Quarta-feira, 30 de Abril de 2008

Datas perdidas

General e estadista americano (Pope’s Creek, Virgínia, 1732 - Mount Vernon, Virgínia, 1799). Rico fazendeiro da Virgínia, tomou parte na Guerra dos Sete Anos ao lado dos Ingleses, com o posto de coronel. Combateu no Canadá, onde observou o desprezo dos oficiais britânicos pelos oficiais americanos, colocando-se abertamente ao lado dos seus compatriotas logo que surgiram os primeiros conflitos, iniciado o movimento pela independência. Declarada a guerra aos Ingleses, no II Congresso de Filadélfia (1775), dirigiu-se a Boston e tomou a direcção das operações militares, que não ofereciam aos Americanos grandes perspectivas de sucesso, dada a inferioridade do seu exército, improvisado à pressa. Resolveu por isso levar a guerra ao Canadá, onde pensava que se lhe juntassem muitos franceses, recentemente anexados pelos Ingleses. Marchou sobre Quebeque, mas a operação não é secundada pelos Canadianos. Retrocedeu sobre Boston, obrigando os Ingleses a evacuarem a cidade (1776) e atacou Nova Iorque.
ImageForçado, por sua vez, a retirar, atravessou New Jersey, cortou o Delaware* e ganhou as batalhas de Trenton (1776) e Princeton (1777).
Um ano depois tomou Filadélfia e, reforçadas as suas forças pelo exército francês de Rochambeau, aniquilou os Ingleses em Yorktown (1781).
Ganhou a guerra e, reconhecida a independência do país pela Inglaterra (1783), recolheu às suas propriedades de Mount Vernon, Mount Vernon inVirginiamas viu-se obrigado à voltar à vida pública, por ter sido eleito presidente dos EUA (tomou posse em 30 de Abril de 1789). Reeleito em 1792, recusou a nova candidatura que lhe ofereceram, retirando-se definitivamente para as suas propriedades.
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* Referência na pintura à esquerda: George Washington Crossing the Delaware (1851), de Emanuel Gottlieb Leutze (Metropolitan Museum de Nova Iorque)

 

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Terça-feira, 29 de Abril de 2008

Hitchcock morreu há 28 anos

Alfred Hitchcock (Londres, 13.8.1899 - Los Angeles, 29.4.1980), foi um mestre da técnica do cinema de mistério e do suspense, de grande sentido dramático e fundo alcance psicológico, temperados por um humor muito especial. Os seus filmes demonstram também um extraordinário sentido visual e espacial. Dirigiu grandes actores e actrizes: Joan Fontaine, Ingrid Bergman, Jane Wyman, Marlene Dietrich, Grace Kelly, Kim Novak, Vera Miles, Anne Baxter, Lawrence Olivier, Joseph Cotten, Cary Grant, James Stewart, Montgomery Clift, Henry Fonda, Anthony Perkins, entre outros. Em 1925, realizou o seu primeiro filme The pleasure garden, seguido de The Lodger (1926), primeiro policial da sua carreira. Já nos EUA realiza Rebecca (1940, Óscar para o Melhor Filme) e a sua filmografia é hoje, no seu conjunto, um marco da história do cinema.
Outros filmes:
The Man Who Knew Too Much (1934)
The 39 steps (1935)
The Secret Agent (1936)
The Lady Vanishes (1938)Alfred Hitchcock Photo
Lifeboat (1943)
Notorious (1946)
Rope (1948)
Under Capricorn (1949)
Stage Fright (1950)
Strangers on a Train (1951)
I Confess (1953)
Dial M For Murder (1954)
The Rear Window (1954)
To Catch a Thief (1954)
The trouble with Harry (1955)
The Wrong Man (1956)
Vertigo (1958)
North by Northwest (1959)
Psycho (1960)
The Birds (1962)
Torn Curtain (1966)
Topaz (1969)
Frenzy (1972)
Family Plot (1977)
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Domingo, 27 de Abril de 2008

