conheceu, Vitória alterou de modo profundo a imagem da realeza, facto tanto mais notável tendo em consideração a pouca popularidade de que inicialmente desfrutava e o período de quase reclusão nos primeiros tempos de viuvez. Biógrafos e historiadores de diversas tendências sublinham a sua intuição e identificação espontânea com o pensar e sentir da camada dominante da sociedade do seu tempo. A época a que deu o nome foi assinalada por grandes transformações e contradições, nomeadamente pelos efeitos da revolução industrial, desenvolvimento do capitalismo e imperialismo, ascensão do proletariado, reformas sociais e educativas, movimentos ideológicos, revestindo-se de brilho e importância — até na literatura —, que os próprios críticos não deixam de reconhecer. Os jubileus de 1887 e 1897 deram lugar a expressões triunfais do apogeu do vitorianismo, mas a morte da soberana, no início do novo século, foi claramente sentida como marcando a passagem de uma era».
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Excertos do texto de Fernando de Mello Moser em Enciclopédia Verbo-Edição Século XXI, vol. 29.
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