Terça-feira, 10 de Novembro de 2009

Anselmo Duarte (1920-2009)

Realizador e actor brasileiro (Salto do Itú, São Paulo, 21.4.1920 – São Paulo, 7.11.2009) que se tornou um dos actores mais populares do Brasil, em filmes como Querida Susana (1947, de Alberto Pieralisi), Tico-Tico no Fubá (1952, de Adolfo Celi), Sinhá Moça (1954, de Tom Payne e Oswaldo Sampaio) e A Arara Vermelha (1957, de Tom Payne). Em 1957, dirigiu o seu primeiro filme, Absolutamente certo, uma comédia musical, rodando em Espanha Um Raio de Luz e, entre nós, a terceira versão de As Pupilas do Senhor Reitor, no qual interpretou a personagem de Daniel (1959-1960). O segundo filme, O Pagador de Promessas (1962), segundo a peça de Dias Gomes, foi também um triunfo para o cinema brasileiro, ganhando a Palma de Ouro, em Cannes. O seu filme Vereda de Salvação (1965) foi apresentado no Festival de Berlim e nomeado para o Urso de Ouro.

Outros filmes: O Reimplante (1969), Quélé do Pajéu (1970), Um Certo Capitão Rodrigo (1971), O Descarte (1973), Já não se faz Amor como Antigamente (1974), Marido Que Volta Deve Avisar (1975), O Crime do Zé Bigorna (1976), Os Trombadinhas (1979).

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Sexta-feira, 2 de Outubro de 2009

Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen para Manoel de Barros

O poeta brasileiro Manoel de Barros foi distinguido com o Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen, atribuído pela Câmara Municipal de São João da Madeira ao livro Compêndio para uso dos pássaros - Poesia Reunida, 1937-2004. Via Blogtailors.

Manoel de Barros
Auto-retrato falado

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
      aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
      entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto 
      meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou 
      abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
      fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer do moral porque só faço
      coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

>>Biografia e Bibliografia de Manoel de Barros aqui.

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Quarta-feira, 30 de Setembro de 2009

Prémios Jabuti 2009

Prémio Jabuti 2009 de Poesia

Dois em Um, de Alice Ruiz S.

«Alice Ruiz nasceu em Curitiba, PR, em 22 de janeiro de 1946. Começou a escrever contos com 9 anos de idade, e versos aos 16. Foi "poeta de gaveta" até os 26 anos, quando publicou, em revistas e jornais culturais, alguns poemas. Mas só lançou seu primeiro livro aos 34 anos.» Ver mais aqui.

 

Prémio Jabuti 2009 de Conto

Canalha! (crónicas), de Fabricio Carpinejar

«Poeta e jornalista, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Nasceu em Caxias do Sul (RS). aos 23 de outubro de 1972.» Ver mais aqui.

 

Prémio Jabuti 2009 de Romance

Manual da paixão solitária, de Moacyr Scliar

«Moacyr Jaime Scliar nasceu em Porto Alegre (RS), no Bom Fim, bairro que até hoje reúne a comunidade judaica, a 23 de março de 1937... Publica seu primeiro livro, “Histórias de um Médico em Formação”, em 1962. A partir daí, não parou mais. São mais de 67 livros abrangendo o romance, a crônica, o conto, a literatura infantil, o ensaio, pelos quais recebeu inúmeros prêmios literários. Sua obra é marcada pelo flerte com o imaginário fantástico e pela investigação da tradição judaico-cristã.

(...) Em 31 de julho de 2003 foi eleito, por 35 dos 36 acadêmicos com direito a voto, para a Academia Brasileira de Letras, na cadeira nº 31, ocupada até março de 2003 por Geraldo França de Lima. Tomou posse em 22 de outubro daquele ano, sendo recebido pelo poeta gaúcho Carlos Nejar.» Ver texto integral e bibliografia.