Datas perdidas: Fernão de Magalhães

Navega­dor português (Porto?, cerca de 1480 - Cebu, Filipinas, 27.4.1521). Combatente em África e na Índia, irritado por D. Manuel I não lhe dar as compensações a que se julgava com direi­to, retirou-se para Castela e ofereceu os seus serviços ao imperador Car­­los V, que os aceitou. Propunha-se descobrir novas terras, chegar, por Ocidente, à região das especiarias e demonstrar que as ilhas Malucas, reclamadas por Espanhóis e Portu­gueses, «caíam na demarcação de Castela«, fixada pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Reunidos os navios, deixaram o porto de San Lucar de Barrameda (1519) e partiram para ocidente. Rumaram às Canárias, Cabo Ver­de, Guiné, passaram à costa brasileira, chegaram à baía de Gua­na­bara. Explorada a foz do rio da Prata, desceram a costa meridional da Patagónia, em busca de uma passagem para o Pacífico, e entraram na baía de São Julião. Depois de inú­meras dificuldades, penetrou no estreito (1.2.1520), que se veio a chamar Estreito de Magalhães. Três semanas depois, senhor apenas de três navios, visto um haver naufragado e outro retrocedido para Espanha, começou a sulcar as águas do oceano Pacífico, no meio dos maiores tormentos. Por fim, quando já haviam perdido a esperança de salvamento, aportaram às ilhas Marianas. No mês seguinte chegaram às ilhas depois chamadas Filipinas, onde Magalhães foi morto, numa luta travada com os indígenas da ilha de Mactão (27.4.1521). A tripu­lação continuou a viagem e voltou à Espanha pelo caminho português, sob o comando de Sebastião de Elcano. Dos cinco navios que formavam a esquadra, só um regressou com a glória de haver dado a primeira volta ao Mundo.
publicado por annualia às 10:32
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Sexta-feira, 25 de Abril de 2008

Datas perdidas

No dia 25 de Abril de 1792, Nicolas-Jacques Pelletier foi guilhotinado, na place de Grève (actual place de l'Hôtel de Ville), em Paris, constituindo, assim, a primeira vítima oficial daquele instrumento baptizado como nome de Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814), apesar de não ter sido este o inventor. A guilhotina foi o instrumento privilegiado da política de Terror posta em prática após a Revolução Francesa. Em França, a última execução pública ocorreu em 17 de Junho de 1939, mas a sua última utilização foi em 1977. A pena de morte foi abolida em 1981.

http://www.metaphor.dk/guillotine/Pages/Guillot.html

 

 

 

 

 

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Quarta-feira, 23 de Abril de 2008

William Shakespeare nasceu há 444 anos

William Shakespeare terá nascido a 23 de Abril de 1564 (m. 23.4.1616). É uma das figuras de maior relevo da literatura universal. Nasceu em Stratford-upon-Avon, onde fez os seus estudos, mas é partir do momento em que se instala em Londres (sabe-se que já aí residia em 1592) que o seu percurso, desde logo ligado ao teatro, pode ser seguido mais de perto. Aí trabalhou como actor na companhia Lord Chamberlain's Men que, em 1603, se transformaria em The King´s Men, a companhia que haveria de dominar o panorama teatral inglês durante grande parte do século, instalada no Globe Theatre e dispondo dos melhores actores do tempo, como Richard Burbage. Shakespeare permaneceria sempre associado a este grupo quer como autor, quer como «company sharer», isto é, participando da sua direcção.
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TÍTULOS
PRIMEIRAS
REPRESENTAÇÕES
Henrique VI
1589/92
The Comedy of Errors
1592/93
Ricardo III
1592/93
The Taming of the Shrew
1593/94
The Two Gentleman of Verona
1594/95
Love's Labour Lost
1594/95
Romeo and Juliet
1594/95
A Midsummer Night’s Dream
1595/96
Richard II
1595/96
The Merchant of Venice
1596/97
King John
1596/97
Henrique IV
1597/98
Much Ado About Nothing
1598/99
Henry V
1598/99
As You Like It
1599/1600
Julius Caesar
1599/1600
Hamlet
1600/01
The Merry Wives of Windsor
1600/01
Twelfth Night
1601/02
Troilus and Cressida
1601/02
All´s Well That Ends Well
1602/03
Othello
1604/05
Measure for Measure
1604/05
King Lear
1605/06
Macbeth
1605/06
Antony and Cleopatra
1606/07
Coriolanus
1607/08
Timon of Athens
1607/08
Pericles
1608/09
Cymbeline
1609/10
The Winter's Tale
1610/11
The Tempest
1611/12
The Two Noble Kinsmen
1612/13
Henrique VIII
1612/13

