Terça-feira, 21 de Julho de 2009

2009 Ano Internacional da Astronomia I


por
MÁXIMO FERREIRA *

Astrónomo


PRIMEIRA PARTE
Introdução
Em Março de 2004, o Departamento da UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) com a responsabilidade do Património Mundial, o ROSTE (Comité Regional para a Ciência na Europa) e o ICOMOS (Conselho Internacional de Museus e Sítios), reuniram em Veneza um grupo de especialistas para estudar a possibilidade de incluir a categoria de «património astronómico» e a metodologia para a sua definição e implementação. Foi então decidido adoptar, provisoriamente, como critérios para considerar «património astronómico», os «objectos» (físicos ou imateriais) que apresentassem evidências de:

-Propriedades cuja concepção e/ou paisagem, tivessem relação com objectos celestes ou acontecimentos astronómicos;

-Representações do céu e/ou corpos celestes ou acontecimentos astronómicos;

-Observatórios e instrumentos;

-Propriedades com forte ligação à história da Astronomia.

Consumava-se, assim, mais um acto a contribuir para a concretização dos objectivos definidos na «Convenção relativa à Protecção do Património Mundial Cultural e Natural», adoptada (em 1972) pela UNESCO, em que se destacou o propósito de "encorajar os países a assinarem a Convenção do Património Mundial e a assegurarem a protecção do seu património cultural e natural" e de «encorajar a participação da população local na preservação do seu património cultural e natural».

Logo nesse ano de 2004 foi anunciada a intenção de o governo italiano solicitar àquela Organização das Nações Unidas a proclamação do ano 2009 como «Ano Internacional da Astronomia». Da fundamentação constava o facto de 2009 coincidir com o 400.º aniversário das primeiras observações do céu, através de telescópios, realizadas por Galileu, cidadão italiano.

Tendo em conta as implicações da Astronomia na cultura e na diversidade cultural – área das competências da UNESCO como agência especializada das Nações Unidas – na 62.ª sessão das Nações Unidas, em Dezembro de 2007, foi adoptada a resolução de declarar o ano de 2009 como Ano Internacional da Astronomia.

Dos argumentos invocados para tão importante decisão destacam-se:

a) O reconhecimento de que as observações astronómicas têm implicações profundas no desenvolvimento da ciência, filosofia, religião, cultura e concepção geral do Universo.

b) O conhecimento de que as descobertas de astrónomos no campo da ciência têm tido influência não só no nosso entendimento do Universo, mas também na tecnologia, na matemática, na física e no desenvolvimento social em geral.

c) A consideração de que o impacto cultural da Astronomia tem sido marginalizado e confinado a um público especializado.

d) A convicção do papel crucial que a UNESCO pode desempenhar na formação da opinião pública, no sentido de incrementar o seu conhecimento da importância da Astronomia para o desenvolvimento social, através do estabelecimento de ligações entre redes de investigação científica e a percepção cultural do Universo.

A União Astronómica Internacional criou um Secretariado que, propondo-se coordenar as diversas actividades em todo o mundo, preparou ainda um conjunto de sugestões aos países aderentes, das quais se destacam preocupações de envolver sociedades e associações de astrónomos profissionais e amadores e produzir exposições itinerantes, séries de conferências organizadas pelas sociedades nacionais, etc.

Em Portugal, ainda em 2007, a Sociedade Portuguesa de Astronomia iniciou a organização das actividades para o «2009 Ano Internacional da Astronomia», criando uma Comissão que estabeleceu contactos com entidades, instituições, sociedades, associações e mesmo individualidades ligadas a áreas profissionais de algum modo relacionáveis com a Astronomia, quer do ponto de vista científico, quer tecnológico.

Para além de diversas sugestões a Museus, associações de astrónomos amadores, grupos de astronomia em Escolas ou outras instituições (autarquias, editoras, espaços comerciais, companhias de teatro, orquestras, etc.), foram lançados concursos, destinados essencialmente a jovens estudantes, organizadas conferências, encontros de astrónomos profissionais e amadores, representações teatrais, concertos, feiras de bibliografia e equipamentos para astronomia de amadores e incentivou-se a produção e/ou tradução de obras de níveis e conteúdos diversificados sobre temas de Astronomia.

Naturalmente, da movimentação cultural que o Ano Internacional da Astronomia provocará em todo o mundo, são esperados inúmeros actos e reflexões sobre a presença da Astronomia nas culturas dos povos, ao longo dos séculos, em diversas regiões da Terra. Daí resultarão os primeiros factores que, certamente, vão conduzir à identificação e eventual classificação de «objectos» (relacionados com a Astronomia) como «património mundial».


*Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009


Seguir blog do Público, aqui.

publicado por annualia às 16:26
link | comentar
ANNUALIA
annualia@sapo.pt

TWITTER de Annualia

Artigos Recentes

Prémio de Poesia Luís Mig...

Prémio Pessoa 2009/ D. Ma...

Prémio Goncourt de Poesia...

Prémio Cervantes 2009/ Jo...

O Homem da Capa Verde

Anselmo Duarte (1920-2009...

Francisco Ayala (1906-200...

Claude Lévi-Strauss (1908...

Prémio Goncourt/ Marie Nd...

Alda Merini (1931-2009)

Arquivo

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

tags

todas as tags

pesquisar

 

Subscrever feeds

blogs SAPO