
Fundada em 1829, na Rua da Betesga, por Baltazar Roiz Castanheiro, transmontano que trouxe para a capital segredos da cozinha conventual da sua região de origem, cuja exímia realização fez com que viesse a ser eleito Juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Oliveira, padroeira dos confeiteiros de Lisboa. Baltazar morreu aos 44 anos e o estabelecimento, que entretanto tinha sofrido alterações em 1835 com a abertura de mais duas portas, desta vez para a Rua dos Correeiros, passou para os seus descendentes.
Baltazar Castanheiro Júnior viajou pelo estrangeiro, nomeadamente pelo Sul de França, de onde trouxe o segredo do fabrico do bolo-rei, que haveria de se tornar uma das principais atracções da doçaria da Confeitaria Nacional, e procurou atingir os mais altos padrões de qualidade através da contratação de mestres confeiteiros franceses e espanhóis.
A produção estendeu-se do fabrico de bolos e doces às compotas e licores de fruta, que rapidamente projectam a Confeitaria Nacional no exterior, através de distinções recebidas em exposições internacionais (Viena, Filadélfia, Paris e Lisboa).
A fama que passou a rodear o estabelecimento, bem como a centralidade da sua localização, tornaram a Confeitaria Nacional um lugar de encontro social e mundano (o popular dramaturgo Gervásio Lobato frequentou-a, escreveu lá e fez dela cenário de uma das suas peças), o que lhe fez merecer lugar na primeira página do Diário Ilustrado nas vésperas do Natal de 1872. Por outro lado, de 28 de Outubro de 1873, por alvará do rei D. Luís, até ao fim da monarquia, a Confeitaria Nacional adquiriu o prestigioso estatuto de fornecedor da Casa Real.
O bisneto do fundador, Rafael Castanheiro Viana, assumiu a orientação da casa em 1913, numa época em que a publicidade dava os primeiros mas decisivos passos, sabendo que atrás de si havia já uma longa história de que se orgulhar. Passou, assim, a promover a Confeitaria nos principais jornais e, nessa medida, sentiu a necessidade de redefinir o grafismo associado à empresa, tendo sido ele a encomendar o logotipo que ainda hoje identifica a Confeitaria.
Por outro lado, ficaram patentes as preocupações sociais e a modernidade de concepções do proprietário ao dotar o estabelecimento de instalações específicas destinadas aos empregados: posto médico, biblioteca e balneários.
O prestígio e a solidez alcançada, bem como a continuada qualidade dos seus produtos, fizeram com que a casa continuasse a fornecer pessoas e entidades de primeiro plano, públicas e privadas. Em 1940, foi-lhe atribuído solenemente o estatuto de Casa Centenária da Associação Comercial de Lisboa, em cerimónia presidida pelo Presidente da República, Marechal Carmona.
Na mesma família há cinco gerações, premiada em várias exposições internacionais tanto pela doçaria tradicional portuguesa como pelas inovações criadas ao longo dos tempos, a Confeitaria Nacional, mantendo sempre a unidade decorativa e arquitectónica do prédio em que se situa há 180 anos, tem-se adequado aos novos tempos, embora mantendo sempre a ligação aos métodos tradicionais de confecção e à sua própria história, agora com a utilização do primeiro andar, tal como no tempo do filho do fundador.
Texto inicialmente publicado no volume Annualia 2008-2009