Pintor português (Anêlhe, Vidago, 1934 - Lisboa, 5.9.2009). Sobre João Vieira escreveu Luísa Soares de Oliveira na Enciclopédia Verbo, texto de que transcrevemos aqui um excerto:
«As suas primeiras obras representavam cenas rurais ou de pesca; insatisfeito com o que então produzia, João Vieira, em 1954-1955, deixou de desenhar e de pintar e isolou-se em Trás-os-Montes durante um ano. Em 1956, trabalhou num atelier de publicidade, ao mesmo tempo que recomeçava lentamente a pintar. Surgiu então uma imagem quase obsessiva — uma mulher à janela com os braços cruzados — que, pouco a pouco, se iria transformar nos primeiros signos tipográficos da obra de João Vieira: o O, o M e o U (por simetria), o I e o X, ainda antropomórficos e cheios de simbolismo. O pintor partiu depois para Paris (1957-1959), onde esses mesmos signos se esvaziariam de todo o valor simbólico. Em 1959-1960, recebeu uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian; foi também durante estes anos que aderiu ao grupo KWY e que colaborou na revista do mesmo nome. Em 1960-1901, ainda em Paris, descobre a Action Painting com a consequente negação do centro do quadro, e a pintura de Dubuffet, Estève e Bissier; estudou também caligrafia. A partir de então, a gestualidade passou a tomar uma importância cada vez maior na sua pintura, em prejuízo da cor que, por vezes, quase desaparece. João Vieira pinta poemas ou fragmentos de poemas — aliás, sempre apreciou literatura (Ângelo de Lima, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro) e se preocupou com a língua portuguesa —, nem sempre legíveis, o que confere a cada ideograma representado uma qualidade expressiva fundamental.»
Ver reacções à morte de João Vieira no Público.