Charles Van Johnson, actor americano (Newport, Rhode Island, 25.8.1916 - Nyack, Nova Iorque, 12.12.2008) que fez carreira na Broadway a partir de 1936. Um acidente de automóvel incapacitou-o para o serviço militar, porém Van Johnson tornou-se o herói de vários filmes de guerra, desempenhando quase sempre o papel do americano médio empenhado em cumprir o seu dever. Apareceu também, na mesma época, em algumas comédias e musicais, como galã ideal de Esther Wiiliams ou June Allyson. Passada esta época áurea, Van Johnson participou sobretudo no elenco de filmes e séries de televisão, apesar de ter continuado a fazer cinema esporadicamente.
Alguns filmes: The Human Comedy (1943, de Clarence Brown), Pilot N.º 5 (1943, de George Sidney), A Guy Named Joe (1943, de Victor Fleming), Two Girls and A Sailor (1944, de Victor Fleming), The White Cliffs of Dover (1944, de Clarence Brown), Thirty Seconds Over Tokyo (1944, de Mervyn LeRoy), Between Two Women (1945, de Willis Goldbeck), Thrill of a Romance (1945, de Richard Thorpe), Weekend at the Waldorf (1945, de Robert Z. Leonard), Easy to Wed (1946, de Edward Buzzell), Till the Clouds Roll By (1946, de Richard Whorf), The Bride Goes Wild (1948, de Norman Taurog), State of the Union (1948, de Frank Capra), Command Decision (1948, de Sam Wood), Battleground (1949, de William A. Wellman), Go For Broke! (1951, de Robert Pirosh), Washington Story (1952, de Robert Pirosh), Siege at Red River (1954, de Rudolph Maté), The Caine Mutiny (1954, de Edward Dmytryk), Brigadoon (1954, de Vincente Minnelli), The Last Time I Saw Paris (1954, de Richard Brooks), The End of the Affair (1955, de Edward Dmytryk), Slander (1956, de Roy Rowland), The Last Blitzkrieg (1959, de Arthur Dreifuss).
Roald Amundsen
Escola Superior de Comunicação Social
Pavilhão do Conhecimento
Manoel de Oliveira ou O Cinema Virtual
José de Matos-Cruz
Investigador e crítico cinematográfico
Um estranho efeito repercutiu o fenómeno de Manoel de Oliveira, consagrado em todo o Mundo, sobretudo a partir da última década do século passado: as suas referências pessoais e culturais converteram-se numa espécie de parâmetro confluente ao próprio cinema português. Desde finais dos anos ’20, Oliveira ousara um percurso estético, temático e artístico com a sua carreira, exemplar e excepcional. Assim sobressaem o rosto e o vulto de um homem complexo, intenso, cuja matriz de criador se delimita entre a sensibilidade e a veterania, através olhares, intuições, deixando transparecer uma sublimação ritual de ironia e serenidade.
Nascido no Porto, em 11 de Dezembro de 1908, numa família da alta burguesia industrial, Oliveira sonhou ser actor cómico. Logo interessado pelo cinema, e presente no imaginário nacional desde finais da década de ‘20 — quando se afirma a primeira geração de realizadores nossos, e as fitas passam a ser faladas — assinalaria como autor um peculiar itinerário temático, criativo, libelatório, estético e estilístico. Académico, fulgurante, pedagógico. Insólito, insinuante, ao patentear uma extraordinária capacidade com que capta tendências, impressões. Modelando-as de modo subtil, com lucidez e talento, ao seu mundo interior de expectativas, valores, inquietações.
O impedimento, a exclusão ou a indiferença oficial quase chegaram a afastar Oliveira da actividade a que dedicaria a sua vida. Até lhe ser permitido desenvolvê-la de um modo que, incomparável desde sempre em Portugal, poucos exemplos semelhantes tem noutros países: um filme dirigido em cada doze meses, sendo também argumentista; todos estreados por cá, com sucesso e prestígio em festivais lá fora. Muito se vem questionando sobre o que o faz correr, e onde vai buscar tanto dinamismo. Ele-próprio adiantou respostas, não isentas de sarcasmo e simbolismo: «As árvores, à medida que envelhecem, dão mais frutos!»
Não esqueçamos que Oliveira foi um distinto atleta na sua adolescência, e que uma aprendizagem árdua lhe impôs a maturidade de uma carreira de fundo. Porventura — entre os estímulos da iconografia e os signos da lenda — superando-se por não ter, apenas, uma meta específica! A partir dos anos 70, acumularam-se os galardões e os louvores, tal como se reacenderam polémicas — sobre um percurso que remontando, pois, às origens do cinematógrafo, se perspectivaria na vanguarda dos audiovisuais. «Na minha cabeça há um turbilhão de ideias, de projectos. Mesmo que me proporcionem facilidades, a minha vida não será suficiente para concretizar tudo isso»...
