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No dia 25 de Abril de 1792, Nicolas-Jacques Pelletier foi guilhotinado, na place de Grève (actual place de l'Hôtel de Ville), em Paris, constituindo, assim, a primeira vítima oficial daquele instrumento baptizado como nome de Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), apesar de não ter sido este o inventor. A guilhotina foi o instrumento privilegiado da política de Terror posta em prática após a Revolução Francesa. Em França, a última execução pública ocorreu em 17 de Junho de 1939, mas a sua última utilização foi em 1977. A pena de morte foi abolida em 1981.
http://www.metaphor.dk/guillotine/Pages/Guillot.html
TÍTULOS | PRIMEIRAS REPRESENTAÇÕES |
Henrique VI | 1589/92 |
The Comedy of Errors | 1592/93 |
Ricardo III | 1592/93 |
The Taming of the Shrew | 1593/94 |
The Two Gentleman of Verona | 1594/95 |
Love's Labour Lost | 1594/95 |
Romeo and Juliet | 1594/95 |
A Midsummer Night’s Dream | 1595/96 |
Richard II | 1595/96 |
The Merchant of Venice | 1596/97 |
King John | 1596/97 |
Henrique IV | 1597/98 |
Much Ado About Nothing | 1598/99 |
Henry V | 1598/99 |
As You Like It | 1599/1600 |
Julius Caesar | 1599/1600 |
Hamlet | 1600/01 |
The Merry Wives of Windsor | 1600/01 |
Twelfth Night | 1601/02 |
Troilus and Cressida | 1601/02 |
All´s Well That Ends Well | 1602/03 |
Othello | 1604/05 |
Measure for Measure | 1604/05 |
King Lear | 1605/06 |
Macbeth | 1605/06 |
Antony and Cleopatra | 1606/07 |
Coriolanus | 1607/08 |
Timon of Athens | 1607/08 |
Pericles | 1608/09 |
Cymbeline | 1609/10 |
The Winter's Tale | 1610/11 |
The Tempest | 1611/12 |
The Two Noble Kinsmen | 1612/13 |
Henrique VIII | 1612/13 |
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Hamlet. To be, or not to be — that is the question:
Whether 'tis nobler in the mind to suffer
The slings and arrows of outrageous fortune
Or to take arms against a sea of troubles,
And by opposing end them. To die — to sleep —
No more; and by a sleep to say we end
The heartache, and the thousand natural shocks
That flesh is heir to. 'Tis a consummation
Devoutly to be wish'd. To die — to sleep.
To sleep — perchance to dream: ay, there's the rub!
For in that sleep of death what dreams may come
When we have shuffled off this mortal coil,
Must give us pause. There's the respect
That makes calamity of so long life.
For who would bear the whips and scorns of time,
Th' oppressor's wrong, the proud man's contumely,
The pangs of despis'd love, the law's delay,
The insolence of office, and the spurns
That patient merit of th' unworthy takes,
When he himself might his quietus make
With a bare bodkin? Who would these fardels bear,
To grunt and sweat under a weary life,
But that the dread of something after death —
The undiscover'd country, from whose bourn
No traveller returns — puzzles the will,
And makes us rather bear those ills we have
Than fly to others that we know not of?
Thus conscience does make cowards of us all,
And thus the native hue of resolution
Is sicklied o'er with the pale cast of thought,
And enterprises of great pith and moment
With this regard their currents turn awry
And lose the name of action...
