Ao que parece, não existe hoje um público leitor/comprador de livros de contos. Sendo assim, também não há quem os publique. Provavelmente, também não há quem os escreva. Imagino várias razões para que isto aconteça, mas uma surge com particular evidência: o conto é uma arte difícil. Porquê? Porque é mais «fácil» escrever um romance do que uma história breve. Pondo o dedo na ferida: é mais fácil (e mais rápido) escrever muito do que escrever pouco.
O conto exige uma dupla contenção. Em primeiro lugar, na arquitectura da história, desbastada do que não seja essencial para situar, desenvolver apenas na justa medida para tirar um determinado efeito: poético, absurdo, enigmático, exemplar, o que for. Em segundo lugar, a contenção da escrita. Tudo tem de ser dado de uma forma concentrada, encontrando na personagem e na paisagem um traço essencial mas suficiente para estabelecer um contrato de cumplicidade com o leitor. É que a arte do conto é exigente, tanto para quem escreve como para quem lê. Dá trabalho a ambas as partes.
Atribui-se a Drummond a frase «escrever é a arte de cortar palavras», certeira formulação de um lema que não é propriamente novo. Já Boileau tinha escrito: «Si j'écris quatre mots, j'en effacerai trois». Eis um procedimento que reclama tempo e meditação.
As colectâneas de contos, tão frequentes noutro tempo, quase desapareceram por completo. Praticamente todos os grandes romancistas escreveram contos, depois coligidos ou antologiados, exercitando assim um género que está para a grande narrativa como o desenho está para a pintura. E sabemos todos como pintam os artistas que não sabem desenhar.
Seria fastidioso, porque todas as listas são fastidiosas, enumerar os grandes contos ou os grandes contistas da literatura universal, nem sei se é ainda possível descobrir na feira do livro muitas das velhas ou não tão velhas antologias. De qualquer maneira, é certamente possível redescobrir os mestres contadores de língua portuguesa (Machado de Assis, Trindade Coelho, Torga, João de Araújo Correia e muitos outros que injustamente aqui não cabem), até porque algumas das suas colectâneas são obras fundamentais, como a Léah de José Rodrigues Miguéis, O Fogo e as Cinzas de Manuel da Fonseca, as Histórias Castelhanas de Domingos Monteiro, de novo apenas para referir uns poucos.
Escrevia há pouco tempo Alberto Manguel que «por absurdas razões comerciais, as editoras decretaram que os contos não se vendem», acrescentando, porém, que, apesar disso, eles continuariam a ser escritos e lidos «talvez porque, na sua precisão clássica e modesta, permitem que concebamos a insuportável complexidade do mundo como uma íntima e breve epifania.»
Jorge Colaço
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Divulgador de banda desenhada e do cinema de animação em Portugal (Lisboa, 10.7.1925 – Cascais, 4.5.2009). Ver biografia no Público.
«Fiz este álbum para mostrar aos meus sobrinhos alguma coisa da vida e do mundo dos seus avós Margarida e Vasco, com quem eles não tiveram oportunidade de conviver. Eu, que tive a sorte de conhecer bem os meus avós, queria falar-lhes dos seus, e também doutras pessoas muito queridas, parentes e amigos sem os quais o retrato da nossa família ficaria muito incompleto.
Vera Futscher Pereira nasceu em 1953, em Léopoldville (Kinshasa). Passou uma parte da infância em São Francisco e um período da adolescência em Madrid. Após concluir o Curso de Formação Artística (1974), na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa e um estágio (1975) no Centre de Formation de Journalistes, em Paris, começou a trabalhar como tradutora no Jornal Novo (1976). Foi jornalista nas agências noticiosas ANOP e NP (1977-1984) e Relações Públicas na Cinemateca Portuguesa (1983-1986). Desde 1986, exerce a profissão de intérprete de conferência, após completar um estágio de formação organizado pelo Parlamento Europeu, na École de Traduction et d'Interprétation da Universidade de Genebra. Foi sócia fundadora das empresas "Cliché, Lda" (1980-1985) e "GIIC, Lda" (1990-2006). Trabalha como intérprete e tradutora em regime de freelance desde 1987. É autora do blog Retrovisor.
O embaixador Vasco Futscher Pereira (1922-1984), licenciado em Histórico-Filosóficas, entrou na carreira diplomática em 1947. Prestou serviço em Rabat, Leopoldville (hoje Kinshasa), Karachi, Madrid e Bona. Embaixador no Malawi (1969-1972), na Alemanha (1973-1974) e no Brasil (1974-1977). Ocupou posteriormente o lugar de representante permanente nas Nações Unidas. Foi Ministro dos Negócios Estrangeiros do VIII Governo Constitucional (1981-1983),
O autor da História Secreta de Portugal, irmão do pensador Orlando Vitorino e último representante vivo do chamado grupo de Filosofia Portuguesa, de que fizeram parte Álvaro Ribeiro, José Marinho, Eudoro de Sousa, Agostinho da Silva e outros, faz hoje 82 anos (n. Almeida, 2.5.1927).
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Jorge Colaço