 

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Segunda-feira, 4 de Maio de 2009

Augusto Boal (1931-2009)

 

Dramaturgo e encenador brasileiro (Rio de Janeiro, 16.3.1931 – ibid., 2.5.2009) que se distinguiu na direcção (1956-1971) do Teatro de Arena de São Paulo. Durante o período da ditadura militar esteve exilado, orientando grupos de teatro na América (Buenos Aires, Nova Iorque) e na Europa (Lisboa, Paris). Foi um renovador do teatro brasileiro, mas também um inovador de técnicas de representação e montagem teatral. O seu teatro revela o seu empenhamento político e social (o teatro do oprimido) e, segundo Vânia Chaves (em Biblos–Enciclopédia Verbo das Literaturas de Língua Portuguesa), é influenciado por Piscator, combinando os métodos de Stanislawski e de Brecht. Em Março último, fora nomeado pela Unesco Embaixador Mundial do Teatro.
Entre os numerosos títulos que constituem a sua bibliografia, referem-se José, do Parto à Sepultura (1960), Tempo de Guerra (1965), Arena Conta Zumbi (1965), Arena Conta Tiradentes (1967), A Lua Muito Pequena (1968), Arena Conta Bolívar (1970), Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas (1975), Técnicas Latino-Americanas de Teatro Popular (1976), 200 Exercícios e Jogos para o Ator e não Ator com Vontade de Dizer Algo através do Teatro (1977).

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Segunda-feira, 9 de Fevereiro de 2009

O dia em que Carmen Miranda faria 100 anos

 

Cantora e actriz brasileira de origem portuguesa, de seu nome Maria do Carmo Miranda da Cunha (Marco de Canaveses, 9.2.1909 - Los Angeles, 5.8.1955). Tendo ido para o Brasil com poucos meses de idade, ali fez uma fulgurante carreira nos palcos e na rádio. No início dos anos trinta, interpretou em Hollywood numerosos filmes que fizeram da sua figura colorida de latino-americana, talvez convencional, mas com enorme impacto, uma verdadeira imagem de marca. Certas interpretações suas ficaram famosas, como «O que é que a Baiana tem?», de Dorival Caymmi.
Filomografia – A Voz do Carnaval (1933, de Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro), Alô, Alô, Brasil (1935, de João de Barros, A. Ribeiro e Wallace Downey), Estudantes (1935, Wallace Downey), Alô, Alô, Carnaval (1936, de Wallace Downey e Adhemar Gonzaga), Banana da Terra e Laranja da China (1939 e 1940, de Ruy Costa), Down Argentine Way, That Night in Rio e Springtime in the Rockies (1940, 1941 e 1942, de Irving Cummings), Weekend in Havana e Greenwich Village (1941 e 1944, de Walter Lang), Something for the Boys, Doll Face e If I’m Lucky (1944, 1945 e 1946, de Lewis Seiler), Copacabana (1947, de Alfred E. Green), The Gang’s All Here (1943, de Busby Berkeley), A Date with Judy (1948, de Richard Thorpe), Nancy Goes To Rio (1950, de Robert Z. Leonard), Scared Stiff (1953, de George Marshall).

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Quinta-feira, 30 de Outubro de 2008

Prémio Portugal Telecom (Brasil)/ Cristovão Tezza por O filho eterno

«Cristovão Tezza nasceu em Lages, Santa Catarina, em 1952. Em junho de 1959, morreu seu pai; dois anos depois, a família se mudou para Curitiba, Paraná.
Em1968 passou a integrar o Centro Capela de Artes Populares
, dirigido por W. Rio Apa, com quem trabalhará até 1977. Ainda em 1968, também participa da primeira peça de Denise Stoklos,  e no ano seguinte de duas montagens do grupo XPTO, dirigido por Ari Pára-Raio, sempre em Curitiba.
Em 1970 concluiu o ensino médio no Colégio Estadual do Paraná. 
No ano seguinte, entrou para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (RJ), desligando-se em agosto do mesmo ano. Em dezembro de 1974, foi a Portugal estudar Letras na Universidade de Coimbra, matriculado pelo Convênio Luso-Brasileiro, mas como a universidade estavan fechada pela Revolução dos Cravos, passou um ano perambulando pela Europa.
Em janeiro de 1977, casou-se. Em 1984, mudando-se para Florianópolis, Santa Catarina, trabalha como professor de Língua Portuguesa da UFSC. Voltou a Curitiba em 1986, agora dando aulas na UFPR, onde leciona até hoje.

