Cantora e actriz brasileira de origem portuguesa, de seu nome Maria do Carmo Miranda da Cunha (Marco de Canaveses, 9.2.1909 - Los Angeles, 5.8.1955). Tendo ido para o Brasil com poucos meses de idade, ali fez uma fulgurante carreira nos palcos e na rádio. No início dos anos trinta, interpretou em Hollywood numerosos filmes que fizeram da sua figura colorida de latino-americana, talvez convencional, mas com enorme impacto, uma verdadeira imagem de marca. Certas interpretações suas ficaram famosas, como «O que é que a Baiana tem?», de Dorival Caymmi.
Filomografia – A Voz do Carnaval (1933, de Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro), Alô, Alô, Brasil (1935, de João de Barros, A. Ribeiro e Wallace Downey), Estudantes (1935, Wallace Downey), Alô, Alô, Carnaval (1936, de Wallace Downey e Adhemar Gonzaga), Banana da Terra e Laranja da China (1939 e 1940, de Ruy Costa), Down Argentine Way,That Night in Rio e Springtime in the Rockies (1940, 1941 e 1942, de Irving Cummings), Weekend in Havana e Greenwich Village (1941 e 1944, de Walter Lang), Something for the Boys,Doll Face e If I’m Lucky (1944, 1945 e 1946, de Lewis Seiler), Copacabana (1947, de Alfred E. Green), The Gang’s All Here (1943, de Busby Berkeley), A Date with Judy (1948, de Richard Thorpe), Nancy Goes To Rio (1950, de Robert Z. Leonard), Scared Stiff (1953, de George Marshall).
Por ocasião do bicentenário do nascimento de Nikolai Gógol, o comité literário franco-russo organiza, em Abril, um festival literário e musical em Paris. Consulte o programa literário aqui e o musical aqui.
Escritor russo de origem ucraniana (Sorotchinsky, 1809 - Moscovo, 1852). Em 1828 partiu para São Petersburgo onde se iniciou como escritor. O encontro com Púchkine, que o aconselha, é determinante: em 1831, publica o seu primeiro livro, Serões da Herdadeperto de Dikanka, imediatamente distinguido, mas é Mirgorod (1835) que o torna célebre. Tanto um como outro são compilações de novelas, ao mesmo tempo realistas e poéticas, cuja temática se baseia no folclore ucraniano. Em Arabescos (1835) encontram-se alguns ensaios e contos (Os Contos de São Petersburgo) de inspiração fantástica: A Perspectiva Nevski, O Diário de Um Louco, o Retrato, e, mais tarde, O Nariz e O Capote.Tarass Bulba(1834) é uma novela de inspiração histórica, mas Almas Mortas (1842) é que é considerada por muitos a sua obra-prima. O Inspector-Geral (1836), sendo uma sátira aos funcionários da província, tem, todavia, um valor universal.
Não perca o texto de António Carlos Carvalho em ANNUALIA 2008-2009. Rosto da edição original de O Inspector-Geral.
Bispo português (Ourém, 24.6.1918 – Lisboa, 4.2.2009), formado em Direito (1941). Ordenado sacerdote em 1947, foi cónego da Sé patriarcal (1955), assistente-geral e diocesano da Juventude Universitária Católica (1947-1965) – onde exerceu notável magistério espiritual e intelectual –, capelão da Academia Militar (1947-1963) e director nacional da Obra Católica Portuguesa de Migrações (1966). Recebeu a ordenação episcopal em 1967, tendo desempenhado funções de capelão-mor das Forças Armadas (1967-1975) e auxiliar do patriarca de Lisboa (1975). Foi professor da cadeira de Doutrina Social da Igreja. no Instituto do Serviço Social e esteve ligado, durante anos, aos programas religiosos da RTP. Foi secretário e, depois, vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Em 1983, foi nomeado vigário-geral do patriarcado. Membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa, da Academia Internacional de Cultura Portuguesa e da Academia Portuguesa da História. Publicou, entre outras obras: Nun’Álvares, Condestável e Santo (1961), O Tempo e a Graça. Meditações na TV sobre o Evangelho (1967), Doutrina Social da Igreja: Pessoa, Sociedade e Estado (1991), Onde o Espírito floresce: Meditações sobre o Espírito Santo (2000), Os Leigos — Condição, Compromisso e Espiritualidade (2001).