Virtualizando um repositório actual de angústias, emoções, que é, simultaneamente, de compromisso e premonitório, Manoel de Oliveira traça, afinal, os estigmas do seu próprio imaginário — puro e tremendo, inocente ou monstruoso, poético e solene, insolente ou expiatório, em que o tributo ancestral acaba por transfigurar, além do testemunho sobre as adversidades, as marcas cintilantes quanto ao futuro. «Tudo é memória, tudo resta na memória. E a memória da vida é a arte, que existe como representação. Todos somos actores e espectadores — estamos isolados mas, ao mesmo tempo, em sociedade». Eis um artista exposto, na plenitude do génio e da perplexidade.
Através dos filmes
Manoel de Oliveira foi desde muito novo motivado pelo cinema, imaginando ou passando para papel a découpage dos filmes. Com vinte anos, delineou «9 de Abril» (com Alberto de Serpa), e inscreveu-se na Escola de Actores de Cinema, fundada no Porto por Rino Lupo, aparecendo — com o irmão Casimiro — num filme deste realizador, como figurante: «Fátima Milagrosa» (1928); sob o pseudónimo de Rudy Oliver, participou no concurso «Uma Estrela e um Astro da Arte Cinematográfica», que Lupo organizara na revista Arte Muda. Em 1929, concebeu histórias para desenhos animados, a executar com Ventura Porfírio e San-Payo.
Por 1930, adquirida uma máquina Kinamo, Oliveira filmava já com António Mendes — um guarda-livros que gostava de fotografar — Douro, Faina Fluvial; estreado na versão muda em Setembro de 1931, no V Congresso Internacional da Crítica, provocou contrastadas reacções entre os portugueses e um aplauso consensual dos estrangeiros. Em 1933, foi actor, agora destacadamente, em A Canção de Lisboa de Cottinelli Telmo. No ano seguinte, estreou a versão sonora de Douro, que passou a correr mundo, firmando o seu prestígio.
Em 1940, Oliveira rodou Famalicão. Dois anos depois, foi lançado Aniki-Bobó, com produção de António Lopes Ribeiro. Em 1955, deslocou-se à Alemanha — Leverkussen, estágio nos laboratórios Agfa - para estudar a cor aplicada ao cinema, daí surgindo O Pintor e a Cidade (1956). Em 1959, dirigiu O Pão, com versão curta em 1964. Em 1962, concretizou O Acto da Primavera, segundo Francisco Vaz Guimarães. A Caça (1963) perpetuou uma obra-prima ficcional — em curta metragem, como o documentário As Pinturas do Meu Irmão Júlio (1965) com o velho amigo José Régio, sobre Júlio dos Reis Pereira.
A partir de 1971, com O Passado e o Presente, segundo Vicente Sanches, Manoel de Oliveira contraiu uma actividade consequente. De 1974, é Benilde ou a Virgem-Mãe, transposição da peça de Régio. Em 1978, consumou Amor de Perdição, segundo Camilo Castelo Branco. De 1981, é Francisca, adaptando Fanny Owen de Agustina Bessa-Luís; e Oliveira fez uma intervenção em Conversa Acabada de João Botelho. Visita ou Memórias e Confissões (1982) permaneceria sigilado, como testemunho autobiográfico que apenas pretende revelado na posteridade.
Em 1983, retomou a via documental, com Lisboa Cultural e Nice — A Propos de Jean Vigo. Sobre Paul Claudel, Le Soulier de Satin recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 1985, quando rodou em França O Meu Caso/Mon Cas (1986) e assinou Simpósio Internacional de Escultura em Pedra, com o filho Manuel Casimiro. Em 1988, Os Canibais foi apresentado na Selecção Oficial do Festival de Cannes. Em 1990, no mesmo certame, Non ou a Vã Glória de Mandar foi exibido Extra-Concurso na Selecção Oficial, e Oliveira recebeu uma Menção Especial do Júri.
Em 1991, revelou A Divina Comédia, Grande Prémio Especial do Júri em Veneza. Evocou Camilo em O Dia do Desespero (1992), e deslumbrou com Vale Abraão (1993) segundo Agustina. Paulo Rocha dedicou-lhe Oliveira, o Arquitecto (1993). Em Lisboa, centrou A Caixa (1994) a partir de Prista Monteiro. Em 1994, surpreendeu na Viagem a Lisboa/Lisbon Story de Wim Wenders. Dirigiu Catherine Deneuve e John Malkovich em O Convento (1995). Evocando a modernidade da sua obra-prima, voltou a Douro, Faina Fluvial, com outro contraponto musical.