Em 1988 publicou Trapo (Brasiliense), livro que tornou seu nome conhecido nacionalmente. Nos dez anos seguintes, publicou os romances Aventuras provisórias (Prêmio Petrobrás de Literatura), Juliano pavollini, A suavidade do vento, O fantasma da infância e Uma noite em Curitiba. Em 1998, seu romance Breve espaço entre cor e sombra (Rocco) foi contemplado com o Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional (melhor romance do ano); e O fotógrafo (Rocco), publicado em 2004, recebeu no ano seguinte o Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance do ano e o Prêmio Bravo! de melhor obra.
Sua tese de doutorado (USP), Entre a prosa e a poesia - Bakhtin e o formalismo russo, foi publicada em 2002 (Rocco). Também na área acadêmica, Cristovão Tezza escreveu dois livros didáticos em parceria com o lingüista Carlos Alberto Faraco (Prática de Texto
e Oficina de Texto, editora Vozes), e nos últimos anos tem publicado eventualmente resenhas e textos críticos no jornal Folha de S. Paulo.
Em 2006, assinou contrato com a Editora Record
, que começou a relançar sua obra. Em julho de 2007 foi publicado seu novo romance O filho eterno, e foram reeditados, com novo projeto gráfico, seus romances Trapo, Aventuras provisórias e O fantasma da infância.

Em dezembro de 2007, o romance O filho eterno recebeu o Prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor obra de ficção do ano. O livro foi lançado (junho de 2008) na Itália pela editora Sperling & Kupfer (tradução de Maria Baiocchi), e já tem edições contratadas na França, Espanha e Portugal.»

 

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Quarta-feira, 15 de Outubro de 2008

Murilo Antônio de Carvalho/ Prémio Leya

O Júri do Prémio Leya (presidido por Manuel Alegre e constituído também por Nuno Júdice, José Carlos Seabra Pereira, Lourenço do Rosário, Rita Chaves, Pepetela e Carlos Heitor Cony) deliberou conceder a primeira edição do Prémio Leya ao romance O Rastro do Jaguar, de Murilo Antônio de Carvalho, jornalista e realizador brasileiro.


«Obra de fôlego, que refigura uma vasta erudição, O Rastro do Jaguar combina narrativa histórica e arte poética, elaboração wagneriana e aura profética, de forma a prender o interesse da leitura por uma saga onde se conjugam a busca individual de raízes e o destino ameríndio, e que atravessa a França, Portugal, Brasil, Paraguai e Argentina, até ao final aberto sobre a demanda milenarista da Terra Sem Males.»


Murilo Antônio de Carvalho é natural de Carvalhópolis, Minas Gerais, Brasil. Jornalista, escritor, repórter e realizador de televisão.
Alguns livros: Raízes da Morte, 1976; Cenas Brasileiras, Histórias de Trabalhador (Reportagens), 1976; Cenas Brasileiras, Festas e Artistas Populares (Reportagens, com outros autores), 1977; O Sangue da Terra – A luta armada no campo (Reportagens), 1980; Uma Viagem de Canoa de Minas Gerais ao Oceano Atlântico. História dos Vales do Rio das Velhas e do São Francisco (Fotografia de Ronaldo Kotcho),  1986; Raso da Catarina – O grande deserto brasileiro (Fotografia de Silvestre Silva), 1987; Cachaça, uma alegre história Brasileira (Fotografia de Silvestre Silva), 1988; O Baixo Rio São Francisco – História de uma Conquista (Fotografia de José Caldas), 1996.

 

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Segunda-feira, 13 de Outubro de 2008

Annualia 2008-2009/ Factos e Realidades

América Latina, panorâmica das tendências

 

por

Clóvis Brigagão

Universidade Candido Mendes

 

«A percepção dos latinos está dividida: metade quer a competitividade económica, a abertura do mercado e a outra metade exige justiça e igualdade social com a intervenção do Estado. As duas podem caminhar juntas a partir das conquistas democráticas obtidas, quando as elites políticas assumem a responsabilidade de reformar o sistema económico desigual.»

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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Acordo Ortográfico: «Torço para que os portugueses digam não» (Pasquale Cipro Neto)

 

O senhor é favorável à unificação da grafia entre os países de língua portuguesa?

A unificação interessa muito mais ao Brasil que a Portugal. Já houve várias tentativas de criar uma normatização única para os sete países. Por trás disso há o interesse do Brasil em vender livros didáticos para Angola. Acredito que as modificações previstas para este processo são desnecessárias e não tocam em pontos importantes como a extinção do hífen. Para mim, estão trocando uma porcaria por outra. Torço para que os portugueses digam não.

