Encontra muita informação detalhada sobre o autor, a sua obra e as suas personagens, na página oficial do Sir Arthur Conan Doyle Literary Estate.
Primeira edição em Almanaque (1887) e primeira edição em livro (1888)
Foi apresentada a Fundação António Quadros.
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Meu caro poeta,
Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola traçada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo o poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o faziam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radiotividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escrever para os súditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos, aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? - perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: «eu vos trago a Verdade», enquanto o poeta, mais humildemente, limita-se a dizer a cada um: «eu te trago a minha verdade». E o poeta quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!
Meu poeta, se estas linhas te estão aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as digressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: «Que é a poesia? Por que se tornou poeta? Como escreve os seus poemas?» A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.
A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação (em vez de associações de idéias, associações de imagens; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas em barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma benção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com um cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.
Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos dezessete anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz:
«Eu não te largarei até que me abençôes». Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técnica dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
Em todo o caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre que for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe a sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que lá vai seguindo com os seus detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, aindanão é; mostra-lhes, pois, estas linhas.
Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.
Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?
Mário Quintana
Texto incluído no volume Caderno H (1973, 22006).
Psicólogo e professor (Mealhada, 1.6.1922 – Lisboa, 19.3.2009) formado em Ciências Históricas e Filosóficas, em 1947, na Faculdade de Letras de Coimbra, onde se diplomou em Ciências Pedagógicas, tendo feito estudos complementares em Estrasburgo, Hamburgo e Paris. A partir de 1956, dedicou-se ao ensino (Faculdade de Letras de Lisboa e Instituto Superior de Psicologia Aplicada) e à investigação, nos campos da Psicologia e da Psicopedagogia (Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian). Interessou-se especialmente pela problemática epistemológica da Psicologia e da Pedagogia, pela «psicologia de grupo» e pelos problemas teóricos e práticos da orientação e do aconselhamento psicopedagógico, áreas em que deixou também obra publicada. Organizou também diversas colectâneas literárias (Confronto, 1946; Antologia do Conto Moderno, 1947; Sísifo - Fascículos de Poesia e Crítica, 1951-1952). Dirigiu (1970) o Instituto de Orientação Profissional de Lisboa. Foi director da Enciclopédia Verbo Juvenil e da Enciclopédia Verbo.
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Actriz britânica (Londres, 11.5.1963 - Nova Iorque, 18.3.2009), filha do realizador Tony Richardson e da actriz Vanessa Redgrave. Formada pela Central School of Speech and Drama, de Londres, em 1986 foi premiada pela crítica pelo seu desempenho na peça A Gaivota, de Tchekov. Em 1992, foi distinguida no mesmo âmbito pelo papel principal em Anna Christie, pelo qual foi também nomeada para os Tony, depois de a peça ter sido produzida na Broadway. Outros galardões convergiram no reconhecimento daquela sua interpretação. Em 1998 ganhou mesmo um Tony, entre outros prémios, pelo seu desempenho como Sally Bowles, na produção de Cabaret que Sam Mendes levou a cabo.
No cinema, ganhou o seu primeiro papel importante no filme Gothic (1986, de Ken Russell). Dois anos depois, Paul Schrader deu-lhe o papel de protagonista no filme Patty Hearst e chamou-a ao elenco de The Comfort of Strangers (1990), no quai foi justamente distinguida, tal como em Widows' Peak (1994, de John Irvin),
Outros filmes: The Handmaid's Tale (1990, de Volker Schlöndorff), Past Midnight (1991, de Jan Eliasberg), Nell (1994, de Michael Apted), The Parent Trap (1998, de Nancy Meyers), Blow Dry (2001, de Paddy Breathnach), Chelsea Walls (2001, de Ethan Hawke), Waking Up in Reno (2002, de Jordan Brady), Maid in Manhattan (2002, de Wayne Wang), Asylum (2005, de David MacKenzie), The White Countess (2005, de James Ivory), Evening (2007, de Lajos Koltai), Wild Child (2008, de Nick Moore).
Isaac Rosa (n. Sevilha,1974) é autor da obra de teatro Adiós muchachos: casi un tango, que foi galardoada com o Prémio Caja España de teatro breve (1997). A sua primeira obra narrrativa foi El ruido del mundo, texto publicado no volume colectivo Los bordes del abismo (1998), mas o seu primeiro romance foi La mala memoria (1999). O seu outro romance, El vano ayer (2004), foi distinguida com os prémios Ojo Crítico de Narrativa 2004, o XIV Prémio Internacional de Novela Rómulo Gallegos e o Prémio Andalucía de la Crítica (2005).
Passos Manuel, Almeida Garrett, Alexandre Herculano e José Estevão de Magalhães
por Columbano Bordalo Pinheiro (Passos Perdidos, Assembleia da República)
José Estêvão Coelho de Magalhães (Aveiro, 26.11.1809 - Lisboa, 3.11.1863) distinguiu-se como político e orador. Ingressou no Batalhão Académico após a restauração do absolutismo (1828), conseguindo sublevar os liberais da sua região natal. Emigrou depois para a Galiza e daí passou a Inglaterra, desembarcando no Mindelo, a 8 de Julho de 1832. Eleito deputado por Aveiro (1836), tornou-se um orador vigoroso e temido. Foi um dos fundadores de A Revolução de Setembro. Adversário do Cabralismo, em 1844 participou na revolta do conde de Bonfim, entrando de novo no exílio. Em 1851, aderiu à Regeneração, de que se viria a desligar anos mais tarde. Reconhecido por todos como tribuno de primeira qualidade, a sua eloquência ficou, porém, demasiado prisioneira do circunstancialismo da época que viveu. Foi pai de Luis de Magalhães (1859-1935), escritor e amigo de Eça de Queirós.
Retrato
«José Estêvão tinha em grau inexcedível todas as qualidades plásticas do tribuno: a fisionomia aquilinamente enérgica, o olhar penetrante, a estatura musculosa, o peito largo, a voz de um timbre que ficava no ouvido e nunca mais se esquecia - máscula, clara, metálica, dando as inflexões mais variadas e mais precisas, - grave, concentrada e convicta ou explosiva, retumbante, dominativa no meio de todos os tumultos, como o som de um clarim na confusão de um acampamento; - o gesto largo adequadíssimo à palavra, cheio de expressão e de grandeza, terrível nas conjunturas supremas, como a garra de uma fera. Sobre isto tinha o período largo, um tanto espanhol, mas bem cortado e quase sempre correcto.»
Eça de Queirós, As Farpas, Setembro de 1871
Argumentista e guionista americano (Baltimore, 12.3.1917 - Los Angeles, 17.3.2009) que foi um dos criadores da personagem de desenhos animados, Mr. Magoo, em Ragtime Bear (1949, de John Hubley). Como argumentista, recordam-se filmes como Take the High Ground! (1953, de Richard Brooks) e Bad Day at Black Rock (1955, de John Sturges), pelos quais foi nomeado para o Óscar de Melhor Argumento Original, Raintree County (1957, de Edward Dmytryk), Never So Few (1959, de John Sturges) ou The War Lord (1965, de Franklin J. Schaffner). Em 2007 publicou o seu primeiro romance: A Bowl of Cherries.