Em 1996, Oliveira acolheu Irene Papas e Michel Piccoli em Party. Depois, aflorou a sua própria veterania em Viagem ao Princípio do Mundo (1997) com Marcello Mastroianni, e ironizou a Inquietude (1998, sobre histórias Helder Prista Monteiro, António Patrício e Agustina) com Papas; a filha de Mastroianni e Deneuve, Chiara Mastroianni contracenou com Pedro Abrunhosa em A Carta (1998), pela inspiração romântica de La Princesse de Clèves de Madame de La Fayette.
Em 2000, Oliveira testemunhou a vida e a obra do Padre António Vieira, entre Palavra e Utopia com Luís Miguel Cintra e Lima Duarte - Prémio da Crítica no Festival de São Paulo. Em 2001, voltou a convocar Piccoli, Deneuve e Malkovich, estigmatizando as máscaras dum velho actor em Je Rentre à la Maison/Vou Para Casa; e evocou o Porto da Minha Infância, assumindo o neto Ricardo Trêpa entre a nostalgia e a reconstituição — Prémio Cict/UNESCO, em Veneza.
Em 2002, Manoel de Oliveira fixou O Princípio da Incerteza, sobre Jóia de Família de Agustina Bessa-Luís. Seguiu-se Um Filme Falado (2003) com Deneuve, Papas, Malkovich e Leonor Silveira. Em 2004, perspectivou O Quinto Império - Ontem Como Hoje, evocando El-Rei Sebastião de José Régio, e que proporcionou um Leão de Ouro à Carreira no Festival de Veneza. Já em 2005, Oliveira reflecte A Alma dos Ricos de Agustina, em O Espelho Mágico. Eis os desafios do cinema…
Homenagens & Honrarias
Ao longo da carreira de Manoel de Oliveira, sucederam-se as homenagens, os preitos e as honrarias, culminando um prestígio mundial. Eis alguns dos mais significativos galardões que lhe foram atribuídos: Homenagem Nacional (1963); Prémio Especial à Carreira – Figueira da Foz (1979); Membro de Honra da Academia Nacional de Belas-Artes, Medalha de Ouro CIDALC (1980); Distinção Especial das Igrejas Protestantes – Berlim, Medalha de Ouro de Sorrento, Realizador do Ano/Viennale (1981); Comenda da Ordem de Mérito da República Italiana, Prémio Vittorio de Sica (1982); Comenda da Ordem de Artes e Letras - França (1983); Leão de Ouro/Veneza, Prémio Numero Uno/Rimini (1985); Taça Gala do Cinema (1986); Presidente de Honra da Cultura Latina/União Latina (1988); Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, Doutor Honoris Causa da Faculdade de Arquitectura – Porto (1989); Leopardo de Honra/Locarno (1992); Prémio à Melhor Contribuição Artística/Tóquio, Se7e de Ouro/Prestígio (1993); Prémio Kurosawa/São Francisco, David de Donatello/Prémio Luchino Visconti, Classe de Mestre/Hong-Kong (1994); Homenagem Nacional, Prémio Consagração de Carreira/Sociedade Portuguesa de Autores, Um Homem do Norte, Prémio Bordalo/Casa da Imprensa – Cinema (1995); Troféu Estudos Fílmicos/Universidade de Coimbra, Medalha de Mérito Cultural - Porto (1996); Homenagem do Júri Ecuménico/Cannes, Prémio Especial à Carreira/Salónica, Grande Oficial de Mérito Nacional pela República e pelo Governo Francês (1997); Prémio Obra de Uma Vida – Jerusalém/Israel, Prémio Casa de Camilo Castelo Branco, Prémio Ennio Flaiano/Pescara, Grande Prémio das Américas/Montréal, Manoel de Oliveira – 90 Anos/Homenagem Nacional, Troféu Nova Gente – Personalidade do Ano (1998); A Tribute To Manoel de Oliveira – Harvard/Yale (2000); Prémio Bresson – Veneza/Vaticano, Grande Medalha de Vermeil – Câmara de Paris, Comenda da Légion d’Honneur – França (2001); Reconhecimento da República Italiana, Doutor Honoris Causa – Universidade Nova de Lisboa, Personalidade do Ano – Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal/AIEP, Prémio Latinidade/União Latina, FIAF Preservation Award, Prémio Mundial das Artes Valldigna – Valencia/Espanha (2002); Carrefour des Littératures – Bordéus, Prémio Melhor Trajectória Artística de um Autor Ibero-Americano – Extremadura/Espanha, Relógio SWATCH, Comandante da Ordem dos Ouissem Alouite – Marrocos (2003); Grã-Cruz da Ordem de Mérito da República Italiana – Roma, Presidente de Honra/Festival Black & White/Porto, Prémio Negroamaro/Carreira – Salento/Itália, Prémio Mediterraneo/Carreira – Grado/Trieste, Leão de Ouro à Carreira/Veneza, Prémio Cineuropa – Galiza; Homenagem Humanidade – São Paulo; Rã de Ouro – CareImage/Lodz (2004).