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O génio de Shakespeare manifesta-se em vários planos e nos vários géneros de teatro que abordou. Todavia, são as tragédias, principalmente as que escreveu entre 1600 e 1605 -- Hamlet, Othello, King Lear e Macbeth --, que parecem reunir de forma exemplar os elementos mais perturbantes do seu teatro. A condição humana, o destino, as paixões, o poder, a traição e a perfídia, a verdade e a mentira, são temas recorrentes que, no seu conjunto, constituem uma densa análise do Homem e daquilo que o move. Daí que ressalte delas um elevado grau de universalidade e intemporalidade, isto é, verifica-se que os problemas nela representados ultrapassam as circunstâncias do tempo e do espaço em que foram colocados. Hamlet, por exemplo, transporta consigo um simbolismo que quase se autonomizou da própria peça, quase se tornou uma personagem real, conhecido mesmo de quem nunca leu ou viu a tragédia shakespeariana, podendo mesmo ser citado. Frases como «ser ou não ser, eis a questão» (to be or not to be that is the question) ou «algo está podre no reino da Dinamarca» (something is rotten in the state of Denmark) circulam independentemente do contexto em que foram produzidas. As grandes tragédias de Shakespeare têm sempre sido uma fonte inesgotável de novas interpretações e abordagens.
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Hamlet. To be, or not to be — that is the question:

Whether 'tis nobler in the mind to suffer

The slings and arrows of outrageous fortune

Or to take arms against a sea of troubles,

And by opposing end them. To die — to sleep —

No more; and by a sleep to say we end

The heartache, and the thousand natural shocks

That flesh is heir to. 'Tis a consummation

Devoutly to be wish'd. To die — to sleep.

To sleep — perchance to dream: ay, there's the rub!

For in that sleep of death what dreams may come

When we have shuffled off this mortal coil,

Must give us pause. There's the respect

That makes calamity of so long life.

For who would bear the whips and scorns of time,

Th' oppressor's wrong, the proud man's contumely,

The pangs of despis'd love, the law's delay,

The insolence of office, and the spurns

That patient merit of th' unworthy takes,

When he himself might his quietus make

With a bare bodkin? Who would these fardels bear,

To grunt and sweat under a weary life,

But that the dread of something after death —

The undiscover'd country, from whose bourn

No traveller returns — puzzles the will,

And makes us rather bear those ills we have

Than fly to others that we know not of?

Thus conscience does make cowards of us all,

And thus the native hue of resolution

Is sicklied o'er with the pale cast of thought,

And enterprises of great pith and moment

With this regard their currents turn awry

And lose the name of action...

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«Ser ou não ser, eis a questão! O que será mais nobre para o espírito humano: sofrer os ataques e as frechadas da fortuna adversa, ou pegar em armas contra um mar de dores e, enfrentando-as, pôr-lhes termo? Morrer... dormir; mais nada! E dizer que se acaba com as penas do coração e mil choques de que é herdeira a carne! Eis um fim a desejar ardentemente. Morrer... dormir! Dormir... Sonhar talvez! Aí é que está o problema! Porque há que pensar nos sonhos que virão nesse sono da morte, quando nos libertarmos desta mortal crisálida! É este raciocínio que nos leva à desgraça de uma vida tão longa! Pois quem suportaria as chicotadas e o desprezo do mundo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as ferroadas do amor incompreendido, as delongas da justiça, a insolência dos funcionários e o coice que o mérito paciente recebe dos indignos, quando se podia buscar repouso com a ponta de um punhal? Quem aguentaria tão pesado fardo, gemendo e suando, sob o peso de uma vida tão trabalhosa, se não fosse o pavor do que existe para lá da morte — essa região desconhecida cujas fronteiras nenhum viajante volta a atravessar —, temor que embaraça a vontade e nos obriga a suportar os males que conhecemos, em vez de corrermos para outros de que não sabemos nada? Assim a consciência faz cobardes de nós todos, e assim o primeiro impulso da reolução esfuma-se no pensamento, e as tentativas de força e energia, perante este raciocínio, mudam o seu curso e perdem o nome de acção...» (tradução de Ricardo Alberty).