Leia toda a entrevista aqui.
*

 

Pasquale Cipro Neto é professor de português e colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, entre outros, e da revistra literária Cult. É o idealizador e apresentador do programa «Nossa Língua Portuguesa», transmitido pela Rádio Cultura AM e pela TV Cultura, e do programa «Letra e Música», transmitido também pela Rádio Cultura. Autor do Livro Ao Péda Letra, assina também a série «Português com o Professor Pasquale» e o «Anexo Gramatical do Manual da Redacção da Folha de S. Paulo».

 

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Terça-feira, 22 de Abril de 2008

Datas perdidas

«Na terça-feira, 21, segundo o testemunho do célebre escrivão cabralino [Pêro Vaz de Caminha], os membros da tripulação encontraram alguns sinais de terra: "muita quantidade d'ervas compridas a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno"26. Apesar de, nessa latitude (cerca de 17º S), dispor de vento favorável - que sopra francamente de leste - para atingir mais rapidamente o seu objectivo prioritário que era o de alcançar a monção do Índico, o capitão-mor alterou deliberadamente o rumo para oeste em busca de terra.

A 22 de Abril toparam, pela manhã, "com aves, a que chamam fura-buchos... e, a horas de véspera [entre as 15 horas e o sol-posto]," tiveram "vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz"27.

Após este achamento, a armada fundeou a cerca de 6 léguas (19 milhas) da costa. No dia imediato (quinta-feira, 23 de Abril), os navios mais ligeiros (caravelas), seguidos pelos de maior tonelagem (naus), procedendo cautelosamente a operações de sondagem, ancoraram a cerca de meia légua (milha e meia) da foz do posteriormente denominado rio do Frade. Foi, então, decidido enviar um batel a terra, comandado por Nicolau Coelho, para estabelecer relações com os indígenas que se encontravam na praia.»

Jorge Couto, «O Achamento da Terra de Vera Cruz», Revista Camões, Número 8, Janeiro-Março 2000

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Domingo, 16 de Março de 2008

Vida de Machado de Assis - V

por Josué Montello *

 