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«Ser ou não ser, eis a questão! O que será mais nobre para o espírito humano: sofrer os ataques e as frechadas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um mar de dores e, enfrentando-as, pôr-lhes termo? Morrer... dormir; mais nada! E dizer que se acaba com as penas do coração e mil choques de que é herdeira a carne! Eis um fim a desejar ardentemente. Morrer... dormir! Dormir... Sonhar talvez! Aí é que está o problema! Porque há que pensar nos sonhos que virão nesse sono da morte, quando nos libertarmos desta mortal crisálida! É este raciocínio que nos leva à desgraça de uma vida tão longa! Pois quem suportaria as chicotadas e o desprezo do mundo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as ferroadas do amor incompreendido, as delongas da justiça, a insolência dos funcionários e o coice que o mérito paciente recebe dos indignos, quando se podia buscar repouso com a ponta de um punhal? Quem aguentaria tão pesado fardo, gemendo e suando, sob o peso de uma vida tão trabalhosa, se não fosse o pavor do que existe para lá da morte — essa região desconhecida cujas fronteiras nenhum viajante volta a atravessar —, temor que embaraça a vontade e nos obriga a suportar os males que conhecemos, em vez de corrermos para outros de que não sabemos nada? Assim a consciência faz cobardes de nós todos, e assim o primeiro impulso da reolução esfuma-se no pensamento, e as tentativas de força e energia, perante este raciocínio, mudam o seu curso e perdem o nome de acção...» (tradução de Ricardo Alberty).
LIVROS QUE SE TRAZEM DA ILHA
por João Bigotte Chorão
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Em matéria de livros, nada tão melancólico como não os ver, mesmo em casas onde não falta espaço e há de tudo um pouco -- móveis de estilo, quadros com cotação, baixela de valor. Não os vemos ali porque não são apetecidos nem necessários. Melancólico é também o espectáculo dos livros que invadem tudo, extravasando das estantes para cadeiras, sofás, até para o chão, numa desordem e promiscuidade onde a gente se perde e desgosta. Mas os livros simetricamente alinhados, vaidosos das suas ricas encadernações em estantes de boa madeira, parecem mais objectos decorativos que obras de consulta permanente e de grata releitura. Não têm eles sinais iniludíveis de serem muito manuseados, como esses livros que amamos, nas horas de estudo e de lazer sempre ao alcance da mão para responderem às nossas interrogações e serem como companheiros lúcidos e lúdicos. Livros assim, sem outra valia que não a cultural e literária, dói-nos porém vê-los tão maltratados, sem lombada ou capa brochada, ou de encadernação cansada.
À medida que envelhecemos, quando chega a oprimir-nos esse acervo de livros que já não leremos, à medida que o tempo passa e se faz, cada vez mais, dramaticamente escasso, temos a nostalgia de uma biblioteca essencial, de poucos mas bons livros. Aqueles que nos formaram e encantaram -- e decidiram, porventura, do nosso destino. São os livros que levamos para a tal ilha deserta. Ou, na lúcida advertência de um leitor omnívoro como Jünger, os livros que traríamos dessa ilha, livros que parecem sempre novos a cada releitura, e preenchem o vazio de horas de solidão e silêncio, e nos confortam neste duro ofício de viver. Livros que, para uns, são os grandes monumentos literários, referências obrigatórias do nosso património cultural. Livros que, para outros, não são os grandes clássicos, que toda a gente conhece ao menos de nome, mas as obras mais discretas, quase descobertas pessoais -- não as teríamos encontrado se as não tivéssemos procurado --, talvez confissões em surdina, memórias interiores, diários íntimos, epistolários em busca de um diálogo com o Outro. São, em suma, livros que podemos ler de qualquer maneira, sentados, de pé, deitados, em privado e em lugar público, sem que seja mister vestir-nos de ponto em branco, como para receber visitantes ilustres. Como fazia Maquiavel quando relia os seus clássicos latinos e italianos.
«Se olharmos para o planisfério português anónimo de 1502 (dito Cantino), tomando como escala da medida de um grau equatorial a distância entre os trópicos e o equador, veremos que, mesmo com as dificuldades referidas, está praticamente certa a largura do continente africano e a distância à Índia. Imaginando que as viagens sequentes, até Malaca, Banda e Molucas, deram uma noção (mesmo que vaga) do espaço percorrido, é impossível não pensar que os próprios portugueses foram tomando consciência do problema diplomático que vinha a caminho, quando os espanhóis percebessem até onde estavam a navegar os navios nacionais. Em boa razão, a disputa estava latente desde Tordesilhas, desencadear-se-ia mais dia ou menos dia, e foi nessa base que Magalhães apresentou o seu projecto a Carlos V, que não hesitou em aceitá-lo.