 

 

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Dia Mundial do Livro

LIVROS QUE SE TRAZEM DA ILHA

por João Bigotte Chorão

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Em matéria de livros, nada tão melancólico como não os ver, mesmo em casas onde não falta espaço e há de tudo um pouco -- móveis de estilo, quadros com cotação, baixela de valor. Não os vemos ali porque não são apetecidos nem necessários. Melancólico é também o espectáculo dos livros que invadem tudo, extravasando das estantes para cadeiras, sofás, até para o chão, numa desordem e promiscuidade onde a gente se perde e desgosta. Mas os livros simetricamente alinhados, vaidosos das suas ricas encadernações em estantes de boa madeira, parecem mais objectos decorativos que obras de consulta permanente e de grata releitura. Não têm eles sinais iniludíveis de serem muito manuseados, como esses livros que amamos, nas horas de estudo e de lazer sempre ao alcance da mão para responderem às nossas interrogações e serem como companheiros lúcidos e lúdicos. Livros assim, sem outra valia que não a cultural e literária, dói-nos porém vê-los tão maltratados, sem lombada ou capa brochada, ou de encadernação cansada.

À medida que envelhecemos, quando chega a oprimir-nos esse acervo de livros que já não leremos, à medida que o tempo passa e se faz, cada vez mais, dramaticamente escasso, temos a nostalgia de uma biblioteca essencial, de poucos mas bons livros. Aqueles que nos formaram e encantaram -- e decidiram, porventura, do nosso destino. São os livros que levamos para a tal ilha deserta. Ou, na lúcida advertência de um leitor omnívoro como Jünger, os livros que traríamos dessa ilha, livros que parecem sempre novos a cada releitura, e preenchem o vazio de horas de solidão e silêncio, e nos confortam neste duro ofício de viver. Livros que, para uns, são os grandes monumentos literários, referências obrigatórias do nosso património cultural. Livros que, para outros, não são os grandes clássicos, que toda a gente conhece ao menos de nome, mas as obras mais discretas, quase descobertas pessoais -- não as teríamos encontrado se as não tivéssemos procurado --, talvez confissões em surdina, memórias interiores, diários íntimos, epistolários em busca de um diálogo com o Outro. São, em suma, livros que podemos ler de qualquer maneira, sentados, de pé, deitados, em privado e em lugar público, sem que seja mister vestir-nos de ponto em branco, como para receber visitantes ilustres. Como fazia Maquiavel quando relia os seus clássicos latinos e italianos.

 

 

 

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Terça-feira, 22 de Abril de 2008

Tratado de Saragoça

«Se olharmos para o planisfério português anónimo de 1502 (dito Cantino), tomando como escala da medida de um grau equatorial a distância entre os trópicos e o equador, veremos que, mesmo com as dificuldades referidas, está praticamente certa a largura do continente africano e a distância à Índia. Imaginando que as viagens sequentes, até Malaca, Banda e Molucas, deram uma noção (mesmo que vaga) do espaço percorrido, é impossível não pensar que os próprios portugueses foram tomando consciência do problema diplomático que vinha a caminho, quando os espanhóis percebessem até onde estavam a navegar os navios nacionais. Em boa razão, a disputa estava latente desde Tordesilhas, desencadear-se-ia mais dia ou menos dia, e foi nessa base que Magalhães apresentou o seu projecto a Carlos V, que não hesitou em aceitá-lo.

Os dois reinos decidiram, então, reunir uma “junta de especialistas” que debateriam o problema da delimitação oriental das suas zonas de influência, de forma a acordar a quem caberia a posse das longínquas Molucas, cujo comércio se revelava com valor significativo. Essa junta reuniu-se de 11 de Abril a 31 de Maio de 1524, sobre a ponte do rio Caia, entre Elvas e Badajoz, mas os resultados concretos foram absolutamente nulos, como seria de esperar.