[Manoel de Oliveira foi distinguido, em Maio de 2008, com a Palma de Ouro para a Carreira do Festival de Cannes, que lhe foi entregue por um dos seus actores favoritos: Michel Piccoli.]
[Texto publicado em Annualia 2005-2006]
A 10 de Dezembro de 1948 a Assembleia Geral da ONU aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Escritor português (Covilhã, 1927 - Lisboa, 8.12.2008). Licenciado em Direito, um intenso envolvimento cultural desperta-lhe a necessidade de intervenção, que o leva à actividade editorial (funda a Moraes Editora) e à direcção da revista O Tempo e O Modo, moldada, na primeira fase da sua publicação na Esprit, revista francesa de inspiração personalista cristã. Mais recentemente colaborou dispersamente em jornais e foi presença regular da rádio e na televisão, tendo desempenhado o cargo de presidente do Instituto Português do Livro.
Em 1971 inicia a publicação de Peregrinação Interior (vol. I, Reflexões sobre Deus) que continuará em 1982 (vol. II, O Anjo da Esperança), escrita num registo sem muita tradição entre nós: intensamente autobiográfico, não é uma autobiografia; espaço de encontros e desencontros, não chega a ser memorialismo; as hipóteses que aí se produzem recusam o modo ensaístico e, liberto do absolutamente circunstancial, afasta-se da pura crónica. É, antes, tudo isso e mais do que isso, uma contínua meditação no tom solto da conversa, lugar de intersecção de tudo, onde se vai desenhando uma vivência e uma comunicabilidade, na ímplícita responsabilidade de manter «entre a palavra escrita e o pulsar da própria vida, uma intíma e visceral relação». que se ligamm respectivamente a uma inquietação e a uma procura -- pessoal, religiosa, cultural.
Dirá uma personagem de Os Nós e Os Laços (1985) quando a condição narrativa deste modo de estar se deixa tentar pelo modelo romanesco: «estar vivo é uma espécie de inquietação». A ficção de Alçada Baptista é, afinal, a sua maneira de continuar a conversa, em que as personagens são mais instrumentos de reflexão conversada, modulações de uma única consciência, formas de uma mesma procura e inquietação, do que indíviduos numa história. Testemunham-no a própria estrutura da narrativa e uma certa artificialidade do diálogo, acentuada com a frequente convocação de segmentos narrativos de um outro texto maior -- o «texto cristão», referência primeira e permanente, texto fundador, civilizacional, no qual todos os gestos se inscrevem.
Outra desenvoltura está, contudo, presente num outro diálogo -- aquele que se verifica entre os dois textos, o cristão e o que Alçada Baptista vai produzindo, diálogo complexo, crítico e exigente, cheio de distanciações e de retornos, nos dois extremos da sua oscilação: incomodidade que não se deixa ser cepticismo e desejo de esperança, que não quer ser luminosidade. No cerne deste diálogo está a relação humana (e a sociedade no seio da qual essa relação se fabrica) e aquele que o seu momento mágico, a relação amorosa, imbricada na teia da cultura e dos equívocos. Contudo, não há nele qualquer veemência. Há mesmo um quase completo desinvestimento dramático, uma assumida ausência de ideias fortes, totalizantes, uma liberdade de tiranias e de fidelidades que é, tantas vezes, uma forma de lucidez.
Outras obras: O Tempo nas Palavras (crónicas, 1971), Conversas com Marcello Caetano (1978), Uma Vida Melhor (infantil, 1984), Catarina ou O Sabor da Maçã (ficção, 1988), Tia Susana, Meu Amor (ficção, 1989), Um Passeio por Lisboa (geografia literária, 1989), O Riso de Deus (ficção, 1994), A Pesca à Linha. Algumas Memórias (1998), O Tecido do Outono (1999), Um olhar à nossa Volta (2000), A Cor dos Dias. Memórias e Peregrinação (2003).
Jorge Colaço
(publicado em Biblos-Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa, vol. I, Lx., 1995).
Arquivos de Ingmar Bergman aqui.