Escritor, pintor e encenador português (Cidade da Praia, Cabo Verde, 1909 - - Moledo do Minho, 1966). Espírito multifacetado, abriu-se a quase todas as experiências da criação artística. Poeta, ficcionista, comentarista radiofónico e jornalista, distinguiu-se sobretudo nos campos da pintura e do teatro (quer como dramaturgo, quer como encenador). Foi um dos expoentes do Surrealismo português. Como encenador desenvolveu notável actividade à frente do Teatro Experimental do Porto.
Leia o texto de José Augusto França em ANNUALIA 2008-2009.
O avejão lírico (1939) Em cima: António Pedro, pormenor de uma foto de Fernando Lemos
Compositor e director de orquestra americano de origem alemã, nascido Lukas Fuchs (Berlim, 15.8.1922 – 1.2.2009). Iniciou a sua formação musical muito cedo, tendo estudado composição com Paul Hindemith (1939-1940) e direcção de orquestra com Sergey Koussevitzky (1939-1941). Em 1942 adquiriu a nacionalidade americana. Como músico, Lukas Foss foi pianista da Boston Symphony Orchestra entre 1944 e 1950. Como director de orquestra interessou-se sobretudo pela música contemporânea, à frente (1957-1962) do Improvisation Chamber Ensemble, que fundou em Los Angeles. Foi director musical da Buffalo Philharmonic Orchestra (1963–1970), maestro principal da Brooklyn Philharmonic Orchestra (1971–1990), colaborador regular da Jerusalem Symphony Orchestra (1972–1975) e director musical da Milwaukee Symphony Orchestra (1981–1986). Como professor, ensinou composição (sucedendo a Arnold Schönberg) e direcção de orquestra na Universidade da Califórnia em Los Angeles (1953-1962) e, depois, também em Tanglewood. Em 1963 fundou o Center for Creative and Performing Arts da State University of New York, em Buffalo. Esteve como compositor residente na Carnegie-Mellon University, em Harvard, na Manhattan School of Music e, desde 1990, na Universidade de Boston.
Recebeu diversas distinções nos EUA, tendo sido eleito para a Academia Americana de Artes e Letras, em 1983.
Ouça aqui, na íntegra, o Concerto para Percussão e Orquestra (1974), de Lukas Foss.
Deve-se aos brasileiros e à sua saborosa inventiva o terem dado à velha palavra "bissexto" um significado novo para, com ele, designar autores que escrevem pouco ou que raramente publicam. Há obras escassas porque a morte arrebatou cedo escritores, impedindo-os de irem além de um volume solitário e impedindo-nos de beneficiar, como leitores, de um talento que muito prometia. Aí temos o caso de Cesário Verde, com o seu Livro de publicação póstuma, de voz tão singular na lírica portuguesa. E também o caso de António Nobre, com o seu Só, livro tão único que os poemas que escreveu antes nem os que escreveu depois alguma coisa acrescentaram à imagem do Poeta exilado. O pobre José Duro, mal expelira o seu Fel, a morte o levou, exaurido de corpo e alma. Diferente é o caso de Camilo Pessanha, que recolheu ao silêncio de motu proprio, salvando-se a sua poesia graças à devoção de Ana de Castro Osório e à solicitude de seu filho João, que transcreveu os poemas ditados pelo autor e viriam a ser coligidos na Clepsidra. Como diferente é o caso de Fernando de Paços, cuja obra poética foi reunida num volume só, pela Imprensa Nacional–Casa da Moeda. Ao contrário daqueles antepassados, foi-lhe concedida uma vida mais dilatada, que lhe deu algum espaço para cuidar do seu jardim. E O Fértil Jardim é o título de uma das raras colectâneas publicadas por Fernando de Paços (1923-2003). Mas esse "jardim", mais do que "fértil", assinala-se por sua discreta graça. Tratando amorosa e pacientemente o seu "jardim", o Poeta não teve pressa, dir-se-ia que até um certo escrúpulo em expô-lo a público. É que, ao lado de um alto grau de exigência, haveria em Fernando de Paços um como que pudor de se exibir na feira literária, com todo o seu ruído, vaidade e emulação. Nem o seu interesse pelo teatro o levou a subir ao palco. Autor de peças infantis e entusiasta de fantoches e marionetas – era, certamente, a faceta lúdica de um homem reservado –, escondia-se atrás da cortina.