D. João III sabia que não era possível fazer a delimitação com base em “verdades geográficas” incontestáveis, de forma que deu instruções para que fosse recusada toda a argumentação de cartógrafos e cosmógrafos, afirmando a sua soberania com base numa presença, de facto, desde há mais de uma década. Era um argumento juridicamente importante desde que tivesse força política para o impor, ou, por outras palavras, desde que Carlos V não estivesse disposto a combater pelas Molucas, o que era o caso. Nenhuma das partes queria que a dissidência resultasse em conflito violento, pelo que uma solução política era possível. Provisoriamente, ficou aceite que os direitos de comércio nas Molucas seriam portugueses, mediante o pagamento de 40 000 ducados anuais, que (ainda por cima) ficavam por conta do dote de D. Catarina, ainda em dívida a Portugal. E este foi o acordo imediato que se seguiu à “conversa de surdos” que foi a Junta de Badajoz-Elvas. Em 1529, com o tratado de Saragoça*, foi concedida a posse definitiva do comércio das Molucas a Portugal, pela quantia de 350 000 ducados.

Não é certo que Portugal tenha pago esta quantia na totalidade e, hoje, pouco importa saber que as Molucas estavam, de facto, no hemisfério português, pela insignificante diferença de cerca de dois graus. O assunto, aliás, viria a perder importância nas últimas décadas do século XVI, fosse pela união das coroas ibéricas, fosse porque o comércio do cravo nunca atingiu a importância que se chegou a pensar.»

Luís Jorge Semedo de Matos, Navegações Portuguesas, Instituto Camões

*O Tratado de Saragoça foi assinado em 22 de Abril de 1529 pelo rei D. João III e o imperador Carlos V.

 

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Datas perdidas

«Na terça-feira, 21, segundo o testemunho do célebre escrivão cabralino [Pêro Vaz de Caminha], os membros da tripulação encontraram alguns sinais de terra: "muita quantidade d'ervas compridas a que os mareantes chamam botelho e assim outras, a que também chamam rabo d'asno"26. Apesar de, nessa latitude (cerca de 17º S), dispor de vento favorável - que sopra francamente de leste - para atingir mais rapidamente o seu objectivo prioritário que era o de alcançar a monção do Índico, o capitão-mor alterou deliberadamente o rumo para oeste em busca de terra.

A 22 de Abril toparam, pela manhã, "com aves, a que chamam fura-buchos... e, a horas de véspera [entre as 15 horas e o sol-posto]," tiveram "vista de terra, isto é, primeiramente d'um grande monte, mui alto e redondo, e d'outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à terra a Terra de Vera Cruz"27.

Após este achamento, a armada fundeou a cerca de 6 léguas (19 milhas) da costa. No dia imediato (quinta-feira, 23 de Abril), os navios mais ligeiros (caravelas), seguidos pelos de maior tonelagem (naus), procedendo cautelosamente a operações de sondagem, ancoraram a cerca de meia légua (milha e meia) da foz do posteriormente denominado rio do Frade. Foi, então, decidido enviar um batel a terra, comandado por Nicolau Coelho, para estabelecer relações com os indígenas que se encontravam na praia.»

Jorge Couto, «O Achamento da Terra de Vera Cruz», Revista Camões, Número 8, Janeiro-Março 2000

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Segunda-feira, 21 de Abril de 2008

Germaine Tillion (1907-2008)