A 18 de Abril de 1888, a Princesa Isabel agracia o escritor com a Ordem da Rosa.
Ao sobrevir a República, o caramujo se manteria encolhido, como simples espectador da vida política, a que daria de longe em longe, nas suas crónicas ou na transparência da ficção literária, o reparo breve de seus comentários. Em 1892, transformada a Secretaria da Agricultura em Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, ei-lo Director-Geral de Viação, claro testemunho de que o novo regime lhe reconhecia os merecimentos.
O escritor, após a publicação das Memórias Póstumas de Brás Cubas – a princípio saídas na Revista Brasileira, depois em livro –, alcançara a culminação da sua carreira, no estilo, na originalidade do tema, na agudeza da filosofia de desencantos.
Vinha de longe, por esse tempo, a ideia de criar-se uma Academia Brasileira, nos moldes da Academia Francesa. Chegara a cogitar-se do assunto no Instituto Histórico, por volta de 1847. Em 1883 fundara-se no Rio a Associação dos Homens de Letras do Brasil, com Machado de Assis entre os seus membros.
Mas o tempo se encarregou de desfazer esses actos bem intencionados. Na República, Medeiros e Albuquerque foi o primeiro a pensar em levar adiante a ideia de uma Academia, ainda em 1869. Mas só em 1896 a instituição passaria da condição de simples sonho para a realização efectiva, desta vez sob a presidência de Machado de Assis.
O livro que Sílvio Romero lhe consagra, e que sai no mesmo ano da instalação da Academia Brasileira, vale mais como um ataque do que como uma apreciação de conjunto de sua obra e de sua personalidade de escritor. Machado de Assis não reage. Sente que chegou ao altiplano. A apreciação do que realizou pertence à crítica, não à sua pessoa. E a crítica vem, com efeito, em defesa de seu legado de arte.
Deixando que a polémica se desfizesse, Machado de Assis dava a si mesmo a consolação que dera a José de Alencar: sabia que tinha em seu favor a conspiração da posteridade. A vida no lar, na sua casa de Cosme Velho, continua a ser, para Machado de Assis, um idílio de mocidade.
Além de companheira e consorte, Carolina era para Machado de Assis a confidente. Por isso, em 1904, quando ela morre, a desorientação do escritor parece irreparável.
E ele, sempre sóbrio nas expansões epistolares, não sabe sofrear a pena amargurada: «eu estou ainda muito perto de uma grande injustiça para descrer do mal».
Após a morte de Carolina, Machado de Assis passará a expandir-se, na ordem das confidências, com dois amigos, que tinham idade de ser seus filhos: um, que está sempre a seu lado, Mário de Alencar; outro, que está distante, cumprindo vida diplomática, Magalhães de Azeredo. Ao primeiro, confidencia um pouco de sua vida íntima; ao segundo, deixa fluir ao longo da correspondência epistolar as confidências literárias. É certo que, com este último, já o escritor fechado e esquivo dera um pouco de si mesmo, revelando certos arcanos de seu pensamento; a solidão, com a morte da companheira, fê-lo ainda mais expansivo.
Na amizade dos companheiros o velho escritor se refugia para mitigar a solidão. Nas horas em que esta se fecha sobre a sua pessoa, no recesso da casa vazia de Carolina, ele se debruça sobre o papel em branco e encontra nas letras a consolação do seu ocaso. E este ocorre em Junho de 1908, quando o mestre entra em gozo de licença, no seu cargo de director da Contabilidade do Ministério da Viação, para tratamento de saúde. Aproxima-se agora o termo de sua vida. Em seu redor tem a assistência dos amigos e companheiros.
D. Francisca de Bastos Cordeiro, que frequentemente o visitava, deixou-nos, sobre esses dias derradeiros de Machado de Assis, este depoimento:
«Quando o seu estado se agravou, Machado de Assis passou a dormir na pequena saleta de costura de D. Carolina, junto à sala de jantar, cuja porta ficava em frente à que abria para a entrada habitual, no patamar da sala. Repousava em modesto leito de ferro, tendo à cabeceira uma mesinha e, pouco afastadas, duas cadeiras, das da sala de jantar.»
E ali faleceu o grande escritor na madrugada de 29 de Setembro. Na tarde desse dia, saiu o féretro do prédio do Silogeu Brasileiro, onde a Academia tinha a sua sede. Junto ao ataúde, falou Rui Barbosa, em nome de seus companheiros, acentuando que se despedia do confrade modelar: «Não é o clássico da língua; não é o mestre da frase; não é o árbitro das letras; não é o filósofo do romance; não é o mágico do conto; não é o joalheiro do verso, o exemplar sem rival entre os contemporâneos da elegância e da graça, do aticismo e da singeleza no conceber e no dizer; é o que soube viver intensamente da arte, sem deixar de ser bom.» (fim)

 

* Publicado em Gigantes da Literatura Universal, vol. 26, Verbo, Lisboa/São Paulo, 1972.

 

 

publicado por annualia às 22:24
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Segunda-feira, 3 de Março de 2008

Comemorações dos 200 anos da chegada da Família Real ao Brasil

No Rio de Janeiro, o Arquivo Nacional vai inaugurar dia 6 de Março, às 19 horas, a exposição "Genealogia e heráldica", que reúne 54 documentos originais pertencentes ao arquivo da Torre do Tombo. Etre os papéis estão, por exemplo, a carta de elevação do Brasil à categoria de Reino Unido ao de Portugal e Algarves (de 1815) e o Tratado de Paz e Amizade (1825), no qual se reconhece a independência do Brasil. Dia 7 acontece o seminário "Dom João no Brasil", com palestras dos vencedores do Prémio Dom João VI de Pesquisa, promovido pelo Arquivo.

Ainda dentro da programação dos 200 anos da chegada da família real, o Pólo de Pesquisa do Real Gabinete Português de Leitura e a Cátedra Jorge de Sena da Universidade Federal do Rio de Janeiro lançam dia 6, às 16h, as revistas "Convergência Lusíada" e "Metamorfoses 8", como mais uma iniciativa do projecto de estímulo ao diálogo luso-brasileiro. O lançamento, que acontece no Real Gabinete, terá ainda uma mesa-redonda com as professoras Marta Sena (UFRJ/Casa de Rui Barbosa) e Gilda Santos (UFRJ/Real Gabinete), que vão falar sobre a ligação do escritor Machado de Assis com a cultura portuguesa.

(Fonte: O Globo, via Publish News)

 

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