Data de 1953 O Fértil Jardim. O seu primeiro livro, Fuga, é de 1944 e aparece incluído numa colecção da "Poesia Nova", movimento que arvorava como lema "a Arte pelo todo". Contra uma visão particular, e até partidária, da arte e da vida, propugnava esse movimento uma poesia sem constrangimentos estéticos ou políticos. Era, pois, uma visão total, católica, universal, contraposta à concepção ideológica do neo-realismo do Novo Cancioneiro. Fuga ao realismo ou evasão do mundo? Não, o mundo olhado na sua dupla dimensão real e espiritual ou transtemporal. Não uma fuga à vida, mas uma vida mais interiorizada. Os três poemas finais de Fuga – "Salmo", "Cântico", " Resgate" – apontam para essa direcção transcendente, que as duas colectâneas seguintes vão aprofundar.
O Fértil Jardim tem a chancela da Távola Redonda, a revista que, com maior rigor estético e menor intuito confessional que a "Poesia Nova", se negava tanto ao desleixo formal como à veemência panfletária. Secretário dessa revista, Fernando de Paços participava da mesma oficina artística dos poetas mais representativos dela – António Manuel Couto Viana, David Mourão-Ferreira e Luiz de Macedo. Veja-se este poema tão exemplar da consumada arte de um poeta da família musical de Camilo Pessanha: "Que bom era exprimi-la / mas só posso sonhá-la! / Como era bom levá-la, / como era bom! – Tranquila… // Como era bom despi-la / ao poder encontrá-la! / Já não sorri. Não fala… / Da carne separá-la, / como era bom despi-la! // Acordá-la e despi-la, / (do seu corpo despi-la!) / mas a alma, que é sua, / que bom era levá-la / (para longe levá-la!) / para bebê-la, nua. / – Já não respira… Estua. / – Já não responde… Cala." Não será de aproximar este poema do soneto "Estátua" de Pessanha?
Dez anos, mais dez anos teriam de passar para que Fernando de Paços se decidisse a reunir novos poemas seus na colectânea O Segundo Dilúvio (1963), desta vez com a chancela da Verbo, a que ele deu, durante décadas e como director editorial, o melhor do seu zelo, competência e gosto gráfico. Punha nos livros dos outros o mesmo cuidado que dava aos seus poemas. N’OSegundo Dilúvio acentua-se o pendor religioso, místico até, do autor, que não cede a um exterior folclorismo devoto. Aqui, embora a palavra "dilúvio" evoque a ameaça apocalíptica do Génesis, há todo um clima puramente angélico e a esperança que antevê a "cidade tranquila", a "cidade nova" que prefigura a Jerusalém celeste. É a nova Terra, é o novo Céu, depois da "grande tribulação", na linguagem bíblica.
Muitas águas correram entretanto debaixo das pontes e parecia definitivo o silêncio literário de Fernando de Paços, quando, muito instado, acedeu a organizar novo livro, só em 1995 vindo a lume: A Jangada Aérea. Há pessoas assim, que parece terem feito voto de silêncio longe do ruído e da vaidade do mundo. Fernando de Paços atravessou silencioso o mundo, e dele foi ignorado, como certamente ambicionava. A ele, pois, se aplicam os versos de Dante: "E se il mondo sapesse il cor ch’egli ebbe […] Assai lo loda e più lo loderebe." E n’AJangada Aérea se projecta, de novo, a luminosa sombra de Camilo Pessanha, neste poema: "Estátua de alabastro, mutilei-a. / Dividi-a em pedaços, escondi-a / Na sombra do jardim oculta ao dia / E sob areia fria sepultei-a. // Chorei depois a morte hórrida e feia, / E por muito mais tempo choraria, / Se não visse, na aurora que nascia, / Recompor-se e elevar-se a estátua inteira. // Mas ante a maravilha que me espanta, / Que me detém e logo me perturba, / Enquanto um fio d’água remurmura / E o peito alabastrino expira e canta, // De novo ataco aquele que perdura / E a cada nova morte se levanta / Mais alta, mais notável e mais pura."
Se a sua Obra Poética não ocupa mais de centena e meia de páginas, os seus escritos em prosa poucas dezenas ocupariam. Mesmo na Enciclopédia Verbo, naturalmente aberta à sua colaboração, não escreveu mais de três verbetes, dois deles sobre um tema que lhe era caro: o teatro de fantoches.
A sua vocação não era a de publicista – era, no mundo, a de monge contemplativo.
João Bigotte Chorão (excerto adaptado de um texto publicado em ANNUALIA 2006-2007)
Mário Cláudio recebeu o Prémio Fernando Namora/Estoril Sol pelo romance Camilo Broca, atribuído por um júri presidido por Vasco Graça Moura, no momento em que passam 20 anos sobre o desaparecimento de Fernando Namora.