Germaine Tillion s'est éteinte samedi à l'âge de 100 ans. (Maxppp) 
Etnóloga e resistente francesa (Allègre, Haute-Loire, 30.5.1907 - Saint-Mandé, Val-de-Marne, 19.4.2008), alvo de numerosas distinções e uma das cinco mulheres a quem foi atribuída a Grã-Cruz da Legião de Honra (1999). Discípula de Marcel Mauss e Louis Massignon, participou de uma das primeiras redes da resistência francesa. Foi presa em 1942 e deportada para o campo de concentração de Ravensbrück, de onde sairia apenas em 1945. Dessa sua experiência, Germaine Tillion deixou testemunho em Ravensbrück (1946, depois revisto e reeditado diversas vezes). Após o fim da Guerra, estudou vários aspectos dos campos de concentração, tanto nazis como soviéticos. Os seus interesses levaram-na depois à Argélia onde, antes e depois da independência pugnou incansavelmente pelos direitos humanos, interessando-se também pela condição feminina no Islão (L'Algérie en 1957; Le Harem et les cousins, 1966). Em 2000 publicou uma autobiografia com o título Il était une fois la ethnographie. Por sua vez, Jean Lacouture publicou uma biografia de Germaine Tillion, intitulada Le Témoignage est un combat.
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Domingo, 20 de Abril de 2008

Octavio Paz morreu há 10 anos

Escritor e diplomata mexicano (Cidade do México, 31.3.1914 - ibid., 20.4.1998). Estudou na Universidade do México e, posteriormente, nos EUA. Em 1937, combateu em Espanha pelos republicanos; em 1938, fundou a revista Taller e, em 1942, colaborou no jornal El Hijo Pródigo. Foi embaixador do México em França, na Índia, no Japão e nas Nações Unidas. Filho espiritual do surrealismo, é um dos maiores poetas mexicanos. Ao lirismo da água, da carne e do sol, soube aliar uma crítica inteligente do espírito do México moderno no seu ensaio El laberinto de la soledad (1950). Para lá da mitologia, defende o conhecimento profundo da realidade nacional e uma tomada de consciência de uma universalidade reencontrada: «Somos con­temporâneos de todos os ho­mens.»
As suas colectâneas poéticas testemunham a mesma preocupação de abertura; abolindo as fronteiras, o poema é essencialmente ritmo e imagem, o que Paz explica na sua meditação sobre a poesia, El arco y la lira (1956). Grande parte da sua obra poética está incluída em Libertad bajo palabra: obra poetica, 1935-58 (1960), Salamandra (1962), Viento entero (1966) e Ladera este (1969), Topoemas (1971), Vuelta (1976), Hijos del aire (1979), Árbol adentro (1987).
Outras obras: Cuadrivio (ensaios, incluindo um estudo de Fernando Pes­soa, 1965), Puertas al campo (ensaio, 1966), Los hijos del limo (ensaios, 1974), Sombras de obras e Tiempo nublado (1983). Em 1981 recebeu o Prémio Cervantes, em 1990 o Prémio Nobel de Literatura, em 1993 o Prémio Príncipe das Astúrias e, em 1994, a Grã-Cruz da Legião de Honra de França.
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    La Poesía
 

    Llegas, silenciosa, secreta,
    y despiertas los furores, los goces,
    y esta angustia
    que enciende lo que toca
    y engendra en cada cosa
    una avidez sombria.

    El mundo cede y se desploma
    como metal al fuego.
    Entre mis ruinas me levanto, 
    solo, desnudo, despojado,
    sobre la roca inmensa del silencio
    como un solitario combatiente
    contra invisibles huestes.

    Verdad abrasadora, 
    ¿a qué me empujas?
    No quiero tu verdad,
    tu inmensa pergunta.
    ¿A qué esta lucha estéril?
    No es el hombre criatura capaz de contenerte,
    avidez que solo en la sed se sacia,
    llama que todos los labios consume,
    espíritu que no vive en ninguna forma
    mas hace arder todas las formas.

    Subes desde el más hondo de mí,
    desde el centro innombrable de mi ser,
    ejército, marea.
    Creces, tu sed me ahoga,
    expulsando, tiránica, 
    aquello que no cede
    a tu espada frenética.
    Ya sólo tu me habitas,
    tú, sin nombre, furiosa substancia, 
    avidez subterránea, delirante.

    Golpean mi pecho tus fantasmas,
    despiertas a mi tacto,
    hielas mi frente,
    abres mis ojos.

    Percibo el mundo y te toco,
    substancia intocable,
    unidad de mi alma y de mi cuerpo,
    y contemplo el combate que combato
    y mis bodas de tierra.

    Nublan mis ojos imágenes opuestas,
    y las mismas imágenes
    otras, más profundas, las niegan, 
    ardiente balbuceo,
    aguas que se anega un agua más oculta y densa.
    En su húmeda tiniebla vida y muerte,
    quietud y movimiento, son lo mismo.

    Insiste, vencedora,
    porque tan sólo existo porque existes,
    y mi boca y mi lengua se formaron
    para decir tan sólo tu existencia
    y tus secretas sílabas, palabra
    impalpable y despótica,
    substancia de mi alma.

    Eres tan sólo un sueño,
    pero en ti sueña el mundo
    y su mudez habla con tus palabras.

    Rozo, al tocar tu pecho
    la eléctrica frontera de la vida,
    la tiniebla de sangre
    donde pacta la boca cruel y enamorada,
    ávida aún de destruir lo que ama
    y revivir lo que destruye,
    con el mundo, impasible
    y siempre idéntico a sí mismo,
    porque no se detiene en ninguna forma
    ni se demora sobre lo que engendra.

    Llévame, solitaria,
    llévame entre los sueños,
    llévame, madre mía,
    despiértame del todo, 
    hazme soñar tu sueño,
    unta mis ojos con aceite,
    para que al conocerte me conozca.

    

   [Calamidades y Milagros, 1937-1947]


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Sexta-feira, 18 de Abril de 2008

Aimé Cesaire (1913-2008)

Foto: Susan Wilcox (2001)

Poeta e dramaturgo africano de língua francesa (Basse-Pointe, Martinica, 25.6.1913 – Fort-de-France, 17.4.2008), um dos fundadores do movimento político-literário da «negritude». Companheiro de escola de Léopold Senghor (através de quem entra em contacto com os problemas de África), fundou, em 1934, L’Étudiant noir, onde pela primeira vez escritores negros formulam a sua recusa dos modelos ocidentais, interessando-se preferencialmente pelas tradições e modos de vida ancestrais dos seus países de origem. Regressou à Martinica natal em 1939, como professor, aí desenvolvendo a uma incessante actividade cultural e literária a que juntou sempre a acção política, tendo sido presidente da câmara de Fort-de-France (1945) e deputado (1946). Próximo do Partido Comunista Francês, com ele rompeu em 1956, fundando depois o Partido Progressista da Martinica.

Da sua obra salientam-se Corps perdu (1945), Cahier d’un retour au pays natal (1947), Soleil cou coupé (1948), Discours sur le colonialisme (1955, ensaio político), El les chiens se taisaient (1956, teatro), Ferrements (1959), Cadastre (1961), Toussaint Louverture (1962, ensaio histórico), La Tragédie du roi Christophe (1963, teatro), Une saison au Congo (1967, teatro), Une Tempête (1969, teatro), Moi, Laminaire (1982, teatro).

publicado por annualia às 12:55
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Edward Lorenz (1917-2008)

Edward LorenzMeteorologista e matemático americano que se tornou célebre pela sua «teoria do caos» (West Hartford, Connecticut, 1917 - Cambridge, Massachusets, 16.4.2008). Licenciado pelo Dartmouth College (1938) em Matemática, continuou os estudos em Harvard (1940) e doutorou-se em Metereologia no MIT (1948), onde fez a sua carreira docente e de investigação. Era Professor Emérito daquela instituição desde 1987. A noção de caos está associada à capacidade de predição, à noção de indeterminismo. Existem teorias do caos que se aplicam a vários campos em que, a partir de determinadas condições iniciais é impossível de esbelecer o mesmo tipo de evolução futura: é o caso da física, química, biologia, economia e meteorologia. Foi neste último domínio Edward Lorenz formulou (1963) a teoria do efeito borboleta que exprime bem o que pode ser considerada uma teoria do caos: basta que se gere turbulência por intermédio do bater das asas de uma borboleta para que o tempo que se fará sentir nos dias mais próximos se modifique por completo, ideia que está presente no título de uma conferência que proferiu em 1972: «Predictability: Does the Flap of a Butterfly’s Wings in Brazil Set Off a Tornado in Texas?»
publicado por annualia às 01:02
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