Os dois reinos decidiram, então, reunir uma “junta de especialistas” que debateriam o problema da delimitação oriental das suas zonas de influência, de forma a acordar a quem caberia a posse das longínquas Molucas, cujo comércio se revelava com valor significativo. Essa junta reuniu-se de 11 de Abril a 31 de Maio de 1524, sobre a ponte do rio Caia, entre Elvas e Badajoz, mas os resultados concretos foram absolutamente nulos, como seria de esperar.
D. João III sabia que não era possível fazer a delimitação com base em “verdades geográficas” incontestáveis, de forma que deu instruções para que fosse recusada toda a argumentação de cartógrafos e cosmógrafos, afirmando a sua soberania com base numa presença, de facto, desde há mais de uma década. Era um argumento juridicamente importante desde que tivesse força política para o impor, ou, por outras palavras, desde que Carlos V não estivesse disposto a combater pelas Molucas, o que era o caso. Nenhuma das partes queria que a dissidência resultasse em conflito violento, pelo que uma solução política era possível. Provisoriamente, ficou aceite que os direitos de comércio nas Molucas seriam portugueses, mediante o pagamento de 40 000 ducados anuais, que (ainda por cima) ficavam por conta do dote de D. Catarina, ainda em dívida a Portugal. E este foi o acordo imediato que se seguiu à “conversa de surdos” que foi a Junta de Badajoz-Elvas. Em 1529, com o tratado de Saragoça*, foi concedida a posse definitiva do comércio das Molucas a Portugal, pela quantia de 350 000 ducados.
Não é certo que Portugal tenha pago esta quantia na totalidade e, hoje, pouco importa saber que as Molucas estavam, de facto, no hemisfério português, pela insignificante diferença de cerca de dois graus. O assunto, aliás, viria a perder importância nas últimas décadas do século XVI, fosse pela união das coroas ibéricas, fosse porque o comércio do cravo nunca atingiu a importância que se chegou a pensar.»
Luís Jorge Semedo de Matos, Navegações Portuguesas, Instituto Camões
*O Tratado de Saragoça foi assinado em 22 de Abril de 1529 pelo rei D. João III e o imperador Carlos V.
«Na terça-feira, 21, segundo o testemunho do célebre escrivão cabralino [Pêro Vaz de Caminha], os membros da tripulação encontraram alguns sinais de terra: "muita quantidade d'ervas compridas a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno"26. Apesar de, nessa latitude (cerca de 17º S), dispor de vento favorável - que sopra francamente de leste - para atingir mais rapidamente o seu objectivo prioritário que era o de alcançar a monção do Índico, o capitão-mor alterou deliberadamente o rumo para oeste em busca de terra.
A 22 de Abril toparam, pela manhã, "com aves, a que chamam fura-buchos... e, a horas de véspera [entre as 15 horas e o sol-posto]," tiveram "vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz"27.
Após este achamento, a armada fundeou a cerca de 6 léguas (19 milhas) da costa. No dia imediato (quinta-feira, 23 de Abril), os navios mais ligeiros (caravelas), seguidos pelos de maior tonelagem (naus), procedendo cautelosamente a operações de sondagem, ancoraram a cerca de meia légua (milha e meia) da foz do posteriormente denominado rio do Frade. Foi, então, decidido enviar um batel a terra, comandado por Nicolau Coelho, para estabelecer relações com os indígenas que se encontravam na praia.»
Jorge Couto, «O Achamento da Terra de Vera Cruz», Revista Camões, Número 8, Janeiro-Março 2000
Llegas, silenciosa, secreta,
y despiertas los furores, los goces,
y esta angustia
que enciende lo que toca
y engendra en cada cosa
una avidez sombria.
