Quinta-feira, 30 de Julho de 2009

George Russell (1923-2009)

 

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Músico, compositor, director de orquestra e teórico do jazz (Cincinnati, 23.6.1923 – Boston, 27.7.2009). Começou a tocar bateria muito jovem, mas quando finalmente conseguiu entrar numa grande orquestra, a de Benny Carter, foi substituído por Max Roach. Ouvindo Roach, Russell pensou seriamente em desistir da bateria. Em Nova Iorque voltou a entrar em contacto com Roach e outros, como Miles Davi e Gerry Mulligan, compondo a primeira peça musical de fusão do jazz com ritmos afro-cubanos, «Cubano Be/ Cubano Bop», estreada em 1947 no Carnegie Hall, a que se seguiu «Bird in Igor’s Yard», que juntava elementos da música de Charlie Parker com os de Igor Stravinski. A publicação, em 1953, do resultado das suas reflexões e pesquisas, Lydian Chromatic Concept of Tonal Organization, constitui a primeira exploração da relação vertical entre acordes e escalas. Ao longo dos anos 50 e 60, Russell compôs para músicos como Bill Evans (The Jazz Workshop), Art Farmer, Max Roach, Coltrane, tendo depois formado o seu próprio sexteto, com o qual percorreu os EUA e a Europa e gravou, por exemplo, Ezz-Thetic. Em meados da década de 60, fixou-se na Escandinávia, regressando aos EUA em 1969 para ensinar no Conservatório de Nova Inglaterra. Em 1985 o seu álbum The African Game recebeu duas nomeações para os Grammy. Em 1986 foi convidado para integrar a digressão mundial de The Living Time Orchestra, formada por músicos americanos e britânicos. George Russell foi bolseiro da Fundação MacArthur, da National Endowment for the Arts, da Fundação Guggenheim, foi eleito American Jazz Master e sócio correspondente da Academia Real Sueca, tendo recebido numerosos prémios musicais.
Discografia aqui.
 

 

 

 

 

 

 

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Terça-feira, 28 de Julho de 2009

Painéis de Nuno Gonçalves

 
«Uma visita ao Paço Patriarcal de S. Vicente de Fora, empreendida no início da década de 1880 por um pequeno grupo de personalidades da cultura, proporcionou uma surpresa destinada a intrigar, deleitar e apaixonar a sociedade portuguesa. Num recanto do paço, se bem que mal articuladas e obscurecidas pela falta de conservação, algumas tábuas de pintura antiga cativaram de imediato a atenção dos visitantes. A impressão causada pelas dezenas de rostos pintados naquelas tábuas, entre os quais se reconhecia o do infante D. Henrique, foi indelével.

(...)

Críticos de arte, historiadores, heraldistas, homens de letras e pintores sentiram-se atraídos para a arena de um debate que foi tomando foros de questão nacional, cativando especialmente a atenção do público educado, na segunda metade da década de 1920, quando os "egos" exacerbados de alguns dos contendores levaram a variados episódios de cunho rocambolesco e mesmo trágico.

(...)

Entretanto, para além do mundo da erudição, o potencial de interesse da opinião pública no assunto mantém-se. Certamente, a individualidade dos retratados, aliada à mestria que é aparente em todo o conjunto pictórico, estão na origem do fascínio que os painéis exercem sobre nós.

Os portugueses dos mais variados graus de instrução sentem intuitivamente a grandeza desta pintura e reconhecem, emocionados e intrigados, nas personagens representadas os rostos graves dos seus antepassados que os contemplam no silêncio de um tempo que já passou há mais de cinco séculos.»

 

Jorge Filipe de Almeida

Maria Manuela Barroso de Albuquerque,
Os Painéis de Nuno Gonçalves,
Editorial Verbo, Lisboa 2003 (2ª edição aumentada) 

 

Este livro sobre os Painéis de Nuno Gonçalves apresenta, na defesa da tese «fernandina», interessantíssimas soluções claramente seduzidas pela ideia de explicação «total», risco sério. Mas parte da sua plausibilidade assenta na razão pela qual teria entrado tão extraordinária pintura — uma das obras maiores da pintura europeia quatrocentista —, no negro buraco do tempo: inconveniência política. Depois do episódio infeliz de Alfarrobeira, D. Afonso V — o jovem do Painel do Infante — ou algum pressuroso e anónimo apaniguado por ele, não terá podido suportar a exposição pública da representação do regente D. Pedro (segundo o autor, a figura da esquerda, em primeiro plano, no Painel do Arcebispo) e terá remetido os painéis para a sombra esconsa do esquecimento. É, sem dúvida, uma funda tradição nacional. Jorge Colaço

publicado por annualia às 15:00
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Os enigmas dos Painéis: interpretação, interrogações e novos dados

 

 

«A diversidade das interpretações dos Painéis decorrem das diferentes identidades atribuídas à figura representada nos dois painéis centrais. A primeira identificação, desde o início sustentada por José de Figueiredo e secundada entre outros por Reinaldo dos Santos, foi com o mártir S. Vicente, padroeiro de Lisboa. Assentava ela, sobretudo, no culto prestado ao santo e no facto de a figura estar representada de dalmática, veste própria da dignidade eclesiástica (diácono) de S. Vicente. Esta filiação interpretativa terá larga fortuna durante o século xx, tendo sido seguida por muitos historiadores nacionais e estrangeiros. Mas não faltou quem a contestasse. Alfredo Leal fê-lo logo em 1917, propondo uma leitura que identificava a figura central com Sta. Catarina, padroeira de D. Afonso V. Em 1925 surgiria outra tese, de José Saraiva, que defendeu a identificação com D. Fernando, o Infante Santo.

Inicialmente dispostos como dois trípticos, foi só depois de 1926 que a sua disposição actual foi estabelecida (embora só exibida em 1940) por Almada Negreiros e José de Bragança, com base na observação da perspectiva dos ladrilhos do chão representado na pintura.

Outras teses surgiriam ainda, como a de Belard da Fonseca que pretendeu ver na enigmática figura o Cardeal D. Jaime, sepultado na basílica florentina de S. Miniato, para onde se destinariam os painéis. Foram, porém, as teses vicentina e fernandina que mais distintamente emergiram das diversas análises e da polémica que se instaurou.

(…)

Depois de anos de relativa acalmia da veemência discordante, que não diminuíram o interesse pelos Painéis, unanimemente reconhecidos como uma das obras maiores da pintura europeia quatrocentista, surgiu no ano 2000 uma novo estudo favorável à hipótese fernandina. Jorge Filipe de Almeida não só identifica a figura central dos Painéis com o Infante Santo (justificando o uso da dalmática com uma «vontade de dignificação»), como interpreta, com larga argumentação, todo o conjunto como uma representação simbólica das suas exéquias, nelas comparecendo a «Ínclita Geração». Neste contexto, não é desprezível a observação do esquife vazio do Painel da Relíquia (o mais à direita), onde também é exibido o escalpe de Sto. António, que o infante D. Pedro — regente do Reino e, segundo o mesmo autor, a figura da esquerda, em primeiro plano, do Painel do Arcebispo, na diagonal do jovem D. Afonso V, no Painel do Infante — teria oferecido à Confraria do Bem Aventurado Santo Antoninho a cuja casa se teriam destinado os Painéis e onde também funcionava o Senado da Câmara».

Excertos da entrada «Questão dos Painéis» na Enciclopédia Verbo-Edição Século XXI, vol. 24, Lx., Setembro de 2002.

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Morte da jornalista Edite Soeiro (1934-2009)

«Edite Soeiro nasceu em Angola, onde iniciou a sua actividade jornalística, no jornal "O Intransigente", em Benguela. Posteriormente, radicada em Lisboa, Edite Soeiro, fez parte das redacções da "Flama", "Notícia", "Jornal" e revista "Visão", onde ainda fazia parte da ficha técnica.
Em 2006, foi distinguida pelo Clube de Jornalistas com o Prémio Gazeta de Mérito, pela sua carreira não só na reportagem mas também pelas suas capacidades de chefia e direcção».

Ver notícia na versão online de Visão e no Público.

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Candidatos ao Prémio Booker

Anunciada a lista longa dos candidatos:

Byatt, AS The Children's Book (Random House - Chatto and Windus)

Coetzee, J M Summertime (Random House - Harvill Secker)

Foulds, Adam The Quickening Maze (Random House - Jonathan Cape)

Hall, Sarah How to paint a dead man (Faber and Faber)

Harvey, Samantha The Wilderness (Random House - Jonathan Cape)

Lever, James Me Cheeta (HarperCollins - Fourth Estate)

Mantel, Hilary Wolf Hall (HarperCollins - Fourth Estate)

Mawer, Simon The Glass Room (Little, Brown)

O'Loughlin, Ed Not Untrue & Not Unkind (Penguin - Ireland)

Scudamore, James Heliopolis (Random House - Harvill Secker)

Toibin, Colm Brooklyn (Penguin - Viking)

Trevor, William Love and Summer (Penguin - Viking)

Waters, Sarah The Little Stranger (Little, Brown - Virago)

 

 

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Segunda-feira, 27 de Julho de 2009

Merce Cunningham (1919-2009)

Bailarino e coreógrafo americano (Centralia, Washington, 16.4.1919 – Nova Iorque, 27.7.2009). Estudou em Washington e depois na Carnish School of Fine and Applied Arts, de Seattle, ampliando os seus conhecimentos de modern dance na Bennington School of Dance e na Martha Graham School ao mesmo tempo que se iniciava no ballet clássico estudando na School of American Ballet, de Nova Iorque. Em 1940 ingressou como solista na Martha Graham Dance Company, onde permaneceu até 1945 e se impôs pela sua personalidade e originalidade. Em 1943 iniciou a sua carreira de coreógrafo, criando o seu próprio estilo, no qual tiveram grande influência o compositor John Cage, a música concreta, a arte abstracta e as novas concepções da criação coreográfica. O seu estilo poderoso caracterizou-se sobretudo pela total anulação de qualquer suporte narrativo e pela utilização de objectos, imagens, jogos de luzes e efeitos cromáticos. Tornou-se uma das mais brilhantes personalidades da modern dance e da arte de vanguarda e um mestre e teorizador de grande prestígio. Em 1953 criou a sua própria companhia, a Merce Cunningham Dance Company, com a qual percorreu o Mundo, dirigindo cursos em numerosas escolas e universidades dos EUA. Entre os seus principais trabalhos, podem mencionar-se: The Wind Remains, Totem Ancestor, Four Walls, Dream, The Monkey Dances, 16 Dances for Soloits and Company of Three, Suite for Five, Untitled Solo, Waka and Handss-Birds, Suite by Chance, Un jour ou deux, Rebus, Squaregame, Travelogue, Fractions, Locale...

Uma coreografia de Merce Cunningham
:


 Ver notícia no Público

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Sábado, 25 de Julho de 2009

2009 Ano Internacional da Astronomia V

 

por Máximo Ferreira

Astrónomo

QUINTA PARTE
O céu património da Humanidade

O termo «património» que, em tempos, correspondia a «o que se recebia do pai», possui actualmente um significado diferente e muito mais vasto, quer do ponto de vista pessoal quer colectivo. Abrange, hoje, locais arqueológicos, edifícios, paisagens, artefactos, instrumentos de uso comum, canções, danças, tradições orais e outras expressões da vida quotidiana, bem como todos os vestígios do passado que contribuíram para o estado actual dos povos, quer do ponto de vista do tipo e variedade de conhecimentos adquiridos, quer das formas de vida que resultaram de factores históricos.

Nesse sentido, o céu pode considerar-se o mais rico e amplo património, com diversas componentes. Foi nele que se estabeleceram os mais antigos factores de curiosidade e conhecimento e foi por ele que os nossos antepassados aprenderam a regular as suas vidas. Convivemos ainda com inúmeras expressões resultantes (pensa-se) da observação dos céus e da verificação de que entre a Terra (durante muitos séculos considerada imóvel e no centro do mundo) e o firmamento (também designado por «céu» ou «esfera das fixas») deslizavam sete «astros errantes»: Lua, Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno, por ordem crescente das distâncias a que se julgavam as suas trajectórias em volta da Terra Daí terá resultado a «simpatia» que ainda hoje se nutre pelo número sete: o afirmar que existem sete cores num arco-íris, as tradições orais de «sete mulheres do Minho», as «sete vidas dos gatos», o terem sido adoptadas «sete notas» para escrever composições musicais, os provérbios e cantigas com o número sete e, muito provavelmente -- embora muito mais antigo – o facto de textos sagrados terem descrito a criação do mundo em sete dias e os mortais castigados com sete pecados mortais.

Presentemente, a contemplação do céu oferece-nos elementos importantes da história da humanidade, das culturas em diversos pontos do planeta e, em muitos casos, angústias e medos que os nossos antepassados representavam no firmamento. Por outro lado, é nele que vemos passear pontos luminosos que correspondem às máquinas que somos capazes de criar para – em geral – contribuirmos para o bem-estar da humanidade actual e acumularmos conhecimentos e desenvolvermos recursos que proporcionem aos vindouros vidas ainda mais confortáveis.

É no espaço que colocamos grande parte das nossas esperanças de conhecer novos mundos e, eventualmente, outros seres, mas é também do espaço que pensamos conhecer melhor a Terra, os seus recursos, a sua evolução e até mesmo a sua estrutura.

O «céu» é tudo o que «está» por sobre a nossa cabeça e é ele que contém ainda o fascínio do convite à imaginação e ao sonho. Ao céu estão associados factos de todas as épocas decisivas da humanidade e é nele que «vemos» inúmeros recursos da vida moderna e futura, razão por que reúne todos os atributos de um património que deve ser enaltecido e preservado.

Por isso, às recomendações que certamente vão levar à declaração do céu como património da Humanidade, por parte da UNESCO, deverá juntar-se um esforço permanente de, não só preservar condições de observação do céu, mas devolver aos cidadãos (pelo menos) uma parte considerável desse direito. São frequentemente considerados como resultado de «exibicionismo», «ignorância», «desprezo» e outros predicados, actos que consistem em colocar iluminação artificial intensa em ruas, habitações, edifícios, monumentos e até recintos desportivos, através de candeeiros e projectores de concepção inadequada ao objectivo de iluminar.

Na verdade, a maioria dos sistemas de iluminação são visíveis por quem se situe em pontos muito acima dos locais onde se encontram instalados (inclusive os passageiros de aviões) o que significa que muita da energia luminosa é projectada para cima e não para o objecto a iluminar.

Para além de desmesurados consumos, ocorrerão inevitáveis deteriorações de materiais (com particular preocupação para os constituintes de monumentos) e agrava-se a agressão à iluminação natural (luz solar durante o dia e ausência de luz durante a noite).

Mas, certamente mais grave, aos cidadãos vai sendo cada vez mais vedado o contacto com o céu, o seu mais importante património. Nas cidades e outros meios urbanos em que a exuberância se manifesta por despropositada poluição luminosa é, em muitos casos, já impossível ver estrelas e, muito menos, grupos de estrelas que lembrem uma ou outra história antiga. Os ambientes e paisagens alteram-se radicalmente sendo, já em muitos casos, difícil contemplar um ambiente nocturno… durante a noite.

«2009 Ano Internacional da Astronomia» proporcionará acções de sensibilização dos cidadãos em geral para a importância da Astronomia na vida quotidiana, não só como património histórico mas também como factor de extraordinário valor -- actual e futuro -- para o bem estar da humanidade. Para além disso, espera-se o advento de possibilidades de demonstrar como a tomada de medidas tendentes a travar o incremento da poluição luminosa -- e mesmo a reduzir a actual -- contribuirá não só para a redução do esbanjamento dos recursos energéticos do nosso planeta, mas também para a melhoria das condições de vida humana.

A sensibilização das populações em geral terá de começar pelos organismos governamentais, não só através de sugestões de medidas (como acessórios de iluminação menos agressivos) mas ainda pela transposição para a legislação nacional de normas já definidas internacionalmente.


*Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009

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Sexta-feira, 24 de Julho de 2009

André Falcon (1924-2009)

 

Actor francês (Lyon, 28.11.1924 – Paris, 21.7.2009) que era actualmente o mais antigo membro honorário da Comédie-Française. Formado no Conservatório de Paris, em 1946, a sua voz, bem como a sua presença, tornaram-no conhecido do público da Comédie-Française, onde interpretou durante 20 anos (até 1966) as principais personagens do teatro de Sófocles, Racine, Corneille, Shakespeare, Molière, Victor Hugo, Schiller, mas também Monthérlant ou Claudel. Fora da Comédie (nunca abandonou os palcos), representou Shaw e Mishima, Pirandello e Durrell, Dürrenmatt e Edward Albee, entre muitos outros autores. Estreou-se no cinema nos anos 50, tendo participado em filmes de René Clément (Paris brûle-t-il?, 1966), François Truffaut (Baisers volés, 1968), Philippe Labro (Tout peut arriver, 1969; Sans mobile apparent, 1971), Jacques Deray (Un peu de soleil dans l’eau froide, 1971; Borsalino & Co., 1974; Le Gang, 1977; Trois Hommes à abattre, 1980), Claude Lelouch (L’aventure c’est l’aventure, 1972; La Bonne Année, 1973), Jacques Demy (L’Évenement plus important depuis que l’homme a marché sur la lune, 1973), Henri Verneuil (La Serpent, 1973; I comme Icare, 1979; Mille milliards de dollars, 1982), Gérard Oury (Les Aventures de Rabbi Jacob, 1973), Claude Chabrol (Nada, 1974), Claude Sautet (Mado, 1976), Édouard Molinaro (L’Homme pressé, 1977; La Veuve rouge, 1982), Carlos Saura (Les Yeux bandés, 1978; Deprisa, deprisa, 1980) e Bertrand Tavernier (Capitaine Conan, 1996). Na televisão, participou em numerosos filmes e séries como Enquêtes du Commissaire Maigret ou Messieurs les jurés.

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2009 Ano Internacional da Astronomia IV

por Máximo Ferreira

Astrónomo

 

QUARTA PARTE
O conhecimento astronómico impulsionador de ciências e tecnologias


Na época dos descobrimentos, o saber astronómico -- embora na sua essência baseado no modelo geocêntrico -- constituía a base da navegação por regiões desconhecidas. Não era ainda possível determinar a longitude mas já tinham sido abandonados os medievais métodos de determinar as horas pela projecção de sombras de objectos presos na mão ou mesmo os relógios de Sol implantados no solo ou em paredes.

Faziam-se esforços para desenvolver relógios que pudessem manter a hora «levada» de terra, para -- a partir da comparação com a determinada noutros locais -- se obter a longitude.

Experimenta-se a utilização da paralaxe da Lua ou, depois do advento do telescópio, as posições das luas de Júpiter. Mas só após o início da era espacial se alcança o rigor máximo com a colocação de constelações de satélites artificiais orbitando a Terra, cobrindo o planeta com uma «rede» de ondas electromagnéticas que, para além de constituírem suporte de comunicações, facilitam extraordinariamente a navegação no mar, em terra e no ar.

A formulação matemática estabelecida por Newton permitia explicar a razão por que os planetas não caem no Sol, as órbitas dos cometas ou a razão das marés, e permitia ainda admitir a possibilidade de escapar à atracção gravítica da Terra.
Em 1903, o físico russo Konstantin Tsiolkovsky desenvolve o formalismo newtoniano com vista a estabelecer teorias que concretizassem a libertação da gravidade terrestre. Exprimiu a sua convicção escrevendo «a Terra é o berço da humanidade mas ninguém vive no berço toda a vida». Em 1957 é colocado em órbita terrestre o primeiro satélite artificial e, menos de quatro anos, depois Yuri Gagarine torna-se o primeiro humano a executar, no espaço, uma volta à Terra em apenas 108 minutos.

Sucedem-se lançamentos de engenhos em direcção à Lua, alguns dos quais fotografam e enviam imagens da face lunar nunca observável a partir do nosso planeta.

No Natal de 1968 três astronautas executam três voltas à Lua, aproximando-se a apenas cento e dez quilómetros da superfície lunar.

Em Julho de 1969, pela primeira vez, terrestres «invadem» um astro diferente daquele em que nasceram. Estava confirmada a convicção de Tsiolkovsky!

Depois, o nosso conhecimento do Sistema Solar e do espaço exterior aumentou extraordinariamente, à custa não só do número crescente de engenhos preparados para o efeito mas, essencialmente, como resultado de avanços científicos e tecnológicos.

Com o objectivo de «olhar» o céu a partir do exterior da atmosfera terrestre e, assim, evitar o «engano» produzido pela absorção de alguns comprimentos de onda da radiação vinda do espaço, equipam-se satélites artificiais que, depois de lançados, podem ficar anos a girar em volta da Terra. Podem detectar radiações infravermelhas de regiões de nebulosas onde estão estrelas em fase de formação, captar radiações X dos buracos negros ou registar imagens na região central de galáxias longínquas. De imediato, tais sinais captados são transformados em frequências muito mais baixas para que possam atravessar a atmosfera sem interagirem com os componentes atmosféricos e, por isso, serem atenuados ou absorvidos. Uma vez recebidos em estações na superfície terrestre, o sinal é reposto como havia sido recebido no topo da atmosfera, constituindo assim informação fiel da radiação captada pelo satélite.

No domínio do visível, captam-se já evidências da existência de planetas em volta de outras estrelas, confirmando-se assim a convicção de que o único sistema solar conhecido – o nosso – será apenas um dos muitos milhões de milhões que existirão no Universo.

O desenvolvimento de tecnologias que permitam concentrar grande número e diversidade de equipamentos num mesmo satélite, capazes de recolherem dados para suportar investigações diversas, levou à miniaturização de componentes muitos dos quais são aplicados na vida quotidiana, em áreas bem diferentes da Astronomia ou de domínios aeroespaciais. Os computadores de tamanhos extraordinariamente reduzidos mas com altas capacidades, equipamentos utilizados em medicina (quer em diagnósticos quer em tratamentos ou mesmo intervenções cirúrgicas), sistemas de controlo e detecção a grandes distâncias, etc., são apenas alguns dos recursos cuja eficácia e redução de tamanho terão sido consequência mais ou menos directa de preocupações inerentes a estudos astronómicos, em terra ou no espaço.

Por outro lado, a vida diária na Terra está permanentemente condicionada pela tecnologia que gira em torno do planeta, no espaço exterior que se estende (pelo menos) a trinta e seis mil quilómetros.

Giram permanentemente em volta da Terra satélites artificiais que obtêm imagens da atmosfera terrestre e as enviam para superfície (para que delas se façam deduções quanto ao «estado do tempo» em diversas regiões do globo), ou que permitem ligações telefónicas ou de televisão para regiões longínquas. No céu nocturno parecem estrelas em movimento lento e fazem, actualmente, parte de passatempos que ocupam alguns terrestres a olhá-los, a comparar velocidades, a estimar a «altura» das suas trajectórias ou mesmo a verificar em que posição da esfera celeste se «apagam» para assim se perceber a direcção em que – nesse momento – se projecta a sombra da Terra.

Bem mais distantes se encontram as estrelas e, para lá das que constituem a nossa galáxia, outras galáxias que, na esfera celeste, nos parecem pequenas nuvens mas que, algumas delas, «prometem» contributos importantes para conhecermos melhor o planeta Terra. Os objectos celestes conhecidos hoje como quasars serão – segundo as convicções actuais – núcleos de galáxias extraordinariamente distantes, cujo aspecto de grande luminosidade será resultado de fenómenos violentos que, provavelmente, conduzirão à formação de buracos negros na parte central de cada uma delas.

Ora, os quasars constituem já alvos para que se apontam radiotelescópios de alta resolução, situados em pontos distantes da superfície terrestre. Registadas as orientações de cada uma das antenas colocadas em diferentes placas da Terra, depois de cada «pontaria» efectuada para um mesmo quasar, a operação será repetida alguns anos depois.

Dado que a galáxia cujo centro brilha intensamente se encontra muito distante, qualquer diferença na orientação das antenas para o observarem, dever-se-á, não a deslocamento do quasar mas à «migração» da placa em que se situa a antena, cuja orientação precisa de ser corrigida.

De tal investigação minuciosa e paciente se «acompanhará» (espera-se) a tectónica de placas, com a consequente capacidade de perceber – ao longo de anos --que regiões do globo terrestre apresentam propensão para formar montanhas ou, pelo contrário, onde poderão surgir depressões e outros resultados do afastamento das placas.

 

*Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009


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publicado por annualia às 09:46
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Quinta-feira, 23 de Julho de 2009

2009 Ano Internacional da Astronomia III

por MÁXIMO FERREIRA

Astrónomo

TERCEIRA PARTE
O Céu na Literatura


São inúmeros os textos literários que constituem autênticas relíquias de grande parte da humanidade, pelos seus conteúdos ligados à contemplação do céu ou a viagens à Lua ou a locais fictícios do cosmos.

Para além da imaginária viagem de um barco à vela que, arrancado das ondas do mar por um violento vendaval, vai ter à Lua (obra de Luciano de Samósata, no século II da nossa era), à surpresa de Cyrano de Bergerac ao ouvir falar francês quando descia («pensava» ele) na Lua, depois de levado pelo orvalho contido em cabaças atadas à volta da cintura, ou ainda ao imortal livro de Júlio Verne, Da Terra à Lua, muitas foram as obras que, em prosa, em verso ou mesmo em banda desenhada, abordaram temas com personagens – em terra ou no espaço – envolvidos no espírito que a curiosidade pelo desconhecido e a imaginação incute no ser humano e o lança em aventuras mais ou menos realistas.

Constituem autênticas pérolas da literatura os planetas visitados pelo Principezinho de Saint-Exupéry ou mesmo as aventuras de Tintim na Lua.

Talvez menos conhecidos no mundo, Camões e a sua genial obra, Os Lusíadas, descrevem a mais extraordinária lição de Astronomia, não só ao longo de toda a obra mas, essencialmente, na «aula» dada pela deusa Tétis a Vasco da Gama, «perante» a «…grande máquina do Mundo, / Etérea e elemental…».

Já cerca de cento e cinquenta anos antes, o Rei D. Duarte no seu Leal Conselheiro havia incluído um texto sobre astronomia prática com o objectivo de explicar «… a maneira de conhecer a estrella do norte e per ella suas guardas aa mea noite e menhãa, …».

Na verdade, já cerca de duzentos anos antes do «rei eloquente» havia sido estabelecido um método semelhante para saber as horas pelas posições da estrela polar. No entanto, D. Duarte torna o seu mais completo a ponto de, com ele, poder não só conhecer a hora mas também saber os momentos do nascimento ou do ocaso do Sol. Tais técnicas haveriam de conduzir à elaboração dos «nocturlábios», instrumentos adaptados à utilização da estrela polar (que deveria ser observada através do orifício central) e com um ponteiro móvel que seria orientado na direcção de Kochab, a «guarda dianteira» da Ursa Menor, ou seja, a estrela que «vai à frente» no movimento aparente daquela constelação circumpolar.

Os nocturlábios foram também adaptados para «ver» as horas a partir da posição do Cruzeiro do Sul.

Ao que parece, a primeira referência a «nocturlábio» é feita por Martin Cortés no seu manual Arte de Navegar (1551) que, no mesmo ano, foi traduzido para inglês.

*Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009

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publicado por annualia às 17:03
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Curso de Jornalismo Literário

 Quem Somos

promove um Curso de Jornalismo Literário, em Outubro. O formador é Paulo Moura, repórter do jornal Público e docente de Reportagem e Jornalismo Literário na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa.


publicado por annualia às 14:23
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Prémio de Literatura da União Europeia

Foram anunciados, na semana passada, os nomes dos 12 autores europeus distinguidos pelo Prémio de Literatura da União Europeia, atribuído este ano pela primeira vez pela Comissão Europeia, a Federação Europeia de Livreiros, o Conselho de Escritores Europeus e a Federação Europeia de Editores.

 

O autor sueco Henning Mankell foi nomeado Embaixador do Prémio de Literatura da União Europeia.

Os vencedores em cada um dos países participantes foram:

Paul Hochgatterer (Áustria) / Die Süsse des Lebens (2006)
Mila Pavicevic (Croácia) / Djevojčica od leda i druge bajke (2006)
Pavol Rankov (Eslováquia) / Stalo sa prvého septembra (alebo inokedy) (2008)
Emanuelle Pagano (França) / Les Adolescents troglodytes (2007)
Scéczi Noémi (Hungria) / Kommunista Monte Cristo (2006)
Karen Gillece (Irlanda) / Longshore Drift (2006)
Daniele Del Giudice (Itália) / Orizzonte mobile (2009)

Laura Sintija Černiauskaitė(Lituânia) / Kvėpavimas į marmurą (2006)
Carl Frode Tiller (Noruega) / Innsirkling (2007)
Jacek Dukaj (Polónia) / LÓD (2007)
Dulce Maria Cardoso (Portugal) / Os Meus Sentimentos (Asa, 2005)
Helena Henschen (Suécia) / I skuggan av ett brott (2004)
 

O júri português foi presidido por Fernando Guedes, editor e antigo presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, da Federação Europeia de Editores e da União Internacional de Editores, e constituído por Henrique Mota, editor, vice-presidente da APEL e representante português na Federação Portuguesa de Editores, José Manuel Mendes, escritor e presidente da Associação Portuguesa de Escritores, Margarida Dias Pinheiro, livreira e antiga representante portuguesa na Federação Europeia de Livreiros, Maria Carlos Loureiro, do Ministério da Cultura.

Dulce Maria Cardos nasceu em Trás-os-Montes, em 1964, indo para Angola ainda criança, regressando em 1975. Formou-se em Direito, na Faculdade de Direito de Lisboa. O seu primeiro romance foi Campo de Sangue (2002).

 

 

publicado por annualia às 11:23
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