El mundo cede y se desploma
como metal al fuego.
Entre mis ruinas me levanto,
solo, desnudo, despojado,
sobre la roca inmensa del silencio
como un solitario combatiente
contra invisibles huestes.
Verdad abrasadora,
¿a qué me empujas?
No quiero tu verdad,
tu inmensa pergunta.
¿A qué esta lucha estéril?
No es el hombre criatura capaz de contenerte,
avidez que solo en la sed se sacia,
llama que todos los labios consume,
espíritu que no vive en ninguna forma
mas hace arder todas las formas.
Subes desde el más hondo de mí,
desde el centro innombrable de mi ser,
ejército, marea.
Creces, tu sed me ahoga,
expulsando, tiránica,
aquello que no cede
a tu espada frenética.
Ya sólo tu me habitas,
tú, sin nombre, furiosa substancia,
avidez subterránea, delirante.
Golpean mi pecho tus fantasmas,
despiertas a mi tacto,
hielas mi frente,
abres mis ojos.
Percibo el mundo y te toco,
substancia intocable,
unidad de mi alma y de mi cuerpo,
y contemplo el combate que combato
y mis bodas de tierra.
Nublan mis ojos imágenes opuestas,
y las mismas imágenes
otras, más profundas, las niegan,
ardiente balbuceo,
aguas que se anega un agua más oculta y densa.
En su húmeda tiniebla vida y muerte,
quietud y movimiento, son lo mismo.
Insiste, vencedora,
porque tan sólo existo porque existes,
y mi boca y mi lengua se formaron
para decir tan sólo tu existencia
y tus secretas sílabas, palabra
impalpable y despótica,
substancia de mi alma.
Eres tan sólo un sueño,
pero en ti sueña el mundo
y su mudez habla con tus palabras.
Rozo, al tocar tu pecho
la eléctrica frontera de la vida,
la tiniebla de sangre
donde pacta la boca cruel y enamorada,
ávida aún de destruir lo que ama
y revivir lo que destruye,
con el mundo, impasible
y siempre idéntico a sí mismo,
porque no se detiene en ninguna forma
ni se demora sobre lo que engendra.
Llévame, solitaria,
llévame entre los sueños,
llévame, madre mía,
despiértame del todo,
hazme soñar tu sueño,
unta mis ojos con aceite,
para que al conocerte me conozca.
[Calamidades y Milagros, 1937-1947]
Foto: Susan Wilcox (2001)
Poeta e dramaturgo africano de língua francesa (Basse-Pointe, Martinica, 25.6.1913 – Fort-de-France, 17.4.2008), um dos fundadores do movimento político-literário da «negritude». Companheiro de escola de Léopold Senghor (através de quem entra em contacto com os problemas de África), fundou, em 1934, L’Étudiant noir, onde pela primeira vez escritores negros formulam a sua recusa dos modelos ocidentais, interessando-se preferencialmente pelas tradições e modos de vida ancestrais dos seus países de origem. Regressou à Martinica natal em 1939, como professor, aí desenvolvendo a uma incessante actividade cultural e literária a que juntou sempre a acção política, tendo sido presidente da câmara de Fort-de-France (1945) e deputado (1946). Próximo do Partido Comunista Francês, com ele rompeu em 1956, fundando depois o Partido Progressista da Martinica.
Da sua obra salientam-se Corps perdu (1945), Cahier d’un retour au pays natal (1947), Soleil cou coupé (1948), Discours sur le colonialisme (1955, ensaio político), El les chiens se taisaient (1956, teatro), Ferrements (1959), Cadastre (1961), Toussaint Louverture (1962, ensaio histórico), La Tragédie du roi Christophe (1963, teatro), Une saison au Congo (1967, teatro), Une Tempête (1969, teatro), Moi, Laminaire (